Um advogado gay foi agredido física e verbalmente na fila de uma padaria no bairro do Sumarezinho, na Zona Oeste de São Paulo. Bruno Perdigão estava de fone de ouvido e não ouviu quando um homem teria pedido licença para passar. Bruno foi empurrado com força e ouviu que “seria ensinado a virar homem”. Foi a primeira vez que ele foi alvo de ataques homofóbicos.
Além da agressão no estabelecimento, a polícia se recusou a fazer o boletim de ocorrência. A padaria também negou colaborar com o caso do rapaz e tentou intermediar um pedido de desculpas entre ele e o agressor. Procurada pelo iG Queer, a padaria nega os acontecimentos e diz não ter nada a declarar.
O caso de agressão aconteceu no último dia 14, quinta-feira, na padaria Flor do Sumaré, localizada na Rua Heitor Penteado. O rapaz publicou um vídeo nas redes sociais relatando os acontecimento e conversou com o iG Queer por telefone.
Bruno explica que estava na fila dos bolos quando sentiu uma pessoa chegar atrás dele. “Eu estava de fone, então não sei se falaram comigo ou não. Do nada senti um soco, um empurrão”, conta no vídeo. Ele se assustou e se virou e olhou para o homem que realizou o ataque, que estava gritando e indo para cima dele. Ele afirma que o homem tinha estatura física, era grande, forte, careca e tinha tatuagens pelo corpo.
A vítima relata que o homem gritou que ele não tinha aprendido nada sobre a vida e que, se ele não aprendeu por bem e pelo amor, seria ensinado na dor. Na hora ele não entendeu o que aquilo quis dizer, mas conta na entrevista que o agressor se referia a “ensinar a ser homem”.
Bruno conta que não recebeu apoio de nenhum funcionário da padaria ou dos frequentadores. Posteriormente, ele foi ajudado por uma pessoa que, depois, descobriu ser moradora do mesmo prédio que ele. O agressor ameaçou Bruno e disse que esperaria por ele do lado de fora da padaria, o que fez com que ele chamasse a polícia.
“Passou a viatura e fui correndo atrás. Mostrei o cara, que estava por lá ainda, e falaram que estavam fazendo ronda procurando ele, que eu tinha que voltar para a padaria para esperar”, conta. Em nenhum momento, Bruno se identificou como advogado.
Bruno passou quatro horas no estabelecimento e suspeita que a polícia não tenha realizado a ronda para procurar o agressor, que não foi encontrado. Ele foi desencorajado pelos agentes que estavam no local a registrar um boletim de ocorrência. Desde 2019, violações de cunho LGBTfóbicas são consideradas criminosas e foram equiparadas ao racismo. “Falaram que eu teria que fazer o corpo de delito para fazer o BO, o que não é verdade, mas do jeito que estava concordei”.
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Falta de apoio da polícia
Bruno foi encaminhado para o 91º Distrito Policial de São Paulo. “A delegacia estava cheia e o delegado disse que tinha muita coisa para fazer, que não ia me atender. Na hora, falei que pra mim aquilo foi importante”, narra. Ao iG Queer, Bruno afirma que sentiu que os policiais estavam despreparados para atender sua queixa e auxiliá-lo.
Um outro profissional que estava presente na delegacia orientou Bruno a fazer o boletim de ocorrência on-line, que foi realizado por ele na Polícia Civil e na Polícia Militar. Ele pretende ir até o fim para que o caso se torne dado para conscientizar sobre a seriedade dos ataques.
“Eu sei da importância da gente divulgar. Na hora de divulgar a gente fica meio assim. Fiquei morrendo de vergonha ao gravar o vídeo, mas conversando com meus amigos achamos que seria o melhor. É o ideal porque alguma coisa tem que ser feita é justamente para tentar melhorar alguma coisa, para que não aconteça com outras pessoas”, conta.
Padaria se recusou a auxiliar rapaz
Bruno conta que tentou diversas vezes entrar em contato com a padaria para pedir cooperação com o caso, mas não conseguiu. No próprio dia 14, tanto ele como o policial pediram que a padaria reservasse as imagens de segurança. No entanto, o estabelecimento alega que o sistema das câmeras não está funcionando.
Na sexta-feira seguinte (15), Bruno voltou na padaria e perguntou se poderia ser ajudado de alguma outra forma e perguntou se algum dos funcionários poderia testemunhar a seu favor. Por WhatsApp, a equipe jurídica da padaria afirmou que “não tem obrigação” de fazer isso. “De fato eles não são obrigados legalmente, mas pensei que eles veriam nisso uma obrigação moral como cidadão”, diz Bruno.
Na segunda-feira (18), ele voltou à padaria e conversou com o gerente, que afirmou para Bruno ter visto o ocorrido e que não achou que se tratava de um caso de homofobia. A padaria também disse que poderia tentar intermediar um encontro entre ele e o agressor para que o homem pedisse desculpas. “Achei um absurdo. Não é pedir desculpa para mim, mas a padaria tá auxiliando que ele peça desculpas e não está me ajudando”.
“Fiquei muito revoltado com isso, com as posturas tanto da polícia como da padaria, que está sendo omissa. Como alguém entra na padaria deles, empurra outra pessoa e ninguém faz nada? Não se sentir nessa obrigação já mostra o caráter ou a falta de informação dessas pessoas sobre o que poderia ser feito”, acrescenta Bruno.
O iG Queer entrou em contato com a padaria Flor do Sumaré na última sexta-feira (22) e conversou com o gerente, que negou o acontecimento e afirmou que não viu o caso, já que estava de folga. Ele confirmou que o sistema de captação de imagem do local está com defeito. Questionado sobre os ataques, o gerente afirmou que o estabelecimento tende a não interferir em casos em que a agressão não está acontecendo contra um funcionário.
O gerente solicitou que a equipe tentasse contato novamente nesta segunda-feira (25) para um posicionamento oficial do dono da padaria, que não estava presente. Na ocasião, o gerente afirmou que não há mais nada a declarar sobre o caso.