Rodolffo foi acusado de homofobia dentro do programa
Reprodução/TV Globo
Rodolffo foi acusado de homofobia dentro do programa


Rodolffo foi indicado ao Paredão pelo líder Gilberto  com a justificativa de que a sequência de atitudes homofóbicas do cantor sertanejo dentro do programa foram motivadoras para o voto. Para ele, a gota d'água foi o comentário dele sobre uma camisa longa de Fiuk, que ele comentou sobre a peça enviada ao artista de forma pejorativa, que se assemelhava a um vestido.

"Foi em tom pejorativo e não brincando. Isso pegou em um ponto para mim que sou homem gay. Qualquer deslize mínimo que eu tinha, alguém vinha e pejorava. Aquilo ficou na minha cabeça o dia todo e me incomodou durante a noite inteira. Eu não conseguia pensar, não ficaria bem se não votasse nele", justificou Gil sobre a indicação.




Além da situação com Fiuk,  Rodolffo já havia sido criticado por atitudes homofóbicas contra Gilberto. Desde o começo do programa, o cantor não concorda com o modo de reagir e implicou também com o carinho entre Lucas Penteado e Gilberto durante a festa Holi no "Big Brother Brasil". Reunimos cinco momentos em que Rodolffo teve atitudes consideradas homofóbicas:





Segundo a psicóloga Narrina Ramos, especialista em atendimento para LGBTs, os comentários de Rodolffo podem sim ser considerados homofobia. "Por mais sutil que pareça, comentários disfarçados de 'piadinhas' ou meras comparações, como Rodolffo fez sobre homens de vestido nas festas de Goiás, centro-oeste do país que é conhecido por seu conservadorismo, configuram o que costuma ser chamado LGBTfobia recreativa, algo que parece inofensivo, mas carrega uma ideologia normativa, rechaçatória, que causa desconforto e sofrimento aos sujeitos da comunidade LGBT", diz. 

Alguns espectadores não entenderam o porquê de Gil não ter reagido às provocações de Rodolffo, alegando que ele não havia entendido. Contudo para Narrina, ele precisou ser validado por Fiuk para dar o devido peso para a fala.

"Alguém aguenta rebater tudo o tempo todo? Acho que não. Às vezes, só existir enquanto sujeito não-normativo (não-branco e LGBT) já é suficientemente cansativo", afirma.

Segundo o filósofo e pesquisador com as temáticas de gênero, sexualidade, corpo e tecnologia Ali Prando, Rodolffo pratica homolesbotransfobia. Isso significa que quando o cantor sai de um ambiente onde João ou Gilberto estão, ele pratica uma homolesbotransfobia simbólica, que é como se ele não suportasse a presença daqueles corpos/subjetividades que diferem da sua expectativa masculinista.

"Em outro episódio, ele chegou a dizer que, para ele, Gil estaria 'na reta da sniper', uma metáfora poderosa que serve para compreender qual é o desejo do homem heterossexual cisgênero racializado enquanto branco aqui no Brasil, país que mais mata pessoas LGBTs no mundo todo", afirma. "Em outras ocasiões, Rodolffo fez 'piadas' sobre o cabelo e roupas de Fiuk ou as roupas que a produção envia para os participantes em festas. Essas piadas são as mesmas que - arrisco dizer - todas as pessoas LGBTs já ouviram ao longo da vida. São elas que minam as potências desses individuos e fazem com que esses não acessem o reconhecimento de suas humanidades. Curioso notar que Fiuk não é uma pessoa LGBT, mas por portar em seu corpo códigos de dissidência - mesmo que muito pequenos - ele sofre discriminação do hétero que segue a cartilha do estereótipo de 'machão'", descreve.

Para a também psicóloga Érika Almeida, mesmo que Fiuk seja heterossexual, Rodolffo utilizou da homofobia para discriminar a vestimenta dele. "O sertanejo usou de um público para discriminar a forma como Fiuk se expressa por meio da vestimenta, além de fazer uma suposta ameaça caso chegasse de tal forma a um ambiente, que no caso é o local onde mora [Goiás]", disserta.

"É importante questionar também se a pessoa que visualiza a homofobia está se sentindo segura para pontuar, até porque vivemos em um país onde a discriminação existe e muitos possuem medo de sofrer agressões físicas e psicológicas", aponta Érika.

Sobre Gilberto não se posicionar na hora, Érika diz que LGBTs não são os únicos que devem se posicionar. "Gilberto não estava sozinho e outras pessoas também não se posicionaram, então a responsabilidade não é apenas do gay que não o enfrentou, mas dos outros que também viram e também se silenciaram", diz.

Para Ali, a ausência de representações positivas LGBTQIA+ na criação de Gilberto, pode tê-lo feito demorar para reconhecer a homofobia. O filósofo declara que é muito comum que pessoas LGBTs se sintam culpadas por seus desejos, expressões e identidades dissidentes. Ele afirma que o mundo não é convidativo às denúncias quando somos espectadores de misoginia, racismo e homolesbotransfobia.

"Existe um grande pacto de masculinidade e heteronormatividade que insiste em colocar as pessoas LGBTs no lugar de aniquilamento de suas subjetividades e silenciamento de suas demandas e questões, então esse indivíduo se sente culpado, isolado e excluído da possibilidade de ser reconhecido enquanto 'humano'", acredita. 

O iG Queer também procurou a equipe e familiares de Rodolffo para comentar sobre as declarações e atitudes do cantor, mas eles preferiram não se pronunciar sobre o caso.

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