Psicólogo fala sobre a importância de ensinar crianças sobre diversidade

Alexandre de Souza Amorim lança um livro infantil que explica cada letra da sigla LGBTQIA+ e dedica a obra à sua filha, Sara

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'Um dia para orgulhar-se'


Duas crianças, Lucas e Sara, que vão para uma parada da diversidade com os pais da menina e descobrem o verdadeiro significado de diversidade. Os dois amiguinhos tiram suas dúvidas sobre o Dia do Orgulho, o que significa cada letra da sigla  LGBTQIA+ e o que é ser gay ou lésbica e homofobia.

Esse é o enredo do novo livro infantil do psicólogo Alexandre de Souza Amorim, “Um dia para orgulhar-se”, que é lançado neste domingo, 28. O objetivo da publicação é explicar elementos da comunidade LGBTQIA+ de forma simples e lúdica. A obra também possui um glossário com mais de 30 termos importantes ligados a sexualidade e gênero, como “ binarismo ”, “esteriótipo” e “nome social”.


“Perguntam para a minha filha ‘você tem dois pais?' e ‘eles são gays?’. Ela tinha algumas dúvidas em relação a isso. Quando a gente assiste 'RuPaul's Drag Race', ela vê as drags e adora, sabe o que é o lipsync, mas ela perguntava no início: ‘Por que ele se veste de mulher?’, ‘Por que está dançando agora?’, e a gente explicava. Então, o livro tem esse objetivo”, comenta o autor.

“Um dia para orgulhar-se” é a terceira publicação infantil de Alexandre, 35, que começou a escrever em 2016, quando ele e o marido, Renato, 34, com quem é casado há 10 anos, adotaram uma menina, Sara (como a personagem do livro), hoje com cinco anos de idade. “Eu gosto muito de ler e era algo que eu gostaria muito que a minha filha fizesse. Desde pequena, a Sara tinha livros de banho, livros de dormir, isso fazia e faz parte do universo infantil dela. Busquei livros direcionados para a nossa família, mas descobri que, em 2016, no Brasil, havia um número muito limitado”, diz Alexandre.

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O psicólogo Alexandre, lança seu terceiro livro infantil neste domingo, 28

O psicólogo chegou a conversar com outras famílias homoafetivas, que relataram também terem dificuldade para encontrar livros com histórias de família homoafetivas, monoparentais, sócio-afetivas, entre outras. Foi quando Alexandre decidiu escrever as histórias que iria ler para a filha e que os outros pais e mães poderiam usar. E, assim, lançou “O cavaleiro e o lobisomem”, em 2018, um dos primeiros contos de fada brasileiros com dois homens protagonistas.

“Naquela época, só havia um livro de conto de fadas com duas protagonistas mulheres, ‘A princesa e a costureira’, que é um ótimo livro, mas não tinha com dois homens. Então escrevi a história em que, no final, o príncipe acaba ficando com o cavaleiro e não com a princesa. E fiz de uma maneira muito sutil e cuidadosa, passando a mensagem que existe amor entre dois homens, entre duas pessoas do mesmo sexo”, conta o autor.

Apesar de ter escrito o livro em 2016, Alexandre só conseguiu lançá-lo em 2018, porque muitos editoras não quiseram publicá-lo. “Pode parecer fácil publicar, que as editoras aceitam, mas não é bem assim, para mim não foi. Fiz um conto de fadas sutil e delicado, mas ele foi recusado em várias editoras. Eu já estava quase desistindo de publicar quando encontrei uma editora com moças lésbicas que acolhem produções LGBT”, relata.

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O autor, Alexandre, sua filha, Sara, e o marido, Renato, lendo o livro 'Nós temos 2 super pais'

No ano seguinte, ele lançou “Nós Temos 2 Super Pais”, que conta a história de crianças filhas de dois pais homossexuais que são super-heróis. As crianças não sabem que os pais têm superpoderes, mas acreditam que eles são heróis por todo amor, cuidado e proteção que eles dão a elas.

“É importante para qualquer criança, de qualquer grupo, se ver representada positivamente. Não basta ser representado de forma estereotipada e negativa. Na maioria dos desenhos animados que a gente assiste na TV, os protagonistas são meninos, brancos. É difícil ser uma criança com deficiência, por exemplo. Elas são sempre coadjuvantes, sem muita importância, que nada fazem. Não são aquelas que salvam a princesa e matam o dragão. É muito importante o máximo de diversidade possível no universo infantil”, opina o escritor.

“Também é importante as crianças se verem representadas nesse universo de maneira comum, sem que isso seja problematizado. A história de uma princesa que salva um reino de um dragão faminto, só que essa princesa tem dois pais ou, no final, fica com outra princesa, sem que isso seja o foco do livro”, completa Alexandre. “No futuro, espero que a gente não precise mais de materiais específicos para falar sobre isso, que seja diluído. Hoje em dia já existe mais coisas sendo produzidas do que antes ”.

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Uma das ilustrações do livro 'Um dia para orgulhar-se'

Mesmo já havendo mais produções preocupadas em representar a diversidade, o psicólogo afirma que a maioria dos elementos que existem, hoje, para as crianças ainda ensinam uma visão de mundo normativa e com preconceitos.

"Quando perguntam por que falar com as crianças tão cedo sobre isso [sexualidade e gênero], respondo que já é falado com elas cedo há muito tempo. A partir do momento em que mais de 90% dos desenhos animados são protagonizados por personagens brancos, estão falando de racismo para as crianças. Peguei o exemplo do racismo porque eu acho que fica bem evidente”, argumenta.

O livro “Um dia para orgulhar-se” será lançado em uma live no Instagram @familiasbrasileirasdiversas, às 20h30. Ele pode ser comprado no site da Metanoia Editora, sob o selo  “Crianças Diversas”, e custa R$ 35 . As ilustrações foram feitas pelo Studio Bonnie & Clyde.