Tatuagem do rosto da vereadora Erika Hilton
Reprodução/Instagram
Tatuagem do rosto da vereadora Erika Hilton

O tatuador e artista plástico carioca Saulo DiCaprio Mendes Borges, 34, chamou atenção nas redes sociais na última semana por uma homenagem feita a Erika Hilton. Na última semana, Saulo tatuou o rosto da vereadora no antebraço. Para ele, que é um homem trans, Erika se tornou um referência da comunidade trans.

“Fechando 2021 com chave de ouro, realizando esse sonho de ter marcado na pele essa singela homenagem a essa mulher, que é uma força da natureza inigualável”, escreveu Saulo em seu Instagram ao compartilhar a foto da tatuagem.

Ao iG Queer, Saulo afirma que fez a tatuagem devido à admiração ao trabalho de Erika, tanto na política quanto como ativista pelos direitos das pessoas trans no Brasil. “A Erika acorda todos os dias e nada entre tubarões. Ela luta por mim e por todos nós”, diz o artista. Ele conta que o tamanho da afeição que sente pela vereadora é “difícil de explicar”. “Não cresci tendo referências das quais me sentisse representado. Ver uma mulher preta e trans empoderada lutando incessantemente é inspirador”, afirma o rapaz.

Saulo conta que conheceu o trabalho de Erika por meio de postagens do partido ao qual a vereadora é filiada, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). “Assim que ouvi os discursos dela, me arrepiei totalmente e me perguntei como não a conhecia ainda. Desde então, comecei a acompanhar o trabalho dela”.

A foto da tatuagem foi vista pela vereadora, que a repostou e elogiou nas próprias redes sociais. "Eu tô passada com essa tatuagem! Eu amei! Obrigada pela linda homenagem, Saulo, ficou muito boa", escreveu Erika.

A resposta da ativista causou comoção em Saulo. “Fiquei tão emocionado que saí contando para todos os meus amigos. Foi como ganhar um presente de aniversário adiantado”, comemora. O rapaz faz 35 anos no dia 29 de janeiro; coincidentemente, o dia marca o Dia da Visibilidade Trans.

Tudo começou com Marielle Franco

Erika Hilton não é a única figura política homenageada em tatuagem no corpo de Saulo. O rosto da vereadora Marielle Franco também está estampado em um dos braços do artista. A tatuagem foi concluída em 27 de julho deste ano, dia em que Marielle completaria 42 anos.

Saulo afirma que não conhecia o trabalho de Marielle até a vereadora ser assassinada no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. Para ele, a sensação daquele dia foi como se tivesse perdido um conhecido. “Nunca gostei de política, porque a gente aprende desde criança que ‘é tudo igual’. Com a morte da Mari eu acordei. Foi literalmente uma chave virando”, relata.

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Depois daquele 14 de março, Saulo sentiu a necessidade de se engajar mais politicamente e socialmente. “Busco aprender para melhorar como ser humano, mas faço isso por mim e por todos os outros ao meu redor que também são incrédulos como eu era”, pensa.

Além da causa LGBTQIA+ , outra questão que o aproximou tanto de Marielle como de Erika foi o fato de viver em uma região ocupada pela milícia do Rio. “Moro no bairro da Curicica, em Jacarepaguá. É uma área controlada por milicianos. Sou um homem preto trans que acreditou na força da luta dessas mulheres”.

Críticas e família religiosa

Apesar de ter orgulho das tatuagens, Saulo conta que precisou lidar com muitas críticas, principalmente por parte de familiares que não aceitam seu posicionamento político. O artista explica que vem de uma família “extremamente religiosa”.

“Meu pai, por exemplo, é um homem preto, pastor e defensor do atual presidente. Já brigamos muito por eu defender a Marielle”, relata. “Ouço muitos comentários carregados de ignorância e que repetem desinformações, como a Marielle ter sido ‘mulher de bandido’ ou ‘defender bandido’”, acrescenta.

O rapaz afirma que tenta participar ativamente de causas consideradas progressistas, mesmo com a discordância por parte da família. “Fui para a manifestação do 7 de setembro deste ano e meus pais me falaram que eu não deveria ir porque teria confusão. Disse que iria mesmo assim, que lutaria por nós. A resposta deles foi: ‘Deixe que os outros lutem”, relembra.

Mesmo diante das críticas, Saulo afirma que o ato de tatuar Erika Hilton e Marielle Franco evoca nele uma sensação de respeito e valorização diferente. “Não é como admirar um cantor ou ator famoso nem sobre marcar a admiração por um ‘super herói'. É sobre marcar na pele uma heroína de verdade”, declara.

“Me apaixonei pela história da Marielle e, se busco aprender mais sobre política, é por conta dela e da Erika. Por isso, levo minhas heroínas tatuadas na minha pele”, conclui.

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