Quando coloca um vestido pink, cílios postiços, colar de pérolas, salto de 15 cm e uma alta peruca rosa, Fernando Magrin, de 56 anos, ex-executivo de uma companhia aérea, se monta na divertida Mama Darling
. Vestida de rosa da cabeça aos pés, a drag surgiu no Carnaval de 2016, para a primeira edição do MinhoQueens
. O bloco, fundado por ela e Will Medeiros, reuniu, em 2020, 150 mil pessoas no centro de São Paulo e é considerado o primeiro a abordar a temática drag na cidade.
Apesar da pandemia, Mama Darling não vai deixar o Carnaval em branco. Nos dias 13, 20 e 27 de fevereiro, acontecerá o Festival MinhoQueens de Cultura Drag
que terá mais de 40 atrações drags e transgender
, como Pepita
, Lia Clark
e Rita Von Hunty
. O evento, idealizado por ela e os DJs Will Medeiros e Luis Giusti, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de SP, arrecadará doações para a Casa Florescer, organização que acolhe travestis e mulheres transexuais.
Para Mama Darling, o Carnaval, assim como o MinhoQueens, é mais do que uma festa e a comunidade LGBTQIA+ perde muito com a pandemia este ano. “Carnaval é um momento em que estamos nas ruas, mostrando para a sociedade que somos seres humanos. Beijo homem, beijo menina, mas não preciso tomar lâmpada na cabeça e nem pedra e nem ser xingado. Nos respeitem”.
“Acho triste não ter Carnaval por conta da pandemia, que é o mais seguro e o correto, porque esvazia um pouco. A comunidade sofreu muito com a pandemia, principalmente os mais novos, que ainda vivem com os pais. Eles não têm aquele momento de sair, de viver sua sexualidade plena dentro de uma boate, festa de rua ou até mesmo no Carnaval. Muita drag sofre também, porque não pode se montar na casa do pai da mãe e tem que fugir para casa da amiga”, explica.
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Ela também rebate as críticas negativas que são associadas ao Carnaval. "É uma festa que trás a visibilidade para a comunidade e mostra para a sociedade que a gente não é só aquele golden shower
que nosso digníssimo fez questão de compartilhar anos atrás. A gente também é uma festa colorida, diversa e inclusiva e isso vai fazer falta esse ano", explica, relembrando o episódio de 2019, quando Jair Bolsonaro publicou em seu Twitter um vídeo de duas pessoas fazendo atos obsenos na tentativa de "expor a verdade", em sua visão, sobre o Carnaval de rua.
Além disso, boa parte dos profissionais LGBTQIA + que trabalhavam no setor de eventos, como festas, boates e o próprio Carnaval foram afetados pela pandemia. Em meio a esta situação, o MinhoQueens contratou 100 profissionais da comunidade, em sua maioria mulheres trans, drag queens e drag kings para trabalhar no festival.
“A gente não é só festa, cada drag tem ali um profissional, uma pessoa. Ela pode trabalhar, ela não precisa só dublar. É importante que a sociedade aceite as drags, as travestis e trans em todos os lugares, não só no Carnaval. Elas precisam ter seus espaços de trabalho”, opina.
Mama Darling é referência de representatividade LGBQTIA+ no mercado corporativo: Fernando trabalhou durante 24 anos como executivo dentro de uma companhia aérea, fundou o comitê de diversidade e levava a Mama para apresentar eventos da empresa. “Todo mundo amava a Mama. Comprava peruca e vestidos nas minhas viagens à trabalho e mostrava para os colegas”, lembra.
Agora, após sair da empresa em 2020, Fernando quer focar na carreira artística da Mama e em novos projetos do MinhoQueens. Para Fernando, ele teve “uma história de final feliz” no ambiente de trabalho, mas sabe que não é a realidade de muitos.
Por isso, o coletivo quer criar a Casa MinhoQueens, um lugar de capacitação profissional de pessoas LGBTQIA+, com cursos e oficinas. “Quero ver muita empresa grande com trans, travesti e drag no seu quadro de funcionários. Que essas pessoas vivam o que eu vivi”.