Gabriel Lodi, Omo Afefe, padre Julio Lancellotti, Daniel Veiga e Leo Moreira Sá em cena do curta “São Marino”, dirigido por Leide Jacob
Rosa Caldeira/Divulgação
Gabriel Lodi, Omo Afefe, padre Julio Lancellotti, Daniel Veiga e Leo Moreira Sá em cena do curta “São Marino”, dirigido por Leide Jacob

O padre Julio Lancellotti tem sofrido ataques que ele definiou como "um massacre" desde que narrou o curta-metragem "São Marino", que traz santa Marina como uma figura LGBTQIAPN+. Contudo, o pároco declara que não vê a figura religiosa dessa forma: "Nunca falei que a santa era LGBT. A minha narração é a oficial da história de santa Marina", disse Julio à coluna Mônica Bergamo da Folha de São Paulo.

A Arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota criticando o projeto na semana passada.  Santa Marina era uma jovem órfã de mãe que precisou ingressar em um mosteiro disfarçada de monge para continuar a viver com o pai. O segredo só foi descoberto após a sua morte, segundo a arquidiocese.

Ainda segundo a Igreja, santa Marina foi falsamente acusada de ter engravidado uma jovem: "Podendo defender-se, revelando que, na verdade, era uma mulher, ela silenciou, suportando a provação da calúnia e humilhações, unindo-as aos sofrimentos de Cristo".


O curta "São Marino" utiliza a história da santa para discutir questões contemporâneas vividas por pessoas transgêneros.

"O documentário que vai fazer as suas interpretações, que não são minhas. O que eu relato é a vida oficial dela. De que ela, sendo uma mulher, assumiu a identidade masculina para ser monge, entrou como Marino no mosteiro e só depois de morta foi reconhecida [mulher]", afirmou Julio Lancellotti à coluna.

"Eu não falei nada diferente disso [da história relatada pela Igreja Católica]. O que fica sendo veiculado é que 'padre narra história de santa trans'. No tempo dela não existia essa nomenclatura e é difícil aplicá-la hoje. Existe um fato concreto, que é relido por determinados grupos", disse.

O padre já está habituado a constantes críticas por suas posições progressistas e ações em defesa de pessoas em situação de vulnerabilidade social, porém ele afirmou que desta vez os ataques se intensificaram "com uma crueldade virulenta e desumana".

"Eu imagino que, quando santa Marina foi acusada de ser o pai da criança, ela sentiu essa mesma violência, a ponto de ter sido expulsa do mosteiro. Ela morreu ao relento de maus tratos e de serviços cruéis, ela não sobreviveu. E nunca se defendeu", disse o padre, que se vê em situação semelhante a da santa.

"Quanto mais católicos se dizem, quanto mais religiosos se dizem, mais cruéis são nas críticas. São críticas e ameaças violentas. Fazem afirmações para desqualificar, destruir o ser humano. Eu tenho sentido nesses dias o que sentiu santa Marina: ser acusado sem poder se defender [...] A única coisa que procuro é que se diga a verdade", finaliza o padre.

A diretora do curta, Leide Jacob, endossou a versão do padre à coluna da Folha de São Paulo: "O padre Julio apenas narrou a história que a própria Igreja divulga. A ressignificação da santa em santo é feita pelo filme, não pela narração. O padre Julio narrou, ouviu, acolheu os personagens, como todo padre deveria fazer".

"O tema é muito polêmico porque a Igreja, e a maioria de nossa sociedade, não reconhece o corpo trans, a identidade trans. Para a Igreja e para a sociedade, o que vale é o aspecto biológico. Há muito preconceito", afirmou ainda a cineasta.


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