Felipe Cabral divulgou nesta segunda-feira (20) imagens de várias páginas de seu livro rasgadas.
Reprodução / Instagram
Felipe Cabral divulgou nesta segunda-feira (20) imagens de várias páginas de seu livro rasgadas.

Nesta segunda-feira (20) o escritor Felipe Cabral denunciou em seu Instagram um caso de preconceito, que envolve o seu livro “O Primeiro Beijo de Romeu”. Na publicação, ele compartilhou uma imagem, enviada por uma seguidora adolescente, de várias páginas rasgadas, acompanhadas de uma fita para remendar os pedaços. Ao lado da foto, ela escreveu a seguinte mensagem: "Que mãe boa a que eu tenho hein”. 

Felipe Cabral ficou assombrado quando recebeu a mensagem e desabafou nas redes sociais. Segundo ele, a jovem havia entrado em contato há poucos dias, divulgando um trecho que havia lido. “Há poucos dias, essa mesma pessoa (é adolescente) tinha compartilhado comigo a foto de um trecho do livro super feliz! Estava com um marcador da @galerarecord do “Leia com orgulho”, o que me fez pensar que nem tinha comprado o livro escondido. E agora isso”, relata.


“O Primeiro Beijo de Romeu” foi publicado em novembro pela Galera Record, primeira obra brasileira de uma grande editora com dois homens se beijando na capa. A história foi inspirada na tentativa de censura que ocorreu na Bienal do Livro em 2019. Na época, o então prefeito Marcelo Crivella mandou que fiscais recolhessem todas as edições do gibi "Vingadores - A Cruzada das Crianças", que continha a imagem de um casal gay aos beijos. 

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Ao IG Queer, o autor conta que já no processo de elaboração do livro ele esperava que poderiam ocorrer ataques e críticas negativas. "Eu e a minha editora sempre soubemos que o beijo na capa era uma decisão que implicaria em várias coisas. Desde reações preconceituosas, por parte de pessoas que poderiam não gostar do beijo estampado. Ou de adolescentes que pudessem se sentir envergonhados em levar o livro para casa, por conta de familiares homofóbicos”, explica. 

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Ele revela que foi um choque quando recebeu a foto. “A imagem do meu livro rasgado me impactou demais. E levei um susto porque é um gesto muito violento, a minha própria mãe comentou comigo que, além do livro, a filha também foi rasgada. E eu fiquei muito mexido com essa imagem porque o meu livro fala sobre censura. O personagem tem o seu livro censurado na Bienal por causa da ilustração de um beijo de dois meninos, um personagem que eu me identifiquei muito, que eu pude colocar muito de mim ali. Ele atravessa o livro lutando contra a censura e ele verbaliza o quanto é doloroso para ele ver o livro dele ser censurado. E ontem quando eu olhei aquela imagem eu me senti na pele do personagem. O livro perturbou aquela mãe a ponto dela rasgar o livro da própria filha, como se o livro fosse algo perigoso para a família”, desabafa. 

Sobre a adolescente que teve o livro rasgado, o escritor comenta que o fato abriu algumas feridas da comunidade LGBTQIA+, principalmente dos jovens, que ainda estão se descobrindo. “Isso me relembrou dessas situações tristes que ainda ocorrem pelo nosso país e pelo mundo. Adolescentes LGBTs que não são acolhidos dentro da própria casa, que não são abraçados e aceitos pela própria família e o quanto isso é doloroso. Então eu fiquei bastante reflexivo com o que aconteceu. Eu nunca falei com um público tão jovem com o meu trabalho, e eu espero que os meus leitores e leitoras saibam que eles não estão sozinhos. E eu espero que todos os pais que achem que esse livro não é próprio para os seus filhos respirem fundo e escutem também. O livro não é uma afronta a ninguém, pelo contrário, ele prega muito amor, amor à literatura, à valorização do amor das famílias, das relações pais e filhos, do poder que os livros têm”, pontua. 

Felipe enviou uma nova publicação para a jovem, mas para o endereço de uma amiga, que irá repassá-lo. “Eu acho que a minha maneira de ajudar é tendo escrito o livro e espalhado ele junto com a minha editora pelo país inteiro. Colocando esse beijo na capa, nas livrarias, celebrando ele na Bienal e mostrando que não tem nada de errado com as nossas histórias. O que eu posso dizer pros meus leitores sempre é que as coisas ficam bem depois. Que os nossos pais podem demorar um tempo para nos aceitarem, mas que a gente também pode depois com o tempo conquistar a nossa independência financeira e cuidar da nossa vida. Podemos procurar afeto onde conseguirmos encontrar seja na comunidade LGBTQIA+, nos círculos de amizade. Faço para que meus leitores saibam que tem gente lutando para que o mundo se torne um lugar melhor”, finaliza. 

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