Nesta última terça-feira (3), em entrevista ao programa Desculpa Alguma Coisa, apresentado por Tati Bernardi, o ator Marco Pigossi abriu detalhes até então pouco conhecidos sobre o período em que precisou ocultar sua sexualidade para manter a imagem de galã na televisão. Segundo ele, a imposição velada da indústria, de que protagonistas românticos não podiam se assumir, custou caro à sua saúde mental e à sua vida pessoal.
Pigossi contou que, ao longo dos anos em que viveu no armário, enfrentou crises de ansiedade intensas e um medo permanente de ser descoberto. O ator explicou que havia uma crença consolidada nos bastidores: se o público feminino soubesse que o galã não se interessava por mulheres, não acreditaria em seu personagem nas novelas. “Existia essa conversa, sim. Diziam que, se as mulheres achassem que você não tinha interesse nelas, elas não comprariam o mocinho”, relembrou. Ele destacou ainda que, à época, quase não existiam referências de artistas assumidos em papéis de destaque, o que alimentava esse imaginário.
Um dos momentos mais traumáticos, segundo o ator, ocorreu em 2010, quando um boato envolvendo ele e outro colega de elenco se espalhou pelos corredores da TV Globo. “Saiu uma história de que eu estava me pegando nos corredores com outro ator. Foi horroroso, ainda mais no ambiente de trabalho. Pra mim, ali, a vida tinha acabado”, afirmou. Mais tarde, descobriu que o rumor parecia ter origem em comentários sobre outros artistas, mas o dano psicológico já estava feito. “A gente vai criando uma casca”, resumiu.
A necessidade de esconder quem era também afetou profundamente sua vida afetiva. Pigossi revelou ter vivido, no Brasil, um relacionamento “longuíssimo e superescondido” com alguém de fora do meio artístico, mais um capítulo de uma vida dividida entre palco e silêncio.
A virada começou quando conheceu o homem que hoje é seu marido, o cineasta Marco Calvani. O processo de se assumir, que ainda era interno e gradual, ganhou um novo impulso quando o cineasta publicou uma foto dos dois de mãos dadas na praia, que gerou forte repercussão na época. Pouco depois, Pigossi concedeu entrevista à revista Piauí, intitulada “Eu Me Sinto Invencível”. Ali, refletiu sobre o que chamou de “o privilégio do armário”, a constatação de que pôde ocultar sua sexualidade durante anos, algo que pessoas afeminadas ou trans, segundo ele, raramente conseguem. A percepção o levou também a um engajamento mais político, que desembocou em projetos como o documentário O Corpo Político.