Marco Pigossi tornou sexualidade pública ao posta foto com o namorado
Reprodução/Instagram
Marco Pigossi tornou sexualidade pública ao posta foto com o namorado

O nome do ator Marco Pigossi ganhou notoriedade nas redes sociais na última semana. Isto porque, na última quinta-feira (25),  Pigossi assumiu o relacionamento com o diretor italiano Marco Cavani nos stories do Instagram. Na legenda, ele mesmo fez piada da “saída do armário”: “Chocando um total de zero pessoas”.

A sexualidade de Pigossi não era bem uma novidade. Isso porque, nos bastidores, a orientação afetivo-sexual do ator era conhecida. No entanto, essa é a primeira vez que ele leva esse assunto à público. O psicólogo Claudio Picazio explica que isso não quer dizer que o ator “vivia no armário”, mas não era assumido socialmente, o que são coisas completamente diferentes.

Não demorou até que a “saída do armário” ao público se tornasse notícia e ganhasse repercussão na internet. Muitas pessoas comemoraram o relacionamento e a sexualidade do ator, que foi ao Instagram neste sábado (27) para agradecer as manifestações de carinho . “Que a discussão se faça cada vez mais presente e mais natural. Que o amor seja cada vez mais forte. Afinal, sabemos que o ódio vem do medo. Medo do diferente e do novo. Que não tenhamos mais medo de existir”, escreveu.

No entanto, alguns comentários maldosos foram feitos em relação ao Pigossi pela própria comunidade LGBTQIA+. Frases como “já era tempo” ou “todo mundo já sabia” também apareceram, e tinham como intenção invalidar o momento do ator.

“A internet é terra de ninguém, e esse comportamento do deboche das pessoas em relação ao Pigossi é como os outros deboches que a gente vê. Na internet, sempre há uma depreciação das coisas boas que as pessoas fazem ou têm”, explica Claudio.

Os comentários de deboche feitos por outras pessoas indicam para o profissional um sinal de inveja. “Se uma pessoa carrega um piano nas costas, outras aparecem dizendo que o melhor mesmo é carregar dois. Ao querer algo para si que o outro tem, sempre depreciamos os feitos positivos do outro”, pontua.

Em relação aos homens gays essa falta de empatia pode ser maior, na visão de Claudio. “Infelizmente, a comunidade gay, às vezes, não abraça a causa do outro porque todo mundo teve seu ato heróico, seja por se assumir ou por enfrentar sozinho familiares. Então, como não teve muito apoio e todo mundo é um pouco herói de si, os gays também querem que o outro seja herói dele”, pondera o psicólogo.

Ele continua explicando que pessoas LGBTQIA+, assim como todas as outras pessoas, são solidárias com as outras, da mesma forma que também podem ficar mexidas por um sentimento negativo. Isso pode incluir a inveja.

Se assumir LGBTQIA+ pode ter peso diferente para pessoas públicas

Claudio diz que é importante lembrar os impactos da saída do armário para atores gays, principalmente os que são vistos como galãs.

“Se pararmos para pensar em Hollywood e na televisão, vemos que os diretores, os estúdios e as emissoras pedem para que os atores não declarem suas homossexualidades, por isso faz com que eles deixem de fazer o papel de galã, como se isso significasse que a plateia não se convenceria mais caso aquele ator fizesse um papel hétero”, afirma Claudio.

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Essa pressão não é somente exercida sobre atores gays, mas para toda comunidade. Um dos exemplos mais recentes nesse sentido é o da atriz  Kristen Stewart, que afirmou ter sido aconselhada a esconder sua sexualidade porque, caso contrário, ela teria dificuldade em encontrar papéis em Hollywood.

“Algumas pessoas se esconderam ao longo dos anos, e isso é tão claro que fica desconfortável. Me disseram: ‘Se você não fosse tão abertamente gay, você conseguiria alguns papéis maiores’”, contou Stewart em entrevista a Howard Stern. Outro notório exemplo em Hollywood é o ator Elliot Page, que demorou anos para se assumir -- primeiramente como lésbica e, depois, como um homem trans.

Ao passo que as pessoas públicas são pressionadas a ficarem no armário, o contrário também acontece: há uma grande pressão por parte da mídia ao especular a sexualidade ou a identidade de gênero de forma agressiva, o que pode ocasionar em uma saída forçada do armário. “Nós não sabemos a estrutura psíquica, a realidade dessas pessoas e elas têm contratos que podem ser perdidos caso saiam do armário”, adverte o psicólogo.

“Isso deve ser tratado com muito cuidado para não desestruturar uma pessoa.Não sabemos se podemos interromper a carreira de alguém, contribuir com uma depressão ou até incitar atitudes piores por forçar o outro a assumir alguma coisa para a qual ele não está pronto”, acrescenta Claudio.

Ter empatia é fundamental

Para Claudio, escolher tornar a orientação sexual ou a identidade de gênero pública tem uma carga de importância psíquica muito grande, já que isso permite que aquela pessoa possa se expressar socialmente com mais tranquilidade. Além disso, se normaliza as relações homoafetivas ou as identidades não heteronormativas.

No entanto, é preciso ter em mente que ninguém é obrigado a assumir sua orientação sexual. E mais: nem todas as pessoas estão em condições de vida de assumir ser uma pessoa LGBTQIA+. Isso porque nem todas as pessoas, principalmente jovens, têm a garantia de que estão em um ambiente acolhedor que aceita quem elas realmente são. Como resultado, muitas pessoas são expulsas de casa ou desenvolvem transtornos psicológicos.

“Quando a gente assume uma sexualidade para a família, isso deixa de ser um problema nosso e se torna um problema para eles. No entanto, a pessoa precisa pensar nas condições de vida dela. Se ela não tem esse lugar mais confortável, talvez ela possa repensar e analisar quando é a melhor hora”, sugere Claudio.

O psicólogo salienta que a melhor hora para sair do armário é o momento em que aquela pessoa quiser e se sentir confortável para isso. O momento escolhido (ou não escolhido) deve ser respeitado e não deve ser considerado menos válido ou importante.

“A gente não deve forçar que ninguém saia do armário porque não é a realidade de todo mundo. Não podemos desejar para o outro aquilo que foi para a gente. O nome disso é transferência. É preciso ter empatia: olhar pelos olhos o outro e ver o que é melhor para aquele outro, e entender que pode ser algo completamente diferente do que foi para nós”, finaliza.

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