Revirar o guarda-roupa e encontrar aquela peça antiga que há tempos não é usada torna-se um fenômeno na vida de qualquer pessoa. Diante dessa situação, uma das primeiras perguntas que chegam à mente das pessoas é: ainda dá para usar? Se servir, sim. Mas além da numeração correta, existem outras formas de reinserir uma peça no dia a dia, o que inclui, em determinados casos, reformá-las ou customizá-las. Para entender como isso pode ser feito, o iG Queer conversou com algumas especialistas no assunto.
Elisa Kohl, consultora de imagem e estilo, começa dizendo que, mais do que se certificar se a peça ainda serve ou está em condições de ser usada, é importante avaliar o quanto ela ainda faz parte da proposta de cada indivíduo em termos de composição de look.
“Deve-se ter em mente se ainda faz sentido utilizar a peça ou considerar o descarte sustentável para ela”, explica. “Primeiro: se é uma peça desgastada, pode ser o momento de descarte. Depois, analise se ainda cabe no seu estilo, na sua rotina, se ainda tem uma função no seu guarda-roupa e que tipo de apego você tem a ela. Tudo isso porque, fora o descarte sustentável, manter essa peça e customizá-la ou reutilizá-la de alguma maneira pode gerar custo, então é importante ter certeza de que vale a pena”.
Ana Luiza Medeiros, também consultora de estilo, reforça a importância de se conhecer e de compreender as próprias demandas com relação à vestimenta na hora de fazer qualquer alteração no guarda-roupa em geral, o que inclui pegar as peças antigas e tomar alguma providência sobre elas.
“É preciso se conhecer, saber o próprio estilo, o que te valoriza e o que deseja realçar ou disfarçar. Pergunte-se: por que não estou usando essa peça? É por causa da cor? É por causa do caimento? Do tecido? Será que já não usei muito? É por causa desse detalhe na manga que não gosto? Em resumo, faça uma verdadeira análise para entender o que te incomoda nesta peça ao ponto de te impedir de usá-la”, orienta.
Após isso, a especialista dá a dica de tentar resgatar a forma como se usava essa peça antes e reformular a proposta: “Por exemplo, se você tinha o hábito de usar uma camisa sempre combinando com apenas dois tipos de calça, tente usar com uma peça nova, seja um shorts, uma calça mais larga, um blazer, e por aí vai. Então antes de tomar uma decisão sobre o que fazer com a roupa, pense na possibilidade dela ser usada sem alterações, mas em propostas diferentes”.
Ela acrescenta ainda que, nos casos em que a peça não funciona mais ou não há forma de customizar que agrade, vale repassá-la para alguém que possa se interessar. Fazer isso, ao ver da especialista, também é uma forma de reaproveitamento: “Caso você tenha um amigo ou parente que vista um manequim semelhante ao seu, nada impede de dar a peça para a pessoa. Acho um gesto muito legal porque é uma oportunidade de tentar algo novo sem gastar nada e de repente ajudar alguém a encontrar novos estilos. Também há a possibilidade de doação para instituições que atendem idosos, crianças, pessoas em vulnerabilidade e em situação de rua, que é muito importante e deve ser considerado sempre”.
Opções de customização
Uma vez que o desejo é manter a peça para si e torná-la mais interessante e útil dentro do próprio estilo, existem algumas formas de customização que podem funcionar bem, tanto para quem deseja fazer isso em casa quanto para os que têm a possibilidade de contratar serviços externos.
“Podemos pensar em bordados, colagem, pinturas e outras formas de trazer essa peça a uso novamente”, comenta Elisa Kohl. Ela reitera a importância de identificar se a roupa em questão ainda funciona para quem a possui, pois trabalhar em um processo de customização, por mais simples e caseiro que seja, tem uma demanda.
“O processo precisa ser bem pensado”, salienta. “Existe um investimento por trás. Além disso, se a pessoa vai dedicar um tempo à customização dessa peça ela precisa voltar ao guarda-roupa com novas possibilidades de uso. Um método que foge da customização caseira por ser mais caro, mas que pode ser usado por quem tiver condições, é o upcycling, que consiste em transformar a peça – fazer uma jaqueta virar uma saia, por exemplo”.
Ana Luiza Medeiros, por sua vez, parte do princípio de que a customização é uma ideia interessante de reaproveitamento de peças, mas depende muito do estilo de cada pessoa. “Quem tem uma pegada mais dramática ou criativa vai conseguir customizar com mais facilidade, mas para quem tem um estilo elegante ou clássico pode ser mais difícil – porém é válido da mesma forma”.
“Existem métodos simples e outros mais complexos”, continua a especialista. “Acredito que até a forma menos complicada pode tornar-se um desafio, porque o ideal seria que a pessoa soubesse ao menos dar um ponto simples de costura. A partir disso, é possível fazer várias coisas, como trocar os botões de uma camisa – que já faz diferença. Também há a possibilidade de retirar aplicações [formatos, desenhos e imagens prontas (de bordados e até mesmo de paetês), que podem ser aplicadas em muitos tipos diferentes de tecido], mas recomendo que, mesmo que essa técnica possa ser feita em casa, procure um profissional especializado”.
O reaproveitamento e os looks agênero
Ao serem questionadas sobre a possibilidade do reaproveitamento e customização de peças auxiliar na composição de looks agênero, ambas as fontes responderam de maneira positiva e fizeram considerações que vão desde a forma como esse look é pensado até de que maneira a peça em questão pode ser reinserida neste novo contexto.
Para Elisa Kohl, “tudo depende do estilo da pessoa”. “O próprio universo das roupas femininas está se distanciando do conceito de peças que marcam o corpo, então existem jeans que vêm com cortes mais largos e oversizes que podem transitar por diferentes propostas em conjunto aos acessórios e peças adicionais”, explica. “Entre as novas formas de uso das roupas, é preciso fazer sentido para quem está vestindo, porque enquanto alguns se adaptam bem, outros não gostam de sair demais do tradicional”.
Sobre as formas de se aproveitar uma peça em looks agênero, Ana Luiza Medeiros pontua especialmente o uso de acessórios e roupas que funcionam como coringa, ou seja, que podem ser aplicadas em diferentes composições e manejadas para se adequar a propostas distintas.
“Levando em consideração as pessoas que estão passando por uma transição de gênero ou que são gênero-fluido e variam a forma de se vestir, funciona muito bem ter roupas de corte reto e variar na composição, seja com um cinto, um colar, brincos, salto alto etc. Tudo isso dá mais vida e possibilidade de uso às peças que a pessoa já tem, sem deixar de lado o bem-estar”, finaliza.
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