Os cabelos são fundamentais quando se fala em autoestima
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Os cabelos são fundamentais quando se fala em autoestima


Não há dúvidas que o cabelo é um elemento muito importante quando se fala sobre autoestima. Mantê-los bem cuidados e saudáveis é um dos fatores que contribui para que os indivíduos se sintam mais confortáveis com a própria aparência. Tendo em vista isso, é possível levantar este debate acerca de pessoas trans, que podem sentir desconforto com algum aspecto corporal. Este é o caso da cantora Jade Naiad, mulher trans que recorreu ao transplante capilar.

“Eu era muito traumatizada, ficava nervosa por ele [o cabelo] crescer ralinho, ou pelas pontas não estarem tão cheias e volumosas, e eu cortava ele frequentemente, quase como uma válvula de escape para conseguir ver ele cheio e bonito após a escova. Antes desse caso, eu sempre tive muito esmero com ele, tanto que a minha primeira formação profissional foi como cabeleireira, justamente para aprender a deixar ele o mais belo e formoso e glamoroso possível”, conta ela. 

As expectativas de Jade antes do transplante eram bem altas. De acordo com ela, isso mudaria totalmente a forma como se relacionaria com o próprio cabelo. “Poder fazer um penteado sem ter aquela área nas laterais calvas, que deixava até com as falhas, minha região da franja, sem ter aquela insegurança de alguém olhar e perceber que estava ficando careca. Isso me causava desconforto nos locais e no espelho. Quando eu lavava o cabelo e via aquele desenho visivelmente masculinizado da minha hairline, e aquela rarefação que poderia vir a piorar a qualquer momento”, explica ela.

João Gabriel Nunes, tricologista responsável pelo transplante capilar de Jade, descreve ao iG Queer como o procedimento se aplicou à cantora. Ele diz que a paciente tem uma calvície difusa de padrão feminino, atualmente estável com protocolo de tratamento. Nela foram feitas correções de entradas e feminilização, fechando e baixando um pouco a linha natural na frente do cabelo.

"Foi utilizada a área doadora de toda parte de trás e laterais para reconstruir a nova linha frontal. A extração do transplante é feita fio-a-fio com punch de 0,8 mm e profundidade de 3 mm, utilizamos a menor lâmina do mercado para que todas as incisões sejam minimamente visíveis e trazendo acabamento 100% natural. Respeitamos a naturalidade da linha frontal que ela ainda possui e angulações de todos os fios residuais, sendo assim, praticamente ficará imperceptível. Ela vai usar o cabelo da forma que sempre quis, com a liberdade de deixar crescer e cortar quando quiser”, esclarece. 

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O tricologista explica ainda que, no caso de mulheres trans que realizam terapia hormonal, o comportamento dos cabelos pode mudar. João Gabriel ainda afirma que é muito comum a mulher trans use o estrogênio e esse hormônio beneficia a qualidade do fio. A reposição de hormônio feminino inibe a produção de testosterona, que é um ‘combustível’ para calvície. Ao ser questionado pelo iG Queer se é necessário raspar o cabelo antes de realizar o procedimento, Nunes deixa claro que cada caso é um caso.

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“Todo caso precisa ser analisado de acordo com a necessidade. No caso da Jade, optamos por raspar globalmente, refazer as entradas e rebaixar cerca de 1 cm a linha frontal”. 

O profissional ainda reconhece o quanto o transplante contribui ativamente para a manutenção da autoestima da mulher trans. “O cabelo tem uma simbologia muito importante para elas e entendemos isso, por isso, cuidamos desde o início para que suas dúvidas e expectativas sejam alcançadas. A realização dos nossos pacientes é nossa maior alegria e motivação”. 

Sobre a preparação antes do procedimento, Jade compartilhou alguns detalhes com o iG Queer. Ela conta que teve de se adaptar desde o final do ano passado para o fato que teria que raspar a cabeça, pois em seu diagnóstico não tinha muito o que fazer, não dava para preservar as áreas, pois ela tinha muitas falhas de cabelo e essas regiões ficariam ainda mais falhadas com o tempo.

"Tive que entender que ao menos momentaneamente eu ficaria careca, e está tudo bem, isso não é um problema. Porém, quanto mais perto estava chegando do dia, mais ansiosa eu ficava e menos eu conseguia dormir, mas mantinha os pensamentos que o melhor e o mais difícil eu já tinha conseguido, que é a própria cirurgia em si. Foquei muito no positivo”, declara. 

De acordo com ela, ter acesso a este tipo de recurso infelizmente não é algo generalizado dentro da comunidade trans brasileira. “Essa realidade ainda é muito pequena para a maioria das pessoas trans, pois as condições de trabalho para nossa população ainda são bem precárias, muitas se encontram em situação de rua e procuram, infelizmente, por procedimentos muitas vezes clandestinos, pois é o que elas conseguem ter acesso financeiramente”, pontua.

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