Jovem se inspira em Linn da Quebrada e tatua o pronome 'ele' na testa

DJ e fotógrafo Yuri Viana fez a arte por se identificar com a história de vida da artista e participante do 'BBB 22'

Jovem se inspirou na tatuagem 'Ela', que Linn fez no rosto
Foto: Reprodução/Yuri Lucas Viana
Jovem se inspirou na tatuagem 'Ela', que Linn fez no rosto

No ápice da coragem e do desejo simples — mas pouco respeitado — de ser chamado pelo pronome masculino, o DJ e fotógrafo Yuri Lucas Viana tatuou a palavra “ele” na testa, inspirado na artista Linn da Quebrada.

Declarando se identificar com a história de vida da participante do BBB e com as lutas diárias da comunidade trans por visibilidade, o rapaz, de 25 anos, ganhou as redes sociais ao divulgar que a mais nova e importante marca em sua pele serve para reafirmar ao mundo e para si mesmo quem é Yuri: um homem.

Com mais de 100 mil curtidas e 2 mil comentários no Twitter, a publicação feita nesta sexta-feira gerou comoção entre os internautas, mas também críticas e comentários de que o paranaense, de Foz do Iguaçu, “não iria conseguir arrumar emprego”.

Sem se deixar abalar pelas ofensas, Yuri contou, em entrevista ao GLOBO, que só guarda na memória o momento em que se olhou no espelho e viu o pronome eternizado acima da sobrancelha. Sem palavras, as lágrimas ficaram encarregadas de traduzir a emoção.

"A primeira coisa que eu fiz foi chorar, porque significa muito. Para muita gente vai parecer só um pronome, mas a tatuagem carrega a minha história, todo o processo de autoconhecimento. Quando eu disse que ela é a tatuagem mais importante da minha vida, é porque representa todos os momentos em que pensei em desistir, mas ainda assim segui reafirmando quem sou e quem eu posso ser", disse.

O processo de transição de gênero do DJ começou em 2015, quando ele entendeu com clareza que o que sentia na infância era disforia — quando a pessoa passa a ter uma percepção de que tem um sexo diferente do corpo. Há sete anos usando o nome social Yuri Lucas e explicando diariamente às pessoas como quer ser chamado, ele conta que ainda é alvo de transfobia, inclusive da própria mãe, assim como Lina do BBB.


"Minha mãe e minha irmã sempre me chamam no feminino e no trabalho acontece também. Como estou com o público, sempre alguém se refere a mim como “ela”. E a tatuagem surgiu porque eu conheço a artista incrível que é a Lina desde antes do BBB, ela me transmite força e coragem. Eu vejo muito de mim na Lina e muito dela em mim, por isso me inspirei e tatuei o “ele”", contou.

Todas as vezes em que seu gênero é desconsiderado pelas pessoas, Yuri relata se sentir angustiado por ter que travar batalhas internas e externas contra o apagamento da sua história enquanto um homem transexual.

Ao recordar dos episódios preconceituosos que Linn da Quebrada viveu estando reclusa há quase um mês na casa do Big Brother Brasil com apenas 20 pessoas, ele diz que talvez a tatuagem não seja o suficiente para que o tratem com respeito, mas que é uma forma de resistência.

"Dói bastante. Eu sempre lutei muito para não me importar com os sentimentos de fora, mas é quase impossível. Quando a gente sabe quem a gente é, nada mais importa, mas é dolorido. Para muitas pessoas parecem pouco, mas meu nome e a forma como me chamam representa tudo o que eu enfrentei para conseguir hoje ser Yuri", afirma.

Apesar das circunstâncias, Yuri Lucas não se limita à dor. Este mês ele iniciou o processo de retificação do nome e o próximo sonho é desbravar o mundo com a arte que produz através da música e da fotografia.