Paulo Gustavo
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Paulo Gustavo

Paulo Gustavo  morreu de Covid-19 na noite da última terça-feira (04) e deixa um legado para todos os humoristas. Em entrevista ao iG Queer, humoristas que se identificam como LGBTQIA+ comentam que a conquista de Paulo não fica restrita somente à imensidão de fãs e o sucesso na televisão, teatro e cinema. Ele conseguiu algo praticamente inédito, ser um homem assumidamente gay e, mesmo assim, ser querido pelos mais diversos grupos sociais.

Antes de Paulo Gustavo, Rogéria ficou conhecida como a "travesti da família brasileira". Além deles, nenhum outro membro da comunidade conquistou esse alcance. Marcelo Souza, o artista por trás da drag queen Suzy Brasil e de quem Paulo Gustavo tinha o costume de assistir aos shows de comédia, comenta que o marido de  Thales Bretas teve coragem de estar no Grupo Globo e não esconder a sexualidade dele. "O Paulo abriu um espaço que nenhum outro ator abriu", diz.

A comediante Cintia Rosini, que faz shows de stand up e integra o grupo formado apenas por humoristas LGBTQIA+ "Não Sou Obrigadx", concorda que Paulo Gustavo foi um pioneiro. "O fato dele ter o carinho e a aceitação do público foi essencial para a gente. As pessoas passaram a abrir a mente, aceitar e conhecer. Ele abriu um portal na cabeça de muitas pessoas que tinham preconceito", analisa.

É unanimidade para os humoristas ouvidos que uma das maiores conquistas profissionais de Paulo Gustavo foi conseguir chegar aos mais diferentes públicos sem precisar se esconder e falando sobre temas considerados polêmicos. "Por mais conservadoras que as pessoas fossem, todo mundo gostava do Paulo Gustavo. Ele tinha uma amplitude absurda que ninguém tem. Ele fez todo mundo rir", analisa a comediante e TikToker Ademara.

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A drag queen Suzy Brasil com Paulo Gustavo e Cintia Rosini
Reprodução/Instagram
A drag queen Suzy Brasil com Paulo Gustavo e Cintia Rosini

Parte da importância de Paulo Gustavo vem justamente desse trabalho, de conseguir levar assuntos relacionados à diversidade de gênero e de sexualidade para pessoas que não tinham contato com esses assuntos. "É incontestável o quão importante foi ele ser uma figura imensa da comunidade LGBTQIA+ em um mundo que as pessoas querem que a gente suma", continua Ademara.

Mesmo conseguindo esse feito, Paulo Gustavo não teve uma carreira sem críticas. Pouco antes do lançamento de "Minha Mãe É Uma Peça 3", em 2019, o ator foi criticado porque não haveria um beijo gay na cena do casamento de um dos filhos de Dona Hermínia. Na visão de Marcelo, o filme, que atraiu um público de milhões de espectadores, por si só já foi um trabalho importante para a causa LGBTQIA+ pelos temas trabalhados.

"Em tudo que ele fez na televisão, no teatro e no cinema ele militou, mas sem estar nas ruas com um cartaz. O trabalho de Paulo sempre foi representatividade e um grito a nosso favor", diz a drag queen. Babu Carreira, que se apresenta em shows de stand up e também faz parte do "Não Sou Obrigadx", concorda com a opinião do artista por trás de Suzy Brasil. "Ele basicamente fez um filme de drag queen", comenta e completa que Paulo Gustavo "poderia estar na luta com a gente, mas a luta é para cada um agir da maneira como quiser e ele conseguiu ser um rockstar do humor sendo exatamente do jeito que ele é".

As comediantes Ademara e Babu Carreira
Reprodução/Arquivo pessoal
As comediantes Ademara e Babu Carreira

Babu continua que a representatividade de Paulo Gustavo já era relevante apenas pelo fato do humorista não se esconder. "Eu não precisava de um pronunciamento oficial do Paulo Gustavo. Era só ver ele vivendo a vida dele, como um homem gay que se casou com um cara, teve dois filhos e que trouxe para a televisão brasileira o personagem gay afeminado. Todo mundo tinha um amigo assim e ninguém via ele na TV sendo bem representado, não sendo uma caricatura", diz.

"A importância do Paulo no humor é grande, mas a luta dele por visibilidade e aceitação é maior ainda. Nessa luta que a gente travou a vida inteira, ele é o cara que mais botou a cara no sol. Um ator assumidamente gay invadindo o Brasil inteiro e entrando na casa da tradicional família brasileira vestido de Dona Hermínia isso é um feito", opina Marcelo Souza. "Ele conquistou o coração do país que mais mata LGBTQIA+ no mundo e romper essa barreira foi a maior conquista dele enquanto humorista", completa Cintia Rosini.

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