Thiessa ficou muito abalada depois que o motorista do Uber se negou
Reprodução/Youtube 12.05.2023
Thiessa ficou muito abalada depois que o motorista do Uber se negou "a levar um traveco"

Não é a primeira vez e provavelmente não será a última que eu sofri  algum tipo de transfobia na minha vida, mas a gente continua sendo resistência por mais que sempre ser forte seja cansativo.

No último dia 3 de maio, uma quarta-feira, eu acordei cedo e saí de casa para fazer exames de sangue de rotina. Estava muito animada. Os dois dias que antecederam essa fatídica data foram muito difíceis para mim, então eu tinha levantado bem disposta para viver e pensava que o dia estava sorrindo para mim. Ao chegar à clínica tudo estava correndo bem e consegui fazer a coleta do sangue.

Pedi um carro pelo  aplicativo da Uber para voltar para casa e, quando o motorista chegou, eu me aproximei do carro, tentei abrir a porta e percebi que ela estava trancada. Achei aquilo muito estranho, coloquei a cabeça na janela do carona para entender o que estava acontecendo e ele me falou, do nada, “ eu não levo traveco ” e arrancou com o carro.

Isso me doeu muito! Em pleno 2023 isso ainda acontece sem qualquer tipo de razão. Eu fiquei muito atordoada, só consegui raciocinar direito quando cheguei em casa. É muito louco isso... por quê? Por que a minha existência incomoda? Nem o meu dinheiro serve para ele.

Quando isso aconteceu, eu expus a situação nas minhas redes sociais e todo mundo perguntava “ mas como ele sabia que você é trans ”, porém nem eu não sei... realmente não sei. A gente não conversou. O motorista cancelou a corrida, fez um comentário e saiu em disparada. A Uber chegou a entrar em contato comigo, tive um feedback positivo, me pediram meus dados, meu nome da conta, email e eu expliquei toda a situação.   

Estou cansada disso... não foi a primeira transfobia que eu sofri na mesma semana, então isso me abalou demais. Tive crises de choro e fiquei por alguns dias remoendo essa história toda.

Por mais que isso tenha acontecido, isso não diminui a mulher que eu sou. Desde que comecei a minha transição eu entendi que teria de passar por situações complicadas porque falta amor no coração das pessoas, empatia e compaixão. Mas não é porque falta que eu tenho de deixar de ser quem eu sou ou deixar de ter  orgulho da mulher que sou. Tenho isso muito claro na minha cabeça, por mais que essa situação tenha me abalado. Obviamente que eu vou me abalar porque não sou de ferro, mas eu continuo aqui.

Se eu pudesse deixar um recado para todas vocês, mulheres trans, seria: “Tenham orgulho da mulher que vocês são”. A gente é foda, resistência. A nossa vivência é, por si só, uma resistência.

A gente está aqui e resiste a muita coisa. Nós resistimos a um sistema que é contra a gente e isso não nos faz menos, seja uma mulher trans ou uma pessoa que merece respeito. A gente continua. O que importa é que a gente goste da gente, que a gente se ame e se aceite.

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