A Prefeitura de São Paulo divulgou no início de janeiro que, ao menos, 579 blocos de Carnaval desfilariam na cidade este ano. Deste total, 129 blocos já cancelaram seus desfiles, citando problemas financeiros e falta de apoio do governo municipal.
Os blocos criados e organizados para a comunidade LGBTQIAPN+ também sofreram com os cancelamentos. Entre eles estão os tradicionais “Meu Santo É Pop”, “A Madonna Tá Aqui”, “Domingo Ela Não Vai”, “Fogo e Paixão”, “Lua Vai”, entre outros, que tinham se planejado para desfilar, mas tiveram que abortar a missão em 2024.
Jorge Minoru Alves, fundador do bloco “Meu Santo É Pop”, não esperava pelo cancelamento que foi protocolado em 24 de janeiro — último dia cedido pela Prefeitura para mudanças no calendário.
“Tentamos negociar com a Prefeitura de fazermos o bloco parado, porque reduz muito os custos, mas eles foram taxativos e sem possibilidade de negociação. Não poderia 'e ponto'”, afirmou Jorge em entrevista ao iG Queer. “Foi inevitável, dado que nesse ano não conseguimos patrocínio.”
O fundador do “Meu Santo é Pop” se diz decepcionado e quer mobilizar o bloco para apoiar uma candidatura contrária à atual de Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição no pleito que ocorre neste ano. “Vamos analisar uma candidatura que seja pró-cultura, pró- LGBTQIAPN+ , pró ocupar as ruas [sic], pró Carnaval de rua.”
João Marcelo Oliveira, um dos organizadores do “Fogo e Paixão”, atribuiu o cancelamento do bloco em São Paulo a dificuldades financeiras.
“Não esperávamos o cancelamento, mas a demora de resposta de alguns patrocinadores atrapalhou nossa organização [...] Ficou apertado para tentar buscar novas parcerias”, explica.
Ele entende que a organização da Prefeitura de São Paulo, apesar do cancelamento, foi melhor que a que encontrou no Rio de Janeiro , onde o bloco também desfila.
“No Rio muitas marcas têm problemas quando patrocinam somente alguns blocos e não o Carnaval da Prefeitura. [...] Acho que os blocos precisam ter autonomia para negociar seus patrocínios [individualmente]”, diz ele acrescentando que a relação entre os blocos e as prefeituras se torna desigual quando a negociação direta não acontece, dificultando o trabalho do bloco e a organização do desfile.
O que diz a Prefeitura
Em evento no último dia 1º, Ricardo Nunes afirmara que a Prefeitura de SP estava dentro dos prazos para fornecer toda a infraestrutura necessária para que os blocos se apresentem nas ruas da capital.
“Cada ano que a gente faz o Carnaval de rua, ele vai ampliando e melhorando. Agora, lógico que com um evento desse tamanho, com centenas de blocos participando, pode ter um ou outro que desista. Não é a Prefeitura que paga esses blocos. São blocos independentes. A Prefeitura dá a infraestrutura para eles poderem fazer o seu desfile, que é muito importante para a cidade. Agora, se algum ou outro bloco desiste, é um problema dele, de uma organização dele”, disse o prefeito.
Ele continuou: “o que compete à Prefeitura é fornecer toda a infraestrutura de gradil, de banheiro, de segurança, da questão logística de fechamento de ruas. Tudo isso está sendo feito e está dentro do prazo. Não existe nada diferente do que foi feito nos anos anteriores. [...] A questão de dinheiro, os blocos captam diretamente os patrocínios com as empresas. O que a gente tem percebido é que algumas empresas estão optando, algumas delas, de não investir no bloco, mas investir em bares e locais. É uma decisão da empresa patrocinadora”, justificou.
Em nota, a Prefeitura informou que "ainda assim criou um plano de fomento para que os blocos com mais tradição na cidade tenham um incentivo a mais. A administração vai aportar R$ 2,5 milhões para 100 blocos (R$ 25 mil para cada) como forma de incrementar as atividades dos grupos que atuam na festa carnavalesca."
A gestão municipal disse ainda que a segurança também estará reforçada, "com 866 Guardas Civis Metropolitanos (GCMs), um contingente 10% maior do que no ano passado, a cada dia de folia em todos os bairros da cidade."
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