Censo inédito quer mapear perfil demográfico de lésbicas no Brasil

Falta de dados prejudica criação de políticas públicas, mapeamento e enfrentamento à lesbofobia; saiba como preencher

Lésbicas brasileiras terão perfil mapeado
Foto: Reprodução
Lésbicas brasileiras terão perfil mapeado

A Associação Feminista de Coturno de Vênus de Brasília e a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) estão atuando em um censo específico para coletar dados sócio-demográficos de lésbicas brasileiras. O Lesbo Censo Nacinal quer mapear o perfil da comunidade lésbica no país e atuar ativamente no fornecimento de dados sobre esta população.

Consequentemente, os coletivos esperam impulsionar as políticas públicas sociais específicas para áreas como educação, saúde, segurança e cultura de mulheres lésbicas. Como o Brasil não inclui perguntas sobre orientação afetivo-sexual e identidade de gênero no censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, há subnotificação quanto à fatia que esta população representa e a clareza sobre as demandas.

A coleta de dados será realizada em três etapas: perguntas de múltipla escolha sobre trabalho, saúde, educação, relacionamentos, violências, relações familiares e redes de apoio; entrevistas semiestruturadas com a equipe de pesquisa do estudo; e oficinas de formação política nos territórios. Mais informações podem ser conferidas em lesbocenso.com.br .

Essa falta de dados gera um apagamento em relação às questões relacionadas às mulheres que se autodenominam lésbicas e sapatão. Um dos grandes impactos disto é o fato de que a lesbofobia ocupa a segunda posição em registros de violências no país.

Segundo os últimos dados divulgados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Brasil registrou 24.564 notificações de LGBTfobia entre 2015 e 2017, sendo que 32,6% delas estavam relacionadas a ataques lesbofóbicos.

De acordo com as organizadoras do Lesbo Censo, é importante que isso seja levado em conta para planejar, implementar e tornar efetivas políticas públicas capazes de amparar as mulheres lésbicas. "Tais ações não ocorrem no que se refere ao apoio às vítimas, em relação à sistematização de dados, para a investigação e a possível punição de agressores, e tampouco para a prevenção das violências lesbofóbicas", afirmam as organizadoras em comunicado de divulgação do censo.

Elas continuam ao afirmar que "os dados oficiais existentes são limitados, insuficientes e subnotificados para se conhecer a população de lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais brasileira, não sendo possível estimar o número populacional nem as características demográficas dessa população".

** Camila Cetrone é formada em jornalismo. Desde 2020, é repórter do iG e tem experiência em coberturas sobre cultura, entretenimento, saúde, turismo, política, comportamento e diversidade; com ênfase em direitos das mulheres e LGBTQIA+, na qual está inserida como bissexual. É autora do livro-reportagem “Manda as Bicha Descer”, resultado da apuração de um ano na casa de acolhida LGBT Casa 1, no centro de São Paulo. Coleciona livros, vinis e estuda cinema nas horas vagas. Ama contar e ouvir histórias, cantar mal no karaokê e memes autodepreciativos (jura que faz terapia).