Uma parceria entre um aplicativo de idiomas e o maior banco de currículos e vagas de trabalho para profissionais trans do Brasil está lançando um guia para inclusão linguística
de pessoas trans.
O documento apresenta recomendações de como se comunicar de forma respeitosa, valorizando as identidades de gênero de cada indivíduo.
O manual – que também apresenta uma espécie de glossário sobre questões de gênero e exemplos de como melhorar as interações com a comunidade trans – está disponível gratuitamente na Internet.
Assinado pela doutora em linguística Carmen Rosa Caldas-Coulthard, o guia explica como usar artigos e pronomes adequados, femininos para mulheres trans e travestis e masculinos para homens trans. O guia também sugere utilizar palavras terminadas em “e” para o caso das pessoas não binárias, como, por exemplo, substituir “professor” por “professore”.
O manual possui 25 páginas e traz também miniglossário que explica as principais diferenças entre alguns termos como “sexo”, “gênero social ou cultural”, “identidade de gênero”, “sexualidade”, “homem trans”, “mulher trans”, “não-binárias”. Há ainda uma rápida explicação sobre o significado de cada letra da sigla LGBT+
[sic].
“A opressão de gênero não é simplesmente refletida na linguagem, mas também é um resultado dela”, afirma Carmem. De acordo com a pesquisadora, o novo material foi elaborado e lançado para tentar aumentar a inclusão de pessoas trans e travestis – não só homens e mulheres, mas também as pessoas não-binárias – em todos os espaços sociais, como o trabalho, a escola e a universidade, centros religiosos.
Entre as indicações do manual, ele aponta que as mulheres trans devem ser chamadas e tratadas por substantivos, pronomes, adjetivos e advérbios que remetam ao feminino: “ela, sua, aquela, muita, pouca, mulher, acadêmica, madura, bonita etc”. E que os homens trans devem seguir o mesmo exemplo, mas remetendo ao masculino: “ele, seu, aquele, muito, pouco, homem, acadêmico”, médico, bonito etc”.
O guia foi elaborado em parceria com a Transempregos
, maior banco de currículos e vagas de trabalho para profissionais trans do Brasil. Maite Schneider, uma das fundadoras da plataforma, afirma que o lançamento do guia de linguagem inclusiva é mais um passo em direção à conscientização e da educação da sociedade e, consequentemente, do mercado corporativo.
Para ela, o guia deve ser utilizado pelos departamentos de recursos humanos (RH) das empresas, como forma de estipular uma cultura de inclusão e respeito nos ambientes de trabalho.
“Não adianta inserir a pessoa trans no mercado de trabalho sem antes sensibilizar a empresa e os colaboradores. É preciso haver uma capacitação do RH, bem como algum projeto de conscientização e inclusão para criar um ambiente onde a pessoa trans possa trabalhar com naturalidade”, afirma.
“Desde a fundação da TransEmpregos, atuamos com a capacitação das empresas contratantes com treinamentos oferecidos com base no nosso conhecimento, mas sem um manual linguístico que possa apoiar tanto empresas quanto colaboradores nesse processo. Nós acreditamos muito que, em breve, nossa atuação não será mais necessária, [em 15 anos] temos a esperança de que a consciência coletiva já deverá ter entendido que competência e talento não tem nada a ver com orientação sexual, credo, gênero e etnia. Mas por enquanto, faremos o nosso papel e o lançamento desse guia oferece mais suporte no processo”, diz Maite.