Este é o primeiro texto desta coluna, que se inicia aqui no iG para trazer informações sobre a comunidade LGBTQIA+ e a política, temas que andam e sempre devem andar juntos.
E ao falar sobre LGBTs e política, precisamos lembrar que o Brasil tem um ex-deputado federal gay, único no parlamento por muitos anos, que está exilado. Jean Wyllys precisou abandonar seu mandato, para o qual foi eleito, e deixar o país em 2019 após sofrer constantes ameaças de morte e violência, dentro e fora da política.
O presidente Jair Bolsonaro, quando ainda era deputado federal, utilizou Jean como propaganda de uma agenda anti-direitos humanos, tema central dos projetos apresentados pelo primeiro e único homem gay a vencer o “Big Brother Brasil”. E essa propaganda deu certo.
No país que mais mata pessoas LGBTs no mundo, não seria estranho um candidato conseguir êxito atacando, principalmente, essa população. E Jean era a representação deste ataque.
Com o rosto do baiano estampado em fake news criminosas, Jean corria sérios riscos de se tornar mais um político morto, assim como foi com sua então colega de partido, Marielle Franco .
"Se a intenção da extrema-direita era acabar comigo e me matar como pessoa, ela fracassou. Eu saí na hora que tinha que sair para proteger minha vida, mas saí como estratégia de sair vivo e lutar contra eles. Estou vivo, produzindo e vendo a ruína dessa gente", diz Jean em entrevista à coluna.
Uma nova candidatura
Hoje o cenário é outro. O baiano de 47 anos mora na Espanha e voltou a se dedicar à vida acadêmica, à arte e a fazer política sem correr risco de vida. "Aqui eu sou um cidadão comum. Estou na universidade fazendo doutorado em ciências políticas, circulo entre os intelectuais e não sou um rosto conhecido. Hoje atuo aqui e no Brasil. Vivo duas dimensões de tempo e espaço, mas com segurança. Eu precisava me recompor como sujeito, curar minhas feridas, e ter tranquilidade", explica Jean.
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Em seu livro "O Que Será", publicado em 2019 após deixar o Brasil, Jean conta que se sentiu abandonado pelos movimentos de esquerda, pela comunidade LGBT e até por seu partido, o PSOL.
Em 2021 ele deixou a sigla e, convidado pelo ex-presidente Lula, se filiou ao PT , com direito à live de comemoração entre os dois.
Lula e o PT querem Jean Wyllys de volta na atuação política . Por ser um nome conhecido e forte, o baiano é pressionado pela legenda para se candidatar. Mas, por enquanto, essa possibilidade é descartada por ele.
"Eu não quero. Eu estou confortável e contente neste reencontro com a arte e com a academia. Mas tem uma expectativa do partido, porque o PT quer formar uma bancada forte, para Lula governar com tranquilidade, além de um desejo de renovação. Eu confesso que estou pesando a duas questões" explica.
"Eu voltarei"
Já a volta ao Brasil é certa. Hoje o ex-deputado participa, de forma voluntária, das discussões de políticas públicas oferecidas pelo PT e é um personagem importante na construção da imagem da nova candidatura de Lula. Quando a campanha presidencial começar, Jean garante que participará de forma presencial.
"Eu vou participar da política, mesmo que não seja oficialmente. Eu e Márcia Tiburi (filósofa que também deixou o país por ameaças de morte) queremos fazer uma caravana pelo Brasil com aulas de filosofia para combater a desinformação. Vou voltar ao Brasil para ajudar a reconstruir o meu país. Estarei no PT como uma fator de controle de qualidade para garantir que o partido faça uma agenda verde, feminista e diversa sexualmente. É dessa maneira que faço política e sempre foi assim", ressalta Jean.
Sobre seus algozes, Jean considera o fim de uma era da escuridão no Brasil. "A gente dizia que eles iam para o lixo da história, só não imaginava que seria tão rápido. Por toda a experiência que tivemos com ditaduras, acreditava que iam durar pelo menos uma década. A covid foi um mal horrível, que acabou desmascarando a incompetência, a má fé, o elitismo e o descaso dessa gente. Não passarão", conclui Jean.
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