Antes do Mês do Orgulho LGBTQIAP+ surgir, em 1969, indivíduos que faziam parte de alguma letra da sigla já existiam. No Brasil não é diferente, e em homenagem a todos que vieram antes de nós, o iG Queer relembra alguns dos primeiros e primeiras LGBTQIAP+ na história do Brasil.

1. Tibira do Maranhão

Tibira do Maranhão
Miguel Galindo
Tibira do Maranhão

Conhecido como Tibira do Maranhão, ele foi morto por sua orientação sexual no século 17, foi considerado um dos primeiros casos documentados de execução no Brasil devido à homossexualidade.

A condenação à morte e execução de Tibira em São Luís do Maranhão, em 1613 ou 1614, é relatada pelo frade franciscano Yves d'Évreux, na sua viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Por sua causa que Tibira também tornou-se um termo utilizado por indígenas para se referir a um homossexual.

Além disso, Tibira do Maranhão é o nome dado por Luiz Mott, sociólogo e ativista LGBTQIAP+, a um indígena tupinambá brasileiro, não nomeado na obra original.

2. Xica Manicongo

Xica Manicongo, primeira travesti brasileira
Arquivo Público
Xica Manicongo, primeira travesti brasileira

Considerada a primeira travesti do Brasil, Xica foi uma pessoa escravizada que viveu em Salvador e trabalhou como sapateira na Cidade Baixa, segundo registros de documentos oficiais arquivados em Lisboa, Portugal.

Seu sobrenome, Manicongo, era um título utilizado pelos governantes no Reino do Congo para se referir aos seus senhores e suas divindades. Por isso, o nome dela pode ser traduzido como “Rainha ou Realeza do Congo”.

No século 16, as normas e regras da sociedade hétero e cis eram ainda mais rígidas, mas Xica se recusava a usar roupas ditas masculinas para a época e a se comportar “como um homem”. Por conta desta resistência, ela foi acusada de sodomia e julgada pelo Tribunal do Santo Ofício, instituição eclesiástica responsável por punir judicialmente crimes de “heresia”.

Além destas denúncias, ela também foi acusada de participar de “uma quadrilha de feiticeiros sodomitas”. Xica Manicongo foi condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Sufocada pela pressão social e para fugir da pena, ela abdicou de suas roupas e adotou o estilo de vida direcionado aos homens da época.

3. Filipa de Souza

Filipa de Souza
Reprodução
Filipa de Souza

Filipa foi condenada pela Inquisição por ter se relacionado com seis mulheres, a portuguesa foi açoitada publicamente, teve seus bens confiscados, foi obrigada a comparecer a auto de fé descalça e com vela acesa na mão, incumbiu-se de penitências espirituais e ainda precisou pagar as custas processuais. Embora tenha nascido em Portugal, veio para o Brasil e seu caso é o primeiro registro de relacionamentos lésbicos ocorridos no país.

4. Roberta Close

Roberta Close
Reprodução Instagram
Roberta Close

Roberta Close trabalhou como apresentadora, atriz e modelo, já desfilou para inúmeras grifes como Thierry Mugler, Guy Laroche e Jean Paul Gaultier, além de estampar revistas como Vogue e Marie Claire e se tornou uma das principais expoentes das passarelas brasileiras para o mundo na década de 1980. Close foi a primeira modelo trans a posar nua para a edição brasileira da revista Playboy.

5. Jorge Laffond

Jorge Laffond
Reprodução
Jorge Laffond

Jorge Laffond foi o primeiro negro e homossexual de sucesso na televisão brasileira entre os anos 1980 e início dos anos 2000. Com sua personagem icônica Vera Verão de "A Praça é Nossa", do SBT, ele também foi o primeiro homem que ocupou a posição de Madrinha de Bateria da Unidos de São Lucas, escola de samba de São Paulo.

6. Lacraia

Lacraia
Reprodução
Lacraia

Lacraia, dançarina e humorista brasileira, foi a primeira travesti dentro do funk carioca que ajudou a impulsionar o ritmo pelo Brasil no início dos anos 2000 ao lado de sua dupla MC Serginho.

7. Liniker

Liniker
Reprodução/Instagram (@linikeroficial) - 18.11.2022
Liniker

A cantora, compositora, atriz e artista visual brasileira foi a primeira transgênero brasileira a ganhar um Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira pelo seu álbum "Indigo Borboleta Anil".

Ex-integrante da banda Liniker e os Caramelows, ela compõe e canta músicas de gênero soul, black music e MPB.

8. Tifanny Abreu

Tiffany Abreu
Divulgação/Bauru
Tiffany Abreu

Tifanny Abreu é uma jogadora de voleibol brasileira que atua como oposto e ponteira. Foi a primeira transexual a disputar uma partida oficial da Superliga, a principal divisão do Campeonato Brasileiro de Voleibol.

9. João W. Nery

João W. Nery
Teresa Sanches
João W. Nery

João W. Nery foi um psicólogo e escritor brasileiro. Em 1977, ele tornou-se o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil. Além de ter sido ativista pelos direitos LGBT.

10. Erika Hilton

Erika Hilton
Reprodução/Instagram 09.03.2023
Erika Hilton

Erika Hilton foi a primeira travesti negra a ser vereadora por São Paulo, sendo a vereadora mulher com mais votos na eleição municipal. Além disso, foi também a primeira travesti presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara de São Paulo.

Erika também foi a primeira deputada federal por São Paulo e a primeira travesti a presidir uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados.

11. Erica Malunguinho

 Erica Malunguinho
Reprodução/Alesp
Erica Malunguinho

Educadora e artista plástica, Erica Malunguinho foi eleita deputada estadual em São Paulo em 2018, tornando-se a primeira travesti negra deputada estadual do Brasil.

12. Duda Salabert

Duda Salabert
Reprodução/Lucas Avila
Duda Salabert

Duda Salabert tornou-se a primeira deputada federal trans na história de Minas Gerais. Ela e Erika Hilton foram eleitas no mesmo ano e se consagraram as primeiras pessoas transgênero a ocupar a Câmara dos Deputados, em 2023. Antes, também foi a primeira mulher trans mais votada da história de Belo Horizonte, sendo eleita vereadora em 2020.

13. Eloina dos Leopardos

Eloina dos Leopardos
Arquivo pessoal
Eloina dos Leopardos

O ano era 1976, quando Eloina dos Leopardos parou na frente dos ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis e mostrou ao Carnaval do Rio o que era sambar de biquíni: a primeira rainha de bateria do Brasil foi uma travesti.

Eloina entrou para história, aos 31 anos, como a primeira rainha de bateria que se tem notícia. Ela foi colocada no cargo, que até então não existia, pelas mãos do carnavalesco Joãosinho Trinta. No fim, a escola saiu vitoriosa.

14. Cassandra Rios

Cassandra Rios
Reprodução/Folhapress
Cassandra Rios

Cassandra Rios, pseudônimo de Odette Pérez Ríos, foi uma escritora brasileira que escrevia ficção, mistério e principalmente sobre homossexualidade feminina e erotismo, sendo a primeira escritora a tratar do tema na literatura brasileira.

15. Kátia Tapety

Kátia Tapety
Reprodução
Kátia Tapety

Kátia Nogueira Tapety é uma política transgênero brasileira. Foi a primeira mulher trans a se eleger para um cargo político no Brasil. Ela foi eleita vereadora em 1992, 1996 e 2000 (sempre em primeiro lugar) no município de Colônia do Piauí. 

16. Edy Star

Edy Star
Reprodução: iG Minas Gerais
Edy Star

Edivaldo Souza, conhecido pelos nomes artísticos de Edy, Edy Souza e Edy Star, é um cantor, ator, compositor, dançarino, produtor, figurinista e pintor. Em 1973, revelou sua homossexualidade e se tornou o primeiro artista brasileiro a se declarar assumidamente gay. 

17. Cláudia Celeste

Cláudia Celeste
Divulgação
Cláudia Celeste

Cláudia Celeste foi uma atriz e dançarina trans brasileira. Foi a primeira travesti a atuar como atriz em novelas brasileiras.

18. Markito

Markito
Reprodução
Markito

Marcus Vinícius Resende Gonçalves, conhecido profissionalmente como Markito, foi um estilista brasileiro e um dos nomes mais influentes da moda brasileira na década de 1970. Ele foi também uma das primeiras vítimas conhecidas da Aids no Brasil.

19. Aoi Berriel

Aoi Berriel
Brenno Farias Carvalho
Aoi Berriel

Cientista Social, com foco em pesquisa de gênero, Aoi Berriel foi a primeira pessoa a ser reconhecida judicialmente como uma pessoa não binária no Brasil,  conseguindo retificar seus documentos.

20. Rosely Roth

Rosely Roth
Divulgação
Rosely Roth

Rosely Roth foi uma ativista brasileira, considerada uma das pioneiras da história do movimento homossexual brasileiro com foco no ativismo lésbico. Em 1981, Rosely Roth fundou, ao lado de companheiras, o Grupo Ação Lésbica-Feminista ou Galf, em São Paulo.

Na televisão, foi a primeira lésbica a ir a um programa de TV, da Hebe Camargo, e também foi uma das responsáveis pelo evento que marcou o dia 19 de agosto no calendário de luta das lésbicas, data que ocorreu o levante de ativistas lésbicas no Ferro's Bar.

21. Madame Satã

Madame Satã
Reprodução
Madame Satã

João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã, é considerado a primeira drag queen negra do Brasil. Natural do Rio de Janeiro, as circunstâncias de sua vida fizeram com que João praticasse crimes para poder sobreviver, entre eles roubos, assassinatos e agressões, abandonando assim a vida artística que tanto amava por conta do racismo.

22. Thammy Miranda

Thammy Miranda
Reprodução/Instagram
Thammy Miranda

Thammy Miranda tornou-se o primeiro homem trans dentro da política brasileira. Em 2020, foi eleito vereador por São Paulo. Além disso, já atuou como ator e repórter, e iniciou sua carreira como dançarino, cantor e modelo.

23. Tarso Brant

Tarso Brant
Reprodução/ Instagram
Tarso Brant

Tarso Brant, é um modelo e homem transgênero e foi o primeiro a participar de uma novela no Brasil. "A Força do Querer", da Globo, contou com a participação dele em 2017. 

24. Alan Oliveira

Alan Oliveira
Reprodução
Alan Oliveira

Em "Vai na Fé" (2023), o ator e artista Alan Oliveira é o primeiro homem trans negro a participar de uma novela nacional.

25. Miss Biá

Miss Biá
Reprodução
Miss Biá

Miss Biá é considerada a primeira drag queen de São Paulo e começou a se montar por volta de 1958.

26. Carolina Iara

Carolina Iara
Reprodução/Instagram 26.10.2022
Carolina Iara

Aos 29 anos, ela se tornou a primeira deputada intersexo do Brasil. Eleita codeputada estadual pela Bancada Feminista, em São Paulo, Carolina também é negra, travesti e portadora de HIV.

Muitos nomes, que tiveram enorme importância para a consolidação desses corpos e identidades LGBTQIAP+ ficaram de fora. Mas, este conteúdo surge num esforço de preservar a memória e relembrar personalidades históricas LGBTQIAP+ do País.

Celebrando mais um Mês do Orgulho LGBTQIAP+, a história LGBTQIAP+ brasileira conta com muitas pessoas que se destacaram e tiveram enorme importância para que as novas gerações queer pudesse ter a possibilidade de protagonizar, celebrar e alcançar o que almejassem. 

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** Julio Cesar Ferreira é estudante de Jornalismo na PUC-SP. Venceu o 13.º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão com a pauta “Brasil sob a fumaça da desinformação”. Em seus interesses estão Diretos Humanos, Cultura, Moda, Política, Cultura Pop e Entretenimento. Enquanto estagiário no iG, já passou pelas editorias de Último Segundo/Saúde, Delas/Receitas, e atualmente está em Queer/Pet/Turismo.

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