Quatro décadas depois dos primeiros casos de Aids registrados no mundo, o seu diagnóstico ainda é recebido com estigmas . Entender as bases desse preconceito estrutural que, mesmo com tantos avanços, inviabiliza vidas para ressignificar, por meio do humor, a forma como se lida com a doença são os pontos de partida da comédia “Sentença de Vida”. O espetáculo faz curtíssima temporada no Teatro Firjan Sesi, no centro do Rio de Janeiro, de 4 a 19 de dezembro, segundas e terças, às 19h.
A direção da peça é de Gilberto Gawronski, que também divide o palco com Clarisse Derzié Luz e a Drag Queen Suzy Brasil. A peça integra as ações pelo país referente ao Dezembro Vermelho, campanha que chama a atenção para as medidas de prevenção, assistência e promoção dos direitos das pessoas que vivem com HIV/Aids e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
A montagem inédita acompanha a jornada da médica infectologista Marcia Rachid, símbolo no tratamento da Aids/HIV no Brasil, tendo como base o seu livro homônimo, que descreve como foi viver, ao longo de mais de trinta anos, o impacto e os desdobramentos causados pela epidemia. A doutora é uma das fundadoras do Grupo Pela Vidda , um dos mais atuantes no país dedicado à valorização, integração e dignidade das pessoas que vivem com HIV/Aids.
Na elaboração desenvolvida por Gilberto, a encenação, mergulhada na estética da cultura queer, se entrelaça a um roteiro dividido em quadros, que remete ao do teatro de revista.
“A ideia é explorar o poder de ressignificação que o teatro tem. Queremos quebrar esse paradigma incapacitante com arte a partir da capacidade da Marcia de comover com suas histórias, mas também mostrar que o momento hoje é outro. A peça contamina o espectador de esperanças e de forças para transpor seus obstáculos. Os episódios narrados são histórias carregadas de sonhos, muito além de um olhar sobre uma epidemia e uma época marcada por medo e preconceito. E todas têm em comum o olhar sensível e humano de uma mulher que nos faz, sobretudo, acreditar na vida”, explica o diretor e ator Gilberto.
Na encenação, os contos selecionados da obra de Marcia servem como fio condutor e ligação para a apresentação de textos curtos de dramaturgia de prevenção criados por Aderbal Freire-Filho, Emmanuel Nogueira, Flávio Marinho e Tim Rescala, que integram a publicação “Aids e Teatro”, organizado por Daniel Sousa e Marta Porto com prefácio de Dráuzio Varella.
“Estamos em uma outra perspectiva em comparação a montagens como “Philadelfia” e “Angels in America”. Aquilo foi um período e já houve uma mudança. Não uma mudança total, pois a Aids ainda é vista por muitos como uma doença de gente promíscua, o que talvez ainda dificulte maiores investimentos em pesquisa para a sua cura. Veja a Covid-19, por exemplo, e o tempo que levou para já termos uma vacina. Por outro lado, e ainda assim, várias pessoas alcançaram um lugar de vida. O diagnóstico positivo deu a elas uma dimensão de busca por qualidade de vida, prevenção e cuidado”, analisa o diretor.
Além disso, a peça também presta uma homenagem a Lorna Washington , recentemente falecida e figura ímpar no histórico do combate ao preconceito ao portador de HIV e figura emblemática nos primórdios do surgimento da epidemia no país.
SERVIÇO
Data:
4 a 19 de dezembro
Onde:
Teatro Firjan Sesi Centro — Avenida Graça Aranha, 1 — Centro, Rio de Janeiro
Quando:
segundas e terças-feiras
Horário:
às 19h
Ingressos:
R$ 15 a R$ 30; compre aqui
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