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Quatro vereadores são indiciados por homofobia em Goiânia

Parlamentares fizeram afirmações como "vocês não são normais" e "maus exemplos para crianças" após propaganda do Burger King sobre LGBTs de junho de 2021

Gabriela Rodart Lopes, Thialu Raphael Guiotti Lustosa, Novandir Rodrigues Da Silva, Nataniel De Sena Soares são indiciados por homofobia
Foto: Montagem/Reprodução
Gabriela Rodart Lopes, Thialu Raphael Guiotti Lustosa, Novandir Rodrigues Da Silva, Nataniel De Sena Soares são indiciados por homofobia


Os vereadores Gabriela Rodart Lopes (Democracia Cristã-GO), Thialu Raphael Guiotti Lustosa (Avante-GO), Novandir Rodrigues Da Silva (Republicanos-GO) e Nataniel De Sena Soares (PRP-GO) foram indiciados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) por manifestações homofóbicas durante sessão na Câmara Municipal de Goiânia. O caso aconteceu em 2021 após a veiculação de uma propaganda da rede de fast food Burger King durante o Mês do Orgulho LGBTQIA+ .

O indiciamento aconteceu nesta quarta-feira (20) pelo delegado Joaquim Filho Adorno Santos, do Grupo Especializado no Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e de Intolerância (Geacri), núcleo da Polícia Civil de Goiânia. Os parlamentares foram indiciados pela Lei de Racismo (nº7.716/1989), que desde 2019 também é válida para crimes de LGBTFobia.

Ao iG Queer , Santos afirmou que, caso a denúncia seja oferecida pelo promotor do caso, os vereadores estão sujeitos a cumprir de dois a cinco anos de reclusão. “Essa é a pena para o crime, que é um crime imprescritível e inafiançável. É um crime grave contra a natureza humana”, detalhou. Se forem condenados criminalmente com trânsito julgado, os parlamentares podem perder os direitos políticos e ter o mandato cassado.

A condenação está relacionada a comentários de cunho homofóbico realizados pelos vereadores após o Burger King veicular uma propaganda em junho de 2021. No vídeo, crianças conversam sobre o que entendem sobre a sigla LGBTQIA+, bem como sobre relações não cis heteronormativas. O intuito da rede de fast food era de normalizar os relacionamentos homoafetivos e identidades de gênero trans.

Nos discursos realizados pelos vereadores foram usados termos como “vocês não são normais”, “Deus criou o homem e a mulher, não criou um triângulo”, “ser gay é uma opção consequência da pedofilia”, “LGBTs são maus exemplos para crianças”, entre outras falas. Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a conduta dos vereadores.

“Para a Polícia, ficou muito claro que a fala dos vereadores foram preconceituosas, discriminatórias e incitavam a discriminação em razão da orientação sexual e do gênero. Foi uma fala claramente homofóbica, transfóbica, que coloca a comunidade LGBTQIA como pessoas que estão além da normalidade, que não são praticamente humanas, que pareiam esse grupo com o que nós temos de mais ruim em na nossa imaginação”, explicou o delegado que pediu o indiciamento.

O delegado ainda afirmou que as falas dos vereadores promovem diretamente a discriminação e justificam o ódio social perante este grupo de pessoas e, consequentemente, a violência experimentada por ele. “Fica subentendido que essas pessoas são aberrações e, como aberração, aquele indivíduo merece todo o ódio social, raiva e violência. Há toda uma desconstrução de direitos. Isso é extremamente homofóbico, transfóbico e lesbofóbico. Isso é um crime de ódio.”

Por fim, Santos explicou que o caso aponta que “independentemente de qualquer coisa, todos nós temos direito ao respeito à nossa condição como humano. “Não há cargo nem posição que permita a ofensa ou diminuição de uma pessoa ou de uma coletividade pelo simples fato de não ser aquilo que se espera ou se tem como ideal. Cada um tem o seu ideal, tem sua forma de ver o mundo. A pessoa não se encaixar em um quadradinho desenhado não a torna uma aberração, ela só é diferente de você. Todo cidadão tem a obrigação de respeitá-la, porque o desrespeito, quando ultrapassa um certo nível, é criminoso”, finalizou.

O iG Queer tentou contato com os vereadores por meio dos números de telefone disponibilizados no portal da Câmara Municipal de Goiânia. Nenhuma das ligações foi atendida. A redação procurou Nataniel De Sena Soares via e-mail, mas não teve retorno até o momento em que esta reportagem foi publicada. O espaço para manifestação segue aberto. 

*Com colaboração de Miguel Trombini.