Guilherme Bernardes nasceu em Olímpia, interior de São Paulo, e desde pequeno era muito influenciado pela família para estar próximo da música sertaneja. Aos 13 anos, ele formou uma dupla com o irmão Gabriel e saíram fazendo shows pelas cidades do interior. Aos 18 anos, Guilherme já tinha lançado um EP com o irmão e nessa mesma época, começou a se conhecer um pouco melhor.
Já aos 19, compreendeu que era hora de seguir a carreira sozinho e começou a performar como drag queen, dando origem à persona artística: Reddy Allor – que foi influenciada pela popularização de Pabllo Vittar. Apesar de ter tentado entrar na indústria pop, o coração sempre bateu mais forte pelo sertanejo, porém via-se sem referência devido à ausência de pessoas LGBTQIAP+ nesse meio. Atualmente, o objetivo de Reddy Allor, que criou o movimento QueerNejo, é promover cada vez mais a presença de pessoas que fogem do padrão cis-hétero normativo dentro do gênero musical.
Questionada sobre como a receptividade do meio sertanejo funciona com a comunidade LGBTQ+ atualmente, Reddy conta que é um processo gradual, mas que a presença crescente de mulheres se destacando no gênero nesses últimos anos é um bom impulsionador, apesar da LGBTfobia estrutural ser um grande empecilho.
“A receptividade não é tão ampla ainda. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. O sertanejo é um segmento fechado para pessoas da sigla. A maioria das referências ainda são padronizadas. Com o surgimento de pessoas na cena, aos poucos estamos fazendo com que essa receptividade cresça. Um exemplo legal que seguimos é do próprio feminejo, popularizado pelas cantoras Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, Simone e Simaria, entre outras. Ele surgiu quando ainda havia poucas mulheres e hoje enxergamos como uma porta para as pessoas LGBTQIA+ se sentissem confortáveis, surgindo, assim, o QueerNejo. Considerando que o machismo é bastante enraizado no sertanejo, ver mulheres cantando sobre suas realidades no Brasil fez com que outras pessoas que são apagadas se sentissem conectadas com elas. O preconceito estrutural com pessoas LGBTQIA+ é reproduzido sem pensar, por isso dificulta nossa entrada de pessoas da cena”, explica.
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De acordo com ela, a importância de ter uma referência em todos os espaços possíveis torna fundamental a presença de pessoas LGBT no meio sertanejo, principalmente levando-se em consideração que este é um ambiente majoritariamente cis-hétero. “Para a chegada de cada vez mais pessoas que se identifiquem com a sigla, é importantíssimo ter representatividade e referência. Eu não tive esta referência, e quero servir de luz para quem quiser nos seguir", avisa. "Pessoas padrão, que se identificam com seu gênero e possuem uma orientação heteronormativa não sabem a dificuldade que é um LGBTQIA+ chegar em lugares de protagonismo. O mundo está evoluindo e dando mais espaço para as minorias, não seria diferente no segmento. O sertanejo é o gênero musical mais consumido do Brasil, atinge todas as pessoas e precisa estar atento às mudanças da sociedade, à existência e importância LGBTQIA+”, declara.
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Ao ser questionada pelo iG Queer sobre como a iniciativa do QueerNejo funciona, Reddy Allor destaca que esse movimento começou por meio das redes sociais e prioriza principalmente a ausência de segregação, seja ela qual for.
“Por meio das redes sociais, fundamos o movimento QueerNejo, que é muito mais sobre identificação. Não é um movimento que segrega as pessoas, mas integra todos os players da sigla. Assim como o feminejo, começou e foi crescendo em uma proporção que não poderia mais controlar. Fui a pioneira no movimento e hoje temos personalidades como Gabeu, Sabrina Angel, Alice Marcone, Gali Galó, Bemti, Zerzil, Mel e Kaleb, entre outros”, conta.
A cantora aproveita ainda para pontuar que as principais barreiras pelas quais a iniciativa passa é principalmente o preconceito reproduzido de maneira constante e orgânica. Para ela, abrir a mente e estar cada vez mais ciente de que tudo precisa evoluir é essencial.
“Existem muitas barreiras ainda, como o preconceito produzido irracionalmente – é o principal deles. Com o movimento que visa unir e representar o segmento, estamos conseguindo superar as barreiras dia após dia. Não é fácil, ainda existe muita LGBTfobia, sobretudo a homofobia também - fomentado por piadinhas, por exemplo. Nosso trabalho é conscientizar sobre este comportamento e nos mantermos firmes no propósito. Existem formas de abordar assuntos sem ter que ofender as outras pessoas. Precisamos de evolução e abrir a cabeça para outros pensamentos, estamos evoluindo, em constante evolução. Em um ano, por exemplo, conseguimos enxergar essa evolução”.
Quando questionada sobre quais são os próximos passos dessa luta para que a presença LGBT dentro da música sertaneja seja notória, Reddy comenta que tanto os cantores quanto os produtores e patrocinadores precisam se abrir para a causa, e destaca que, apesar de tudo, a confiança de um futuro mais inclusivo permanece. “Mesmo sem entender, os players do sertanejo precisam dar espaço para a sigla LGBTQIA+, bem como produtores, patrocinadores e grandes artistas. Estamos confiantes que com persistência e união, nosso esforço vai dar certo e cada vez mais veremos a diversidade ser aceita no nosso segmento”.