Olá! Sejam bem-vindes a mais uma edição da minha coluna no iG Queer
. Meu nome é Bruno Ferreira, eu sou especialista em diversidade, equidade e inclusão, Linkedin Top Voice e... trabalhador.
Ao redor do mundo, a data de primeiro de maio é reservada para se pensar sobre as relações de trabalho, se mobilizar pelos direitos das pessoas trabalhadoras e para celebrar nossas conquistas coletivas.
Mas quando colocamos uma lupa na relação entre a comunidade LGBTQIA+ e o mercado de trabalho, há o que se comemorar?
Por um lado, pela primeira vez na história, o mundo do trabalho está olhando mais atentamente para a diversidade, equidade e inclusão, com a pauta integrando o core business
de algumas das principais organizações.
Como nunca antes visto, as empresas estão investindo em políticas que impactam diretamente o cotidiano de profissionais gays, lésbicas, bissexuais, transgênero e não-bináries.
Dentro das empresas, iniciativas como vagas e mentorias afirmativas, treinamentos de educação inclusiva, grupos de afinidade e campanhas focadas em visibilidade e representatividade LGBTQIA+ têm sido cada vez mais frequentes.
Por outro lado, as estatísticas que acompanham a nossa comunidade no universo corporativo ainda demonstram o tamanho do desafio que precisamos enfrentar. Principalmente porque uma parte significativa da nossa comunidade sequer faz parte do mercado formal.
De acordo com dados da ANTRA, apenas 4% da população de mulheres transgênero, transexuais e travestis no Brasil contam com um emprego formal, com 90% das demais encontrando na prostituição a única fonte de renda.
Mas apesar de ser a população mais vulnerável social e financeiramente dentro da nossa comunidade, as pessoas trans não são as únicas que enfrentam dificuldades no mercado de trabalho.
Uma pesquisa recém-publicada do Grupo Croma revela que seis em cada dez pessoas LGBTQIA+ relataram dificuldades em ingressar no mercado de trabalho, ainda que percebam as empresas mais acolhedoras para suas identidades do que no passado.
Os motivos são diversos e vão desde o cenário econômico do país até o fato de que 38% das empresas revelaram que possuem restrições para contratarem pessoas LGBTQIA+, de acordo com a pesquisa “Demitindo Preconceitos”, da Santo Caos.
Os desafios também não se encerram depois que ingressamos no mundo corporativo.
Segundo a mesma pesquisa, 40% dos profissionais LGBTQIA+ afirmaram que já sofreram discriminação em seus locais de trabalho, diretamente através de assédio e de comentários ofensivos ou indiretamente através de microagressões, isolamento funcional e negativa de benefícios ou promoções.
Essas barreiras enfrentadas por profissionais LGBTQIA+ nas empresas dificultam, quando não impedem, sua ascensão profissional. É por isso que calcula-se que somente 8% das lideranças das empresas sejam pessoas LGBTQIA+ (Pesquisa GPTW).
Felizmente, tem muita gente boa trabalhando para mudar essa realidade, como o projeto “Transempregos”, que conecta profissionais trans a oportunidades profissionais, e o “Fórum de Empresas e Direitos LGBT+” que há dez anos mobiliza empresas para serem atuantes na agenda dos direitos humanos da comunidade LGBTQIA+.
E é por esses exemplos que eu afirmo que sim, nesse primeiro de maio temos o que comemorar. Mas sempre de olhos abertos e mãos atuantes para continuar criando um mundo do trabalho que não nos discrimine, isole ou exclua.