Jesus esteve ao lado dos mais necessitados e foi condenado à morte
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Jesus esteve ao lado dos mais necessitados e foi condenado à morte

Eu queria começar meu texto fazendo uma pergunta: você conhece a história de Jesus? O que cresceu em Nazaré, lutou pelos direitos dos oprimidos e foi morto pelo Estado com o aval dos religiosos? 

Então, esse Jesus odeia Bolsonaro e eu vou explicar o porquê. Primeiro vamos entender um pouco sobre o personagem mais importante e famoso da nossa história.

Filho de um carpinteiro e uma dona de casa, Jesus cresceu em uma região explorada pelo império Romano, que roubava e escravizava os povos daquela região.

Jesus e sua família eram judeus. Então, ao mesmo tempo que o Estado massacrava os mais pobres, a religião punia quem não seguisse as leis de Deus. E essas leis eram bem severas e colocavam muitos à beira da sociedade por serem considerados impuros. Essas leis são descritas hoje no antigo testamento da Bíblia.

Indignado com tudo que vivia, Jesus resolveu então criar um novo conceito de religião. Na verdade, o filho de Maria e José queria criar um reino de Deus, no qual Deus era sinônimo de amor e não de castigo. Naquela época, a única maneira de se fazer política era através de reinos, então o que Jesus fez foi militar por um projeto político de acolhimento e amor aos mais oprimidos.

Ao longo de sua jornada, Jesus foi conquistando seguidores, que viam nele uma esperança de dias melhores. O filho de Deus não excluía ninguém. Sentava-se com as prostitutas, com os cobradores de impostos, com os leprosos e todos aqueles que a sociedade jogava à sua margem. 

Segundo o pesquisador Gerd Theissen, o reinado de Jesus é uma festa em família para aqueles que não têm família. Diante dos marginalizados e desprivilegiados, com Jesus Deus se mostra como pai provedor e não opressor. 

E a luta de Jesus não se limitava apenas ao império romano e aos fundamentalistas religiosos. O filho de Deus combatia também a elite da época, que se enriquecia às custas da miséria. Jesus utilizava muitas parábolas para conseguir se comunicar com o povo, que em sua maioria era analfabeto, mas na passagem em que ele diz ser mais fácil um camelo passar em uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus, ele estava sendo literal.

E quando chegou a Jerusalém, não foi diferente. Jesus entrou no templo, lugar sagrado por excelência em Israel, e se deparou com um comércio. O local que era para oração se tornou uma bolsa de valores da região, que quanto mais aumentava a procura dos produtos, mais caros ficavam, o que desfavorecia ainda mais os pobres. 

Neste momento, o homem calmo e sereno se transformou em um grande líder popular. Jesus entrou e derrubou barracas, jogou no chão produtos e gritou contra aqueles que usavam o templo de seu pai para fazer negócio.

Alguns estudiosos apontam esse acontecimento como a gota d'água para as autoridades determinarem a eliminação da figura de Jesus. E assim foi feito. Jesus foi preso, torturado e colocado em uma cruz até não resistir mais e morrer. Morrer como um bandido. Morrer lutando por aqueles que eram oprimidos pelo Estado e pela igreja.

E, ao contrário do que diz Bolsonaro, Jesus não era a favor de armas. Seu maior protesto contra o uso de armamentos aparece exatamente no contexto da sua condenação. No evangelho segundo Mateus, Jesus repreendeu um dos seguidores por sacar a espada e cortar a orelha de um servo: “Guarda tua espada no seu lugar, pois todos que pegam a espada, pela espada perecerão” (Mt 26,52).

Para se aprofundar mais em quem foi de fato Jesus, eu indico a leitura do livro "Jesus de Nazaré: o melhor de nós", do professor José Afonso Moura Nunes. 

E Bolsonaro?

O atual presidente do Brasil utiliza Jesus como um aliado em sua campanha. O seu slogan quando ainda era deputado e sonhava com o Planalto era "Deus acima de todos". Esse lema continuou com Bolsonaro na presidência da República. 

E na prática o Deus de Bolsonaro se tornou exatamente aquele que Jesus combatia, um Deus punitivista e excludente. 

Bolsonaro defende a tortura, a mesma que foi praticada contra Jesus. O presidente chegou a dizer que a ditadura brasileira torturou pouco e que é favorável à prática. 

Em outro momento, ainda como deputado, Bolsonaro comentou uma pesquisa sobre violência policial e disse que a polícia precisa matar mais, pois violência se combate com violência. Jesus era um militante contra a violência praticada tanto pelo Estado quanto pela igreja.

Bolsonaro defende que bandido bom é bandido morto. Jesus foi morto sendo considerado um bandido. 

Bolsonaro é racista. Chegou a dizer que um quilombo não serve nem para procriar, além de suas recorrentes falas e atitudes contra os negros. Jesus, ao contrário do que pintaram os europeus, não era branco. O líder do cristianismo, apontam especialistas, muito provavelmente tinha a pele escura, como os outros judeus de sua época.

Bolsonaro é misógino. Em várias ocasiões o presidente fez um discurso contra as mulheres. Disse que sua filha foi uma fraquejada, que defende salário menores para o gênero feminino, além de sempre tratar as mulheres como propriedade de homens.

Ao contrário do que pregava o judaísmo da época, Jesus trouxe a mulher para o centro de suas reflexões sobre o Reino de Deus. Ele retomou o valor do ser humano independente de sua sexualidade e mostrou que, para Deus, todos somos iguais. 

Em uma importante passagem bíblica, Jesus não permitiu que homens agressores apedrejassem Maria Madalena (Jo 8,1-10). Acusadas de adultério, somente as mulheres eram submetidas a esse tipo de condenação pública.

Bolsonaro também faz um discurso de ódio contra LGBTs, povos indígenas, imigrantes e todos aqueles que são colocados à margem da sociedade. O presidente do Brasil faz exatamente aquilo que Jesus combatia: o ódio contra os grupos minorizados.

E quem insiste em dizer que LGBTs são pecadores, vale lembrar que em nenhum momento Jesus fez um discurso contra essa população. O foco do filho de Deus sempre foi o acolhimento e o amor acima de qualquer coisa.

Jesus também lutou contra a elite e os ricos, população que Bolsonaro tanto beneficia. Jesus multiplicou o pão enquanto o atual presidente multiplica a fome.

O Jesus utilizado por Bolsonaro não foi o mesmo que morreu na cruz. Aquele, de dois mil anos atrás, lutou exatamente contra tudo que o atual presidente representa.

Se Jesus voltasse hoje, como acreditam os cristãos, a história se repetiria. Ele entraria nos templos, que hoje são usados como máquina financeira, e expulsaria os falsos profetas como Silas Malafaia, por exemplo.

Ele se juntaria aos povos oprimidos e lutaria por um Estado atuante na proteção de todos. Jesus estaria com os gays, com as trans, com as sapatões. Estaria no meio da rua com o padre Júlio Lancellotti lutando pelas pessoas em situação de rua. Jesus estaria na Amazônia lutando pela vida dos povos indígenas.

Jesus estaria em todos os lugares que hoje são criminalizados por Bolsonaro, inclusive nas ruas lutando pela sua saída do poder. Jesus não aceita Bolsonaro.

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