A vida e história da ativista transexual Brenda Lee, considerada uma das pessoas mais marcantes do movimento LGBTQIAP+ no Brasil, serão abordadas no musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, montada pelo grupo Núcleo Experimental. Conhecida também como “anjo da guarda das travestis”, Brenda teve atuação nos anos 1980 ao acolher pessoas soropositivas dentro da própria casa, em meio à epidemia da Aids.
A casa, que realmente era conhecida como Palácio das Princesas, se tornou a primeira casa de apoio para pessoas com HIV/Aids do país. Ela comprou uma casa no bairro do Bexiga, região central da capital paulista. Lá, passou a acolher a população trans e travesti, principalmente trabalhadoras sexuais.
Em uma época em que pessoas soropositivas eram temidas e até mesmo descartadas, ela conseguiu firmar parcerias com órgãos importantes como a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e o Hospital Emílio Ribas para aprimorar o atendimento e tratamento aos pacientes soropositivos.
Brenda Lee foi assassinada em 1996, aos 48 anos. Seu corpo foi encontrado baleado na boca e no peitoral dentro de uma Kombi estacionada em um terreno baldio. Uma décadas depois, em 2008, foi criado o Prêmio Brenda Lee, entregue a personalidades que contribuíram para a luta contra o HIV/Aids.
“Contar a história do Palácio das Princesas é não só manter viva a memória de Brenda Lee, considerada o anjo da guarda da população LGBTQIA+ em São Paulo, mas retratar uma mulher trans protagonista em sua luta e ativismo”, explica a dramaturga Fernanda Maia, que assina texto, direção e composições musicais.
O elenco é majoritariamente formado por atrizes transvestigêneres e um ator cisgênero. Assim, estrelam o musical Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Ambrosia, June Weimar e Fabio Redkowicz. Para a diretora, a peça também é uma oportunidade de diversificar o núcleo de artistas e empregar pessoas trans em diversos setores.
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Mais do que diversão, Maia explica que a peça é uma forma de refletir e discutir a sociedade. “Um espetáculo composto por atrizes transvestigêneres, sobre uma importante travesti no panorama do surgimento da Aids e do fim da ditadura militar nos anos 80 significa colocar no centro do processo artístico criativo quem sempre esteve às margens. Fazer isso sob forma de musical significa atingir um tipo de público não habituado às histórias da população trans, contribuindo para a diminuição do apartheid social em que nos encontramos”, reflete.
Para homenagear Brenda, foram pesquisadas entrevistas da ativista em que fala sobre sua vida pessoal, sua família, a prostituição e sobre o acolhimento às pessoas soropositivas, cujoa transcrições foram incorporadas no roteiro. Além disso, Maia conta que a equipe teve acesso a materiais bibliográficos e colheram depoimentos de pessoas que a conheceram pessoalmente, desde moradores do Palácio das Princesas até infectologistas que aceitaram tratar os pacientes.
O roteiro também explora o perfil de moradoras da casa usando como pano de fundo não apenas o HIV, mas o contexto da noite paulistana dos anos 1980, em que as boates eram consideradas lugares seguros para a comunidade LGBTQIAP+.
A temporada de “Palácio das Princesas” será on-line e transmitida gratuitamente todos os dias, entre 14 de outubro a 19 de novembro, às 21h, no canal do YouTube do Núcleo Experimental. Nos dias 12, 13 e 14 de novembro a exibição será pelas redes sociais do Teatro Alfredo Mesquita, e em 19, 20 e 21 de novembro, nas redes do Teatro Paulo Eiró.
A programação complementar à peça inclui uma live sobre a transvestigeneridade no Brasil nos anos 80 e 90 e o Palácio das Princesas, com a diretora e a empresária Roberta Leroux, que acontece em 4 de outubro, às 20h. No dia 5, às 21h, será divulgado no canal do YouTube do grupo os bastidores do musical com depoimentos da dramaturga e do elenco.