
Há cinco anos, Beatriz Lopes Siqueira, 32, e Ana Paula Lima, 30, dividem não apenas a vida a dois, mas um sonho em comum: a maternidade. Agora, esse desejo está mais perto de se tornar realidade. O casal foi escolhido como uma das beneficiárias do Ninho Solidário, projeto que oferece fertilização in vitro (FIV) gratuita para pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.
Para o casal pernambucano, a seleção foi um momento de emoção e esperança.
"Sempre sonhamos em ser mães, mas o tratamento era financeiramente inviável. Agora, sentimos que nossa causa foi abraçada", compartilha Beatriz. Ana Paula complementa: "Sempre passávamos em frente a lojas de bebê, admirando as roupinhas e imaginando quando seria a nossa vez. Agora, parece que nosso mundo vai ficar completo. Queremos ser voz para outros casais que enfrentam preconceito. O amor constrói famílias, e a ciência está aqui para nos ajudar".
O casal também enfrentou preconceito até dentro da própria família.
"Alguns parentes não entendiam como duas mulheres poderiam ser mães juntas. Tivemos que lidar com olhares e comentários desnecessários", relata Ana Paula.
A falta de informação também foi um obstáculo. "Não sabíamos, por exemplo, sobre a importância da doação de óvulos ou como funcionavam os processos. Descobrimos tudo aos poucos, com muita pesquisa", explica Beatriz.
Com o tratamento garantido, as duas agora se preparam para as primeiras etapas da FIV, acompanhadas por uma equipe multidisciplinar.
Inclusão e acessibilidade

Criadores do projeto Ninho Solidário
Idealizado por Karina Steiger, mãe por ovodoação e defensora da diversidade familiar, o projeto tem como missão romper barreiras financeiras e sociais que impedem muitas pessoas de construir uma família. Em cinco anos, a ação já auxiliou 200 famílias.
"Todos merecem o direito de gerar amor. Nossa edição atual celebra a homoafetividade feminina, mas já preparamos uma edição especial para pessoas trans, mostrando que a reprodução assistida deve ser acessível a todas as configurações familiares", afirma Karina.
Como funciona o projeto
O funcionamento do Ninho Solidário se baseia em um cuidadoso processo de seleção realizado semestralmente. Candidatos de todo o país podem se inscrever através do site oficial, onde são avaliados critérios como situação socioeconômica, histórico reprodutivo e motivação pessoal. Os selecionados recebem todo o tratamento - desde as consultas iniciais até o procedimento final.
Ao longo de suas edições, o Ninho Solidário já atendeu diversos perfis, desde mulheres solteiras até casais homoafetivos, sempre com o objetivo de promover a inclusão na reprodução assistida. A próxima edição, marcada para junho de 2024, terá foco especial em pessoas trans que desejam constituir família.
Parcerias que transformam
O sucesso do Ninho Solidário só é possível graças a uma rede de parceiros, incluindo clínicas, laboratórios e profissionais de saúde, que oferecem desde medicações hormonais até suporte psicológico e jurídico.
"Nosso diferencial está no acompanhamento integral que oferecemos", explica Karina Steiger. "Nossos parceiros não só custeiam os tratamentos, mas também fornecem tecnologia de ponta e acolhimento humanizado. É uma corrente do bem", destaca a porta-voz.
Representatividade e esperança
Para elas, estar no Ninho Solidário vai além da oportunidade de engravidar – é sobre visibilidade.
"Queremos mostrar que o amor não tem gênero e que famílias homoafetivas existem, são reais e merecem respeito", afirma Beatriz. "Se nossa história puder inspirar outros casais como o nosso, já valeu a pena."
Ana Paula reforça: "A ciência está do nosso lado, e projetos como esse provam que o sonho da maternidade pode – e deve – ser para todos."