Divulgação/Edson Filho
"MÃE": Curta gaúcho sobre maternidade trans celebra diversidade

Em um cenário cinematográfico ainda marcado pela predominância de narrativas tradicionais, o curta-metragem "MÃE" surge como um respiro de representatividade e inovação.

Dirigido por João Monteiro e protagonizado pela multiartista Valéria Barcellos, a obra narra a história de Maria, uma mulher trans negra que enfrenta os desafios da maternidade no conservador Rio Grande do Sul.

A produção, que já nasce como um marco político e simbólico, foi idealizada a partir de conversas entre Monteiro e Barcellos, que buscavam criar novas possibilidades narrativas para corpos dissidentes.

"Não queríamos repetir estereótipos. Maria existe, vive, ama e vai ao supermercado. Ela não é reduzida à violência ou à tragédia" , reflete o diretor para o iG Queer.

"Ela tem mais que o desejo da maternidade, ela deseja ser uma mulher que constrói família. Isso é lindo!", revela Valéria Barcellos. "Esse filme é urgente e necessário para naturalizar nossas presenças trans enquanto mães, enquanto seres que podem cuidar e ser cuidadas. É urgente porque já passou da hora de entendermos isso. É urgente porque fala de amor. E só!"

Um set diverso em um estado conservador

Montar uma equipe majoritariamente LGBTQIAPN+ e preta no Sul do país poderia parecer um desafio, mas a dupla provou que é possível. "A oferta no cinema ainda é majoritariamente para homens brancos, héteros. Mas se você busca, encontra gente incrível" , afirma Monteiro. A diretora de fotografia, uma mulher trans de Camaquã, foi uma das descobertas do processo.

O elenco também reflete essa pluralidade: Gustavinho, um menino trans de 10 anos, interpreta um personagem cis, enquanto Gustavo Deon, outro ator trans, integra o filme sem que sua identidade seja o foco da trama. "São artistas que merecem viver personagens com nuances, não apenas papéis que os reduzam às suas identidades", destaca Monteiro.

Uma história que o cinema gaúcho nunca contou

Apesar da longa presença de pessoas trans e negras no estado, suas trajetórias raramente ocupam o centro das narrativas locais. "Nossos filmes ainda falam muito da colonização alemã ou dos 'grandes feitos' gaúchos. Quisemos trazer o chão da vida real" , explica Monteiro.

Monteiro, que também é roteirista, reforça a urgência do projeto: "Precisamos falar de amor, de família, de problemas comuns. Não só da travesti que morre aos 37 anos ou é expulsa de casa. Essas pessoas existem em todas as dimensões".

Afeto, luta e arte como revolução

Com referências que vão do cinema italiano à retomada brasileira, "MÃE" busca unir beleza e resistência. "Maria é um corpo político por existir, mas sua história é tratada com poesia", diz Monteiro.

A equipe espera que o filme inspire não só o público, mas também o meio cinematográfico: "Que o cinema gaúcho olhe para a diversidade com humanidade, não como exceção".


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