"Amiga, tu usa peruca? Você é drag? Você está aquendada? Então tira um tempinho e se monta, porque eu sou uma das maiores drags do Brasil". Esta frase reverberou entre os fãs do reality show "Corrida as Blogueira 5", programa de competição criado pelo canal Diva Depressão. A fala icônica foi do artista Gabriel do Espírito Santo, de 22 anos, pessoa por trás da drag queen Alyssah Hernandez.
Natural de Santo André, Gabriel passou por um longo caminho até conseguir se estabelecer na arte drag paulistana e se tornar, como o próprio diz, "uma das maiores drags do Brasil".
A ginástica
A vida artística de Gabriel começou cedo. Entretanto, o talento do jovem era muito atrelado ao esporte, com ele se desenvolvendo na ginástica artística. Foram mais de 12 anos de carreira como ginasta, com ele ganhando um espaço na Seleção Brasileira de Ginástica Artística, participou de campeonatos brasileiros.
"Os treinos eram muito intensos. Eu não tive infância porque estava sempre treinando, não podia sair, ir ao shopping porque não tinha tempo livre. Por volta dos 6 a 7 anos de idade, eu lembro de andar com a minha mãe para ir e voltar dos treinos sem ter dinheiro para pagar a passagem. Eu morava em Santo André e treinava em São Caetano, muitas vezes percorremos esse caminho a pé. Tudo para correr atrás do meu sonho. Não foi uma época fácil, gostosa e agradável, mas sei que ajudou a me moldar e me tornar quem eu sou hoje”, afirma a drag.
Nascimento de Alyssah Hernandez
Aos 17 anos, no entanto, Alyssah sofreu uma lesão que a impossibilitou de continuar a vida como ginasta. Entretanto, uma nova paixão começou se aflorar dentro de ti: a da arte drag.
"Eu comecei a fazer drag na época da escola. Comecei a acompanhar RuPaul's Drag Race e foi bem na época em que a Pabllo começou a estourar. Sempre tive muita vontade, meu lado feminino sempre foi muito aflorado, mas eu não conhecia nada de drag, não tinha referências. Quando comecei a ver a Pabllo e o Drag Race, foi onde despertou a curiosidade, e vi que era algo que eu queria muito fazer", explica.
Entretanto, a primeira montação não foi tão simples: "Como as montações são muito caras, eu queria muito começar com uma peruca. Então, durante quase um ano, vendi brigadeiros onde eu morava para poder comprar minha primeira lace. Nessa época, eu me montava em casa só para treinar maquiagem. Acho que a primeira vez que me montei fora de casa foi no dia da troca na escola, nos últimos dias do terceiro ano do ensino médio. A partir daí, comecei a me montar e não parei mais."
Mas a personagem precisava de um nome forte que combinasse. Foi então que busca pelo nome perfeito começou. Por sua relação com o mundo drag e com a ginástica, Gabriel correu atrás de um nome que conseguisse combinar as duas paixões.
"Na drag, eu gostava muito da Alyssa Edwards. Coincidentemente, havia uma outra ginasta dos Estados Unidos chamada Alyssa, e eu também gostava muito dela. Escolhi Alyssa porque queria um nome forte e imponente, mas não tanto. O sobrenome 'Hernandez' veio de outra ginasta, Lauren Hernandez, dos Estados Unidos. Queria um sobrenome bem diferente. Fiquei em dúvida sobre alguns sobrenomes de ginastas russas, mas achei que Hernandez combinou com Alyssah".
'Corrida das Blogueiras 5'
Em 2023, no entanto, a drag queen atingiu um público gigante após participar da quinta edição do reality show "Corrida das Blogueira". O programa, que é exibido semanalmente no canal DiaTV no YouTube, um formato criado Eduardo Camargo e Filipe Oliveira (Diva Depressão), visa premiar a maior blogueira da internet.
"No começo, quando você está lá, eu entrei no programa realmente para me jogar, para ser eu mesma, para me divertir. Obviamente, queria muito ganhar, mas não entrei com uma mentalidade estratégica, pensando no que o público gostaria ou não. Eu me joguei, me diverti muito e fui eu mesma em todos os momentos", explica Alyssah.
Entretanto, a drag afirma que sua participação acabou não sendo muito bem recebida pelo público, principalmente devido sua personalidade forte que foi mostrada desde o primeiro episódio: "Às vezes, quando você vê alguém muito confiante, especialmente se não conhece a pessoa ou seu trabalho, isso pode ser um pouco intimidador. Há também o fato de eu ser uma pessoa preta. Normalmente, corpos como o meu não estão acostumados a serem vistos vencendo e sendo confiantes. As pessoas estão mais acostumadas a ver pessoas como eu em posições diferentes."
Após a participação, no entanto, Alyssah diz que foi acolhida pelo público e conseguiu fazer com que eles engajassem com o seu trabalho. "Hoje em dia, sou muito mais reconhecida do que era antes. Mesmo quando entrei no programa, já tinha números, mas agora as pessoas realmente me conhecem, sabem meu nome, meus bordões. Foi uma experiência muito boa."
Futuro de Alyssah Hernandez
Com a nova de temporada de "Corrida das Blogueiras: uma nova chance" chegando, temporada essa que trará participantes das antigas temporadas para competir, Alyssah é categórica em dizer que voltaria para a competição.
"Vejo o programa como uma oportunidade muito boa, e acho que boas oportunidades não devem ser desperdiçadas. No meu caso, eu voltaria. Claro, tem vários fatores a considerar; fico pensando, meu Deus, imagina voltar e sair no primeiro episódio, isso impactaria minha imagem. Mas eu acho que aproveitei bastante no programa, e isso me traria coisas boas. É um momento para se testar, se reinventar e dar um up na imagem. Muitas pessoas acompanham o programa, que é realmente muito grande. Então, se me chamassem, eu certamente voltaria."
Entretanto, no momento, a drag segue em uma fase mais tranquila, sem grandes projetos e "aproveitando os frutos e as oportunidades". "Não sei se é a ideia mais inteligente, mas foi o que decidi para mim. A época do programa foi bem intensa, especialmente na preparação. Então, não tenho muitos planos agora, mas comecei a tocar e estou me dedicando a isso. Quero fazer algumas coisas novas nessa área, além das performances, criando algo exclusivo que traga um diferencial entre música e performance."
Mas um sonho ainda segue engatilhado: "Tenho muita vontade de fazer um podcast ou videocast, algo que está em alta. Acho que falo bem e seria interessante. Só precisaria de uma ideia diferente para ser algo exclusivo e que atraia as pessoas. É algo que penso em fazer para o ano que vem, quem sabe?", finaliza.