A quantidade de possibilidades e opções presentes no mercado de sexshops -- principalmente com relação a brinquedos e acessórios -- é muito extensa. Há produtos para todos os gostos, fetiches, necessidades, corpos e sexualidades para tornar o ato sexual mais prazeroso para todos os envolvidos. Em se tratando da comunidade LGBTQIAP+, existem alguns itens que são mais procurados e acabam se destacando em número de vendas, como explica Luciana Suet, dona do sexshop Santo Desejo , que possui uma seção de produtos voltada para o público LGBTQIAP+.
“Em primeiro lugar, o dessensibilizante anal. Esse é um dos produtos mais procurados, principalmente pelos homens gays que realizam penetração anal. Lubrificante, géis funcionais de maneira geral e algumas próteses e vibradores também são bastante buscados, assim como os dados eróticos e as fantasias masculinas. A que mais sai é a de coelho, bombeiro e policial. O público LGBT compra muito mais fantasia masculina do que os homens heterossexuais porque eles acham que as mulheres vão achar cômico, então é mais difícil”, conta.
Tão importante quanto a alta procura é saber a funcionalidade de cada produto, se há alguma contraindicação ou se existem formas equivocadas de utilizá-los, assim o prazer estará sempre atrelado à segurança de todos os envolvidos. A psicosexóloga Renata Fornazzari destrinchou alguns dos produtos mais procurados pelo público LGBT para que seja possível compreender para que eles servem e como devem ser utilizados.
Géis e óleos
De acordo com a especialista, eles possuem funções específicas, como esquentar e esfriar, e alguns podem conter substâncias que estimulam e retardam o orgasmo com a finalidade de prolongar o ato sexual. Mas ela ressalta: “Como especialista, eu não recomendo o uso desses produtos, com exceção dos géis que sejam a base d'água. O mais recomendável é testá-los antes sem parceria envolvida para entender como sua sensibilidade atua com o produto. Vale também dar uma pesquisada na marca e verificar os selos de qualidade e se os produtos são devidamente certificados”.
Fantasias e acessórios
Para Renata, esses são aparatos que podem funcionar como bons recursos lúdicos para erotizar a relação. Ela destaca ainda que muitos praticantes de BDSM recorrem a esse recurso, mas pessoas que se atraem por estereótipos dominantes também aderem essa possibilidade. “É bem comum no público BDSM, que adora roupas em látex, capas e máscaras, mas esse tipo de fetiche e estereótipo dominatrix atrai a todos os gostos, principalmente aqueles que gostam de produzir looks eróticos para ocasiões especiais”.
Plugs anais
A psicosexóloga explica que os plugs possuem uma gama de tamanhos, materiais e formatos disponíveis no mercado. Ela conta que o uso desse recurso deve ser introduzido aos poucos para que cada um reconheça o que de fato lhe gera prazer. “Basicamente eles são feitos em formato de cone com uma base arredondada e plana, e ajudam na estimulação da região anal, aumentando os níveis de excitação. Para os curiosos vale conhecer um menorzinho primeiro e checar como se sente com o estímulo. Como ele possui uma ponta arredondada, não necessariamente precisa ser introduzido. Algumas pessoas se excitam muito mais com os estímulos externos do que com a penetração em si”.
Vibradores
Assim como os plugs, o mercado oferece muitas opções de vibradores. Renata conta que, no caso de casais de mulheres lésbicas e cisgênero, o uso dos vibradores duplos que estimulam as duas ao mesmo tempo é bastante comum, assim como os “straps ons”, que são cintas com pênis. Em contrapartida, ela ressalta que os mais populares acabam sendo os bullets. “São pequenos e hoje já podem ser carregados por USB. Eles têm um formato aproximado de um batom e embora sejam muito comuns para estimulação clitoriana nas mulheres cis, alguns homens cis também adoram receber os estímulos vibratórios na região do períneo, ali entre o testículo e o ânus. Os bullets são excelentes no aumento da excitação”, explica Renata.
(continue a leitura logo abaixo)
Leia Também
Após conhecer as funções de cada produto, é importante inseri-lo na rotina sexual com segurança e de maneira coerente, para que os envolvidos possam aproveitar o ato de modo igualmente prazeroso, além, é claro, da masturbação com brinquedos que também é bastante comum. Renata começa explicando que é importante que as pessoas reconheçam o brinquedo sexual como mecanismo por meio do qual os indivíduos adquirem prazer.
Leia Também
“É necessário compreender que os brinquedos devem ser usados como uma forma de satisfação e não para gozar e relaxar simplesmente, de forma mecânica. Os acessórios devem ser vistos como uma forma de obtenção de prazer e não como descarga. E para isso precisamos de tempo e de estar relaxados”, diz.
Luciana Suet ressalta ainda que os brinquedos sexuais são importantíssimos para a liberdade sexual das pessoas e existe um movimento de desconstrução da imagem do sexshop como algo pesado e pecaminoso, bem como as próprias discussões sobre sexo, prazer individual e prazer entre os casais está se reformulando para que as pessoas vejam os brinquedos sexuais como aliados na conquista de prazer, principamente no caso das mulheres, que são estrutural e sexualmente reprimidas.
“Por que os brinquedos são importantes para a liberdade, especialmente para a mulher? Porque muitas mulheres nunca tiveram um orgasmo na vida, isso em nível mundial. Elas não conhecem o próprio corpo na maior parte das vezes porque não são incentivadas a se tocar desde criança. Não é visto como bonito fazer isso. Crescemos assim, então desconstruir é difícil. Nesse caso, o brinquedo é importante porque ajuda a mulher a se conhecer e identificar suas zonas erógenas, o que lhe dá prazer e como sentir esse prazer”, relata.
Uma vez que se reconhece a importância e a verdadeira função dos brinquedos para que sejam inseridos de maneira saudável e eficaz, deve-se atentar também para questões mais técnicas dos cuidados, especialmente com relação à higiene. Renata conta quais são as principais preocupações nesse aspecto e ao que é importante estar atento.
“Antes e depois de utilizar qualquer produto, é necessário garantir que ele esteja devidamente limpo e desinfetado. Existem produtos específicos para higienização destes brinquedos e que são vendidos também em sexshop. Mas é sempre bom ficar de olho. Alguns produtos não permitem higienização e devem ser descartados. A reutilização pode causar fungos, bactérias e até infecções mais graves. Dividir os brinquedos também pode ser um problema. Em uma relação de parceria ou parcerias, o ideal é que cada um tenha o seu brinquedo e que todos estejam devidamente protegidos com preservativos”, orienta.
No que diz respeito ao uso dos brinquedos entre casais, a psicosexóloga explica que os brinquedos ajudam na vida sexual dos indivíduos, mas não devem ser colocados inteiramente como protagonistas, e sim como potencializadores do prazer compartilhado entre os envolvidos.
“Quando falamos de casal, a parceria deve estender-se à cama e à sexualidade de cada um. Brinquedos eróticos ajudam as parcerias a conhecerem melhor o que cada parte gosta e permite que ambas possam desfrutar do prazer sexual com cumplicidade. Vale mencionar que nem sempre os desejos coincidem, e naqueles dias em que uma parte está mais a fim que a outra, é possível recorrer ao acessório sem culpa e até contar com a ajuda da parceria, pode ser bem divertido. Só não vale fazer dele algo imprescindível nessa relação. O ideal é deixar para aqueles dias em que os estímulos precisam ser potencializados”, aconselha.