Transfobia no "BBB 22" acende alerta para discussão sobre o tema na TV

A chegada da cantora e travesti Linn da Quebrada na casa esta quinta-feira veio junto com falas transfóbicas de alguns participantes

BBB 22 e os casos de transfobia até o momento
Foto: Reprodução
BBB 22 e os casos de transfobia até o momento


O elenco do ‘Big Brother Brasil’ 22 está finalmente completo. Nesta quinta-feira (20), Jade Picon, Arthur Aguiar e Linn da Quebrada, que estavam em quarentena após testarem positivo para a COVID-19, entraram na casa e foram recepcionado pelos demais brothers e sisters. Logo após entrar no reality oficialmente, Linn da Quebrada, cantora, compositora, atriz e travesti, foi alvo de situações que deram o que falar nas redes sociais devido ao teor transfóbico.

Enquanto os participantes estavam à mesa comendo, a participante Eslovênia, do grupo pipoca, referiu-se à Linn com o pronome “ele”. A artista rapidamente corrigiu com “é ela”. Além disso, outro participante do grupo pipoca, Rodrigo, usou o termo “traveco”, que é bastante pejorativo. Acerca desses acontecimentos, a produtora de conteúdo, transfeminina e não-binária Bryanna Nasck foi ao Twitter expressar considerações sobre o tema. 


“Com todas essas situações que vemos em menos de 24 horas da presença da Linn da Quebrada no BBB 22 só expõe mais do que nunca a necessidade de educação”, disse ela em um dos tweets da thread que fez sobre o assunto. “Nós pessoas trans não somos escolas ambulantes e nem muito menos saco de pancada de outros seres, que nem se dão o trabalho de refletir antes de abrir a boca. A educação tem que partir de nós mesmos para entender a realidade do outro e como podemos nos tornar aliados a sua luta”, continuou.

A influenciadora concluiu com: “Sigam pessoas trans, consumam seus conteúdos e mesmo que pela internet faça a vivência de pessoas trans fazer parte do seu dia a dia. Pois isto só vai lhe abrir a mente para uma infinidade de possibilidades que só vão lhe tornar um ser humano melhor”. 

Isa Messias, mulher trans que trabalha em uma clínica de depilação na Faria Lima, região nobre de São Paulo, foi questionada pelo iG Queer sobre como a questão dos pronomes e do respeito às vivências trans funciona no dia a dia, incluindo toda marginalização dessa população. Ela comentou inclusive uma situação que a própria vivenciou em uma perfumaria.

“A vendedora me chamou por ‘ele’ várias vezes durante o atendimento. No final, eu a corrigi e abre um Reclame Aqui sobre o ocorrido. Esse é um assunto que ainda mexe muito conosco. O que me deixa mais perplexa é que a pessoa tem uma imagem feminina diante de si, uma mulher, e chama de ‘ele’. Muitas vezes, acho que é maldade sim, ou muita ignorância. Se há uma mulher na frente de alguém, por que chamar pelo masculino? Há falta de conhecimento também. Existe informação disponível, então cabe a cada um buscar abrir a cabeça e ter a consciência de que existem pessoas múltiplas, com diferentes gêneros e história. Além disso, o respeito acima de tudo é o principal”, declara. 

Outro momento que chamou a atenção foi quando Rodrigo estava conversando com Pedro Scooby e disse “eu achava que traveco e travesti eram a mesma coisa”. O surfista respondeu: “um é uma forma pejorativa de usar o nome e o outro é o nome de fato”. Ariadna Arantes, ex-BBB da décima primeira edição e primeira mulher trans e marcar presença no reality, postou no Twitter esse diálogo entre Rodrigo e Pedro Scooby, ressaltando que o surfista já tinha se referido a ela e a outras travestis como “travecos” em 2019.

Na tarde desta sexta-feira, ela foi ao storys do Instagram comentar sobre essa situação. “Hoje eu revivi no Twitter uma situação de 2019, na qual o Pedro Scooby me chamou de traveco”, começou ela. “Ele não me pediu desculpas na época, mas se ele aprendeu com esses erros e está ensinando outras pessoas, então é válido”. 

Ela ainda comentou sobre as falas do próprio Rodrigo. “Ele viu que errou e procurou a Linn para se acertar diretamente com ela”. Em contrapartida, Ariadna chama a atenção para o fato de que pessoas trans estão cansadas de precisarem sempre assumir um papel de educadoras nesses tipos de situação. “Nós estamos muito cansadas de todos esses anos, no país que mais mata pessoas trans, termos que sempre ensinar, mas pelo menos ele foi lá e reconheceu para tentar melhorar e não errar novamente. O pior são tantas outras pessoas que continuam errando”.