Maya Massafera após o processo de transição de gênero
Reprodução/Instagram
Maya Massafera após o processo de transição de gênero

Na quinta-feira (9), a youtuber, apresentadora e produtora de moda Maya Massafera  publicou pela primeira vez fotos após sua transição de gênero. Com a legenda “Prazer, Maya!”, a influencer registrou oficialmente o nascimento de uma nova fase em sua vida na internet, com o corpo com o qual se sente mais confortável e que a representa como a mulher que é.

O processo de transição de gênero é particular para cada pessoa , sendo um longo processo de entendimento sobre o que é necessário para se firmar como uma pessoa trans na sociedade. Dentre as formas de buscar pela maior aceitação do próprio corpo e lutar contra a disforia corporal, a medicina avançou nos procedimentos de redesignação de gênero, válidos tanto para homens como para mulheres transexuais.

O processo cirúrgico para adequação de gênero é feito em diversas etapas. Rodrigo Itocazo, cirurgião plástico e especialista em modificações corporais em pessoas trans, lista quais são os principais procedimentos realizados para readequação de gênero:

Para mulheres trans

  • Genitoplastia feminizante (redesignação genital)
  • Feminização de face
  • Mamoplastia de aumento
  • Redução do Pomo de Adão
  • Cirurgia de cintura e quadril
  • Glotoplastia (aumento do timbre da voz)

Para homens trans:

  • Masculinização do tórax (mastectomia)
  • Masculinização da face/pescoço
  • Metoidioplastia (avançar o clitóris hipertrofiado para formar um pênis)
  • Histerectomia (retirada do útero)

Procedimento único para cada pessoa

A adequação de gênero deve levar em conta o corpo da pessoa, sendo sempre um conjunto de cirurgias específicas para cada indivíduo. “Aspectos personalizados devem ser considerados para que se tenha o melhor resultado e os menores riscos, para aquela determinada pessoa”, afirma Rodrigo.

O urologista especialista em cirurgias de redesignação sexual e Chefe do Departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Ubirajara Barroso Jr., afirma que cerca de 70% das mulheres trans optam por fazer a genitoplastia feminizante, enquanto cerca de 35% dos homens trans optam por fazer procedimentos de adequação.

“Não necessariamente uma pessoa transgênero precisa fazer a cirurgia de redesignação sexual ou qualquer modificação em seu corpo. Esse procedimento deve ser uma escolha particular e o paciente precisa estar ciente de que se trata de um procedimento irreversível”, afirma o urologista.

Procedimentos para mulheres trans

Nos casos cirúrgicos de afirmação genital para mulheres trans, Rodrigo explica que geralmente é usada uma técnica chamada inversão peniana. Esta técnica é considerada a melhor opção, de acordo com as diretrizes médicas, mas em casos onde não é possível, outras técnicas, como a utilização de partes do intestino ou enxertos, podem ser consideradas. A cirurgia envolve a criação do canal vaginal, remoção dos testículos, formação de um clitóris, encurtamento da uretra e utilização da pele do escroto para os grandes lábios.

“A recuperação após cirurgia pode ser bastante variável, dependendo da técnica aplicada. No caso da técnica de inversão, a recuperação inicial exige repouso relativo e cuidados específicos de higienização e utilização de molde no canal vaginal. A paciente, geralmente, recebe alta hospitalar entre o terceiro e quinto dias após a cirurgia, sem sonda de urina, sem drenos, andando com cuidado e ajuda para apoio”, explica o cirurgião plástico.

Ele continua: “Nas semanas seguintes, iniciará sessões de dilatação do canal vaginal e manterá repouso de esforços físicos até completar dois meses. As dilatações nesse período podem cursar incômodo ou dor e exigem bastante aplicação da paciente para aumentar a profundidade e a largura do canal vaginal. Há expectativa de que o canal vaginal atinja profundidades de 8 cm a 16 cm, com diâmetros entre 3,8 cm e 4,5cm. São dimensões muito maiores do que a vagina da mulher cisgênero, muito devido ao fato do novo canal vaginal apresentar menor elasticidade do que a mucosa da vagina na mulher cis.”

Segundo o médico, as dilações devem ser realizadas até o sexto mês após o procedimento. Somente depois deste período está liberado o canal vaginal para se ter relações sexuais. Ubirajara completa o colega de profissão e afirma  que cerca de 60% a 70% das mulheres trans alcançam o orgasmo com a cirurgia afirmativa de gênero. “A sensibilidade e a forma de prazer se tornarão apenas diferentes daquela antes da cirurgia e isso deve ser esclarecido para a paciente antes do procedimento”.

Procedimentos para homens trans

Ubirajara explica que a adequação de gênero no caso de homens trans que têm clitóris e vagina, a cirurgia pode ser feita de duas maneiras principais: metoidioplastia e neofaloplastia. A metoidioplastia é mais comum e envolve separar o clitóris das estruturas ao redor, corrigindo a curvatura genital e criando uma nova uretra, muitas vezes usando tecido da boca para isso. Não deixa cicatrizes visíveis. 

“Nós realizamos a mobilização dos corpos cavernosos, que consiste em separar a parte interna dos corpos cavernosos que está imersa no períneo, colada ao osso da bacia. Isso pode permitir a confecção de um falo de maior comprimento”, afirma.

Já a neofaloplastia é um procedimento mais complexo realizado com tecido do antebraço, pele abdominal, perna, ou outros tecidos, com vantagens e desvantagens para o paciente. “Na cirurgia de faloplastia a vantagem é que esse procedimento possibilita adquirir um falo de bom tamanho, a desvantagem é que para a penetração será necessário o uso de prótese peniana. Além disso, a sensibilidade é reduzida em alguns casos”.

O urologista explica que a metoidioplastia, ainda que seja um procedimento mais comum, acaba deixando um pênis pequeno, o que impossibilita a penetração. Entretanto, a neofaloplastia é um estudo que ainda está em desenvolvimento.

Cirurgia no Brasil

No Brasil, existem diferentes regras para a cirurgia de afirmação de gênero, dependendo do sistema de saúde. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo a  Portaria do Ministério da Saúde nº 2.803 de 2013, é necessário passar por acompanhamento de uma equipe de profissionais de saúde por dois anos e ter mais de 21 anos para fazer a cirurgia. 

Fora do SUS, como em clínicas particulares, o período de acompanhamento é de um ano e a idade mínima é de 18 anos, conforme estabelecido pela Resolução nº 2.265/2019 do CFM. 

Na Saúde Suplementar, a cobertura para a cirurgia é determinada pelo Parecer Técnico da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) nº 26/GEAS/GGRAS/DIPRO/2021, que diz: “os beneficiários transgênero ou com incongruência de gênero, com diagnóstico de transtornos da identidade sexual (CID10 F.64) terão assegurada a cobertura de alguns dos procedimentos que se encontram listados no rol vigente e não possuem diretriz de utilização, uma vez indicados pelo seu médico assistente”.

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