
A stylist e jurade fixo Dudu Bertholini comentou os bastidores da segunda temporada de Drag Race Brasil , que estreia nesta quinta-feira (10). Em entrevista exclusiva ao iG Queer , Dudu falou sobre os desafios de comandar o programa, respondeu às críticas da primeira edição e revelou detalhes sobre os looks excêntricos que prepara para a nova fase da atração.
Pressão, expectativas e evolução da segunda temporada
Dudu afirmou que cada temporada carrega sua própria pressão, mas a estreia da versão brasileira foi marcada por um sentimento especial de cobrança.
“ Acho que a primeira temporada talvez passasse por uma pressão maior, justamente pelo público brasileiro ser tão fiel, tão apaixonado, tão comprometido com tudo aquilo que ele ama, com tudo aquilo que ele acredita ”, refletiu.
Segundo elu, a estreia estabeleceu um ponto de partida importante para o futuro do programa no país.
“ As expectativas eram muito altas e, não que elas não sejam na segunda temporada, mas a gente já tem aí um caminho, um norte, uma direção para onde o programa caminha. Claro que a segunda temporada traz muitos aprendizados da primeira, assim como acredito que a americana também: preserva o formato, mas está numa evolução constante. ”

Dudu também lembrou a dimensão da responsabilidade envolvida ao ocupar a cadeira de jurade.
“ É um programa que envolve muitos sonhos e muitos talentos, e toda uma comunidade ela movimenta, para muito além das competidoras e das queens. Então é natural que exista essa pressão, essa expectativa, e a gente agradece e procura sempre fazer o melhor para honrar essa expectativa. ”
Elu acredita que o sucesso do programa depende do equilíbrio entre manter a essência do formato original e adaptá-lo às características brasileiras.
“ Assim como Drag Race evolui nos Estados Unidos , aqui também buscamos essa evolução constante. É sobre honrar o legado e, ao mesmo tempo, trazer nossa identidade. ”
Dudu ressalta que essa construção é coletiva, com todos os envolvidos trazendo ideias e aprendizados. “ Estamos em um programa que movimenta sonhos. É impossível não sentir a responsabilidade de estar ali. Mas é essa responsabilidade que também nos impulsiona a fazer melhor. ”
Críticas, haters e maturidade emocional
Sobre as reações do público e a convivência com o hate nas redes sociais, Dudu não hesita.
“ Hoje em dia, estar na ribalta, trabalhar com mídia, com TV, é lidar tanto com o carinho, com elogio, com acolhimento do público quanto com o hate. Vivemos uma era onde o love and hate nunca andaram tão próximos, né? E a gente sabe que hoje em dia o hate engaja mais do que o like. ”
Elu afirma que aprendeu a acolher inclusive as críticas mais duras, desde que sejam construtivas.
“ Não é sobre ficar assinando embaixo ou acreditando em tudo que se fala, principalmente naquilo que tem um viés mais maldoso. Mas acho que é preciso entender. Eu particularmente acolho bastante também. Acho que também faz parte .”
Mesmo assim, Dudu mantém o foco na missão que assumiu dentro do programa.
“A gente teve um programa que são milhões de juradas. Não somos apenas eu, a Bruna Braga e os convidados. Todo mundo que senta para assistir o Drag Race, principalmente quem é fã, também é uma jurada. Muitas especialistas, outras não. Eu também tenho que acreditar no meu trabalho. Sei porque eu tô ali ocupando aquela cadeira. Não é uma verdade absoluta aquilo que eu falo, mas eu sei que eu também tenho um astro, um repertório, uma história que me trouxe até esse lugar. ”
Elu reforça que nem todo comentário negativo deve ser ignorado, pois alguns podem vir de uma cobrança legítima do público.
“ Acho que é preciso saber separar o joio do trigo. Também entender quando é hate gratuito e quando é uma crítica que faz sentido. O público se importa, e isso é lindo. ”
Por fim, Dudu destaca o compromisso que tem com a bancada e com o programa como um todo.
“ A gente está ali para entregar o melhor. Ser jurade é uma responsabilidade gigante, porque estamos avaliando artistas muito talentosos. Então, claro que vai ter cobrança. E que bom que tem, porque isso mostra o quanto o público se importa. ”
Vínculo com as queens e bastidores da comunidade drag
Elu falou ainda sobre o vínculo que se forma entre jurades e competidoras ao longo da temporada. Mesmo com poucas relações pessoais prévias, Dudu vê no programa a chance de criar conexões profundas.
“ Mesmo aquelas que eu nunca vi, eu conheci a partir do primeiro dia que ela sobe naquele palco. Enquanto jurada fixa, tenho a chance de acompanhar a trajetória dela toda semana. Esse vínculo já está criado. ”
“ A gente já está ali conhecendo diferentes aspectos e sutilezas do talento dela, que ela está demonstrando em diferentes camadas e facetas a cada semana, a cada challenge, a cada desafio. Então, é como se eu visse uma amiga, uma sobrinha, uma ídola de alguma forma brilhar a cada semana em cima daquele palco ”, explicou.
Sobre as viagens que fizeram na primeira temporada para acompanhar Watch Parties , Dudu vê com naturalidade o encontro com drags que agora fazem parte do elenco.
“ Nós somos uma comunidade, somos uma cena. A cena drag ainda luta pela sua visibilidade. É muito natural que nossos caminhos já tenham se cruzado. Mas o mais importante é a gente lembrar do papel que ocupa ali enquanto jurades. Essa grande família Drag Race que nós somos apoia e torce. ”
Dudu explica que é comum os jurades conhecerem o trabalho de várias artistas antes mesmo da competição.
“ A arte drag no Brasil é muito forte, mas também muito interligada. Então é comum que a gente já tenha cruzado com essas artistas de alguma forma. Mas o importante ali é manter a neutralidade e o profissionalismo. ”
O vínculo, segundo elu, se fortalece ao longo dos episódios.
“ Mesmo quando não conhecemos antes, durante a temporada passamos a conhecer cada detalhe, cada evolução. É lindo acompanhar esse processo. ”
Moda como expressão e os looks da nova temporada
Dudu Bertholini é também stylist e tem papel direto na construção estética dos visuais que apresenta na bancada. Para elu, a segunda temporada foi um passo além na ousadia.
“ Estou com o guarda-roupa mais maluco e excêntrico que já tive. Foi a versão mais queer, mais drag de mim mesme que eu já experimentei .”
“ Eu sou uma pessoa que acredita na moda como uma ferramenta de libertação, e o Drag Race só expandiu ainda mais a minha percepção de como a moda pode ser uma ferramenta de despadronização, de valorização das identidades e de uma possibilidade de expressão radical de sermos quem nós somos. ”
Um dos destaques do guarda-roupa, segundo elu, é um look criado por Victor Sinistra .
“ A pista que eu daria seria assim: mãos glamourosas alienígenas. É um look do Victor Sinistra que eu adorei usar .” Dudu levou 10 malas para Lisboa , onde ocorreram as gravações. “ Foi uma pré-produção árdua. Fiz uma pré-concepção das belezas que eu ia fazer e como eu ia coordenar com cada look .”
Além dos looks, houve planejamento detalhado de maquiagem e acessórios. “ Fiz toda uma pré-concepção das belezas que eu ia fazer e como eu ia coordenar com cada look para que eu também pudesse fazer uma pré-produção de qualquer coisa que eu precisasse para efetuar essas belezas.”
Elenco diverso, brasilidade e impacto cultural
Sobre o elenco da segunda temporada, Dudu garante que o público pode esperar tudo que tornou a franquia um sucesso global.
“ Não existe Drag Race sem shade, assim como também não existe Drag Race sem acolhimento, e também não existe sem entrega e muito talento. ”
Elu celebra o destaque dado à diversidade regional. “ Temos uma representatividade nordestina linda, ainda maior, eu diria, nessa temporada do que na primeira. É bonito ver como essas queens interpretam a própria cultura de forma potente, sem estereotipá-la.”
Para elu, o Drag Race tem um papel de diplomacia queer entre países. “ O We Are the World da cultura queer é o Drag Race. Apesar de ser uma franquia americana, ele cria um diálogo com as culturas locais de onde parte. A beleza é que você consegue entender um pouco da Suécia, da Austrália, das Filipinas, do Canadá, da França por um viés drag, por um viés queer e LGBT+. ”
Dudu acredita que as participantes brasileiras encontram um equilíbrio único entre autenticidade local e apelo global. “ Elas falam de suas raízes com orgulho, mas também conseguem criar conexões com o mundo. Isso é poderoso. ”
Bate-bola final com Dudu Bertholini
Três palavras para definir a temporada: “ Fundamento, exuberante e divertida. ”
Uma ave do paraíso: “ Flamingo .”
Celebridade que gostaria de ver no Snatch Game: “ Cris Kras Joas. Ladies! Ela é a lady da internet, ela é maravilhosa. Eu também queria ver uma bela Carmen Miranda. ”
Música brasileira que o mundo precisa ver sendo dublada: “ Enviadei, da Linn da Quebrada. ”
O que a drag brasileira tem que o mundo precisa descobrir: " Querida, o mundo vai descobrir de qualquer jeito o que a drag brasileira tem. Queira ele ou não, porque a drag brasileira não pede licença para chegar E é justamente essa autenticidade com borogodó de sobra que faz com que a arte drag brasileira esteja entre as mais consolidadas do mundo. "
Veja as queen do "Drag Race Brasil 2"