Cena do filme Virgindade, dirigido por Chico Lacerda, pela produtora Surto e Deslumbramento
Divulgação
Cena do filme Virgindade, dirigido por Chico Lacerda, pela produtora Surto e Deslumbramento

No Recife, uma produtora tem se destacado por fazer apenas filmes sobre temática LGBTQIA+. Entre os sucessos da Surto e Deslumbramento estão 14 curtas e um longa-metragem que circularam por diversos festivais nacionais e no mundo -- e recebendo prêmios.



Quatro amigos, estudantes de comunicação – André Antônio, Chico Lacerda, Fábio Ramalho e Rodrigo Almeida – se juntaram para fazer um videoclipe não oficial de uma música da funkeira Valesca Popozuda, mas acabaram criando uma produtora de cinema.

No site oficial da produtora, os integrantes do grupo afirmam que se juntaram para “abraçar elementos como o artificialismo, o lúdico, a paródia, o deboche, a viadagem, a pinta, o pop e a cultura de massa”.

“Inicialmente, a gente queria fazer um videoclipe não oficial da música 'Mama', mas deu errado. Até que André teve uma outra ideia que a gente poderia fazer em casa mesmo. Não como um videoclipe. Acabou sendo um filme que retrata uma noitada na casa da gente”, afirma Chico Lacerda, um dos quatro integrantes da produtora, sobre o primeiro filme lançado, que recebeu o mesmo nome da música de Valesca.

"Mama" retrata dois amigos gays de ressaca bebendo vinho e discutindo sobre a letra da música: “Mama, mama de verdade. Mama, me leva hoje pra sua cama. Eu preciso de você, és a luz do meu viver”. Em algumas versões, a cantora substitui a palavra “mama”, que faz referência ao sexo oral, por “me ama”.

O filme foi publicado no YouTube e teve uma boa repercussão. Desde então, a Surto e Deslumbramento não parou mais de criar. Na sequência. lançaram outros como “ Leona Assassina Vingativa 4 – Atrack em Paris ” (assista abaixo), que, apesar de ter sido gravado no Recife em apenas dois dias, narra a continuação da webnovela de Leona Vingativa , após uma viagem para a capital francesa.


“Quando a gente se juntou, todas as nossas ideias dialogavam de alguma forma. A maioria tinha a ver com temática [LGBTQIA+]. Todos os filmes têm um pé na cultura gay, uns mais diretamente e outros menos. Mas a gente está sempre falando da experiência da gente e, necessariamente, passa por isso”, diz Lacerda. “Apesar de ser um conteúdo muito ligado às experiências pessoais, parece que faz sentido para outras pessoas".

Entre as principais inspirações do grupo estão cineastas do Cinema Underground Americano de 1960, como Andy Warhol, sempre buscando elementos lúdicos e artificiais para contar histórias. Para o grupo, havia, em 2012, uma forma de fazer cinema no Brasil que eles não gostavam e da qual tentaram se distanciar.

“Nós nos conhecemos em um cineclube, quando fazíamos pós-gradução em cinema. Era natural que a gente assistisse a muitos filmes. E víamos que havia uma maneira muito realista e minimalista de fazer cinema, algo quase como uma filmagem da vida real, como ela é. E também havia uma abordagem política meio ditática”, diz Lacerda.

Lacerda acha que que o cenário está muito mais diverso do que era em 2012 para o cinema. "Com a pandemia, deu uma parada de forma geral. Mas eu vi uma mudança muito grande no cinema nacional”, afirma Larcerda.

A logomarca da produtora é um unicórnio pintado nas cores do arco-iris
Divulgação
A logomarca da produtora é um unicórnio pintado nas cores do arco-iris



Para o produtor, a Surto e Deslumbramento e outros produtores que fazem filmes do gênero, o conservadorismo crescente na política nacional talvez atrapalhe, mas não a ponto de impedir que novos filmes sejam gravados.

“De 2012 para cá, teve um movimento que cresceu das pessoas comuns fazendo seus filmes, pela popularização da tecnologia, da internet. E me parece que, apesar do governo atual, que iniciou ataques para quebrar essa produção direcionada a questões LGBT, não é mais possível parar. Uma vez que as pessoas tiveram contato com essa forma de expressão, mesmo que com  dificuldade, não dá para parar. As pessoas vão fazer cinema da forma que der”, afirma Lacerda. “A produção independente encontra, desde o início, formas de se viabilizar”, diz.

Até hoje, os filmes da Surto e Deslumbramento já foram exibios e premiados em festivais nacionais e pelo o mundo, como o "New York Queer Experimental Film Festival", "BFI Flare: London LGBT Film Festival", "Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo", "Mostra do Filme Livre", "Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro", "Recifest", "Festcine" e a "Mostra de Cinema de Tiradentes".

Em 2021, o grupo deve finalizar duas produções: "Vênus de Nike", uma ficção que conta a história de um paciente que explora os fetiches no psicólogo; e "Sonhos", que foi filmado antes da pandemia e conta a história de um documentarista que dorme com a câmera para tentar filmar os sonhos e fazer um filme com eles. Além dos dois, outras duas obras devem ser iniciadas também neste ano.

Assista a alguns dos filmes da Surto e Deslumbramento:

Você viu?

Eternamente Elza

Virgindade



Casa Forte



    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!