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'Tomamos o poder da narrativa', diz Esse Menino sobre LGBTs no humor

Humorista acaba de retornar de sua primeira turnê na Europa e falou ao iG Queer sobre a experiência

Foto: Reprodução/Instagram 05.11.2023
O humorista Esse Menino acaba de voltar de uma turnê pela Europa

Esse Menino, 26 anos, já é um grande fenômeno da internet brasileira e um dos nomes promissores do humor no país. Ele acaba de retornar de sua primeira turnê da Europa , recheado de histórias e experiências para contar. 

Após uma turnê pelo Brasil, no exterior o comediante passou por Portugal , Espanha , Holanda, Alemanha , Irlanda , Inglaterra e  França.

“Estar na Europa vem sendo surreal e inacreditável”, disse o humorista ao iG Queer,  em entrevista exclusiva, enquanto ainda estava em turnê pelo continente. “No Brasil a plateia já muda de cidade para cidade. Agora aqui [na Europa] é uma mistura do Brasil inteiro, e em cidades fora do Brasil. Tive que descobrir tudo de novo.”

Ele continua: “Está sendo uma loucura, mas o mais diferente daqui que eu percebo é a saudade. A galera está com uma saudade gigante do Brasil”, diz o humorista sobre os fãs que estão na Europa.


Humor como ferramenta política

Esse Menino começou a ser notado na internet de forma expressiva durante a pandemia, especificamente no escândalo sobre a negação do governo Bolsonaro em adquirir as vacinas contra a Covid-19.

Desde então, o artista é reconhecido por utilizar o humor para tratar de temas delicados do cotidiano brasileiro, além de assuntos relacionados à comunidade LGBTQIAPN+ , da qual faz parte.

“Humor é muito uma ferramenta política. Humor é arte [...] Eu gosto de explorar todas as formas de fazer graça. Faz parte do meu cotidiano esses assuntos [os quais ele aborda em seu repertório]. Eu pesquiso e tento aprender sobre esses assuntos, então eles acabam sempre vindo à tona, nos meus textos, nos meus vídeos e em tudo o que eu faço.”

O humorista explica que até mesmo quando ainda não era tão conhecido, já tinha interesse em se expressar politicamente a partir do humor: “Já gostava de expressar minhas opiniões, descobrir pessoas que se identificam [com as opiniões] e agora, então, eu faço isso muito mais.” 

Ele completa: “Tento dar para essas pessoas um certo alívio dentro desse caos e também para elas poderem usar aquele vídeo como uma forma de demonstrar como se sentem. É uma coisa que eu faço questão de fazer.”

O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino na bancada do 'RuPaul's Drag Race'. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino com os jurados do 'RuPaul's Drag Race'. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino. Foto: Reprodução/Instagram 05/11/2023
O humorista Esse Menino acaba de voltar de uma turnê pela Europa. Foto: Reprodução/Instagram 05.11.2023


LGBTfobia no humor

Por muitos anos o humor foi uma ferramenta que disseminou preconceitos, especialmente contra populações minorizadas como a comunidade queer, pessoas pretas, mulheres, pessoas com deficiência, entre outros grupos.

Esse Menino representa o humor contemporâneo que luta para que estes grupos riam junto com as piadas, e que não sejam mais alvos delas, como no passado.

“Eu acho que a partir do momento que a gente faz a piada, esse estereótipo se desarma. As pessoas não estão rindo da gente, elas estão rindo com a gente. Meu show inteiro é sobre vivências.”

“Muitas vezes eu faço [show para] bastante hétero. Da mesma forma que a gente foi colocado dentro de uma heterossexualidade compulsória — a vida inteira tivemos que consumir tudo sobre eles — eles agora estão consumindo sobre a gente quando eles vão assistir meu show, por exemplo”, continua o humorista.

Ele completa: “Acho que isso já muda muito e já faz com que as pessoas abram a cabeça para pensarem: ‘Não existe só a minha realidade. Não existe só o que eu entendo como sexo, ou o que eu entendo como família.”

“Infelizmente têm algumas pessoas, umas ou outras, que me veem como a bicha caricata da novela, [o que é] muito sobre como elas me têm na configuração da cabeça delas. Quando elas vão assistir meu show, elas dão uma repensada, mas não posso dizer que saio ileso de todas. Ainda recebo: ‘Ai, bicha, mona, lacrou’. Ainda preciso estar lidando com isso às vezes.”

Sobre o tópico, Esse Menino avalia de forma categórica: “A gente tomou o  poder da narrativa de quem está fazendo a piada, sabe? Então, é sobre a gente, é sobre a nossa história.”

“Eu estou em palcos de comédia, eu faço shows em clubes de comédia, onde muita homofobia já rolou, onde muita transfobia rola até hoje. Então eu faço muito para mim, para que eu possa ir nesses lugares com muita força. Acho que a consequência disso é que cada vez mais pessoas vão entrando juntas. E a gente vai abrindo espaço para que outras pessoas [LGBTs] cheguem”, finaliza.

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