Mariana Ferreira é médica, cisgênero, negra, descobriu que era uma bissexual logo após o fim de um casamento que não deu certo e passou a se relacionar com mulheres. Ela é uma das vozes do projeto “Falas de Orgulho”, especial que a Globo exibe no dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, que vai narrar histórias marcantes de personagens deste universo.
A ginecologista e obstetra conta que se casou com o segundo namorado quando tinha apenas 26 anos e nem cogitava a possibilidade de se relacionar com uma mulher. Ela diz que aprendia desde cedo isso era errado. Quando perdeu seu irmão, passou a refletir sobre a vida e sobre o que queria viver.
“Eu já achava mulheres interessantes, mas nunca tinha me relacionado. Tive uma educação bem machista e o meu círculo de pessoas próximas era completamente cis-heteronormativo, não só na minha família, mas também no meu trabalho. Hoje em dia, me entendo como uma pessoa que pode se apaixonar e se relacionar com qualquer outra pessoa”, explica.
De origem pobre, filha de pai metalúrgico e mãe empregada doméstica, Mariana foi a primeira de sua família a entrar em uma faculdade e viu nos estudos uma forma de mudar a realidade. Formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a médica conta que se reconhecer bissexual mudou a sua profissão.
"Acho importante me reconhecer em um grupo. Além da questão da luta por direitos, me possibilitou também a ajudar outras pessoas. Eu atendo várias mulheres lésbicas, bis, homens trans e ouço muitas queixas desses pacientes que, por muitas vezes, passam por constrangimentos em atendimentos ginecológicos", diz.
Sobre seus relacionamentos com homens e mulheres, Mari pondera os pesos e medidas que advêm da sua sexualidade. "Tem uma questão em ser bissexual: sempre que você está com um homem, as pessoas te veem como hétero e isso afeta quando você está se relacionando. Quando eu estava com meninas, por exemplo, muitas vezes não me sentia confortável para beijar ou dar as mãos na rua, coisa que não passo quando estou com meninos. Certa vez, em um Carnaval, cheguei a ser empurrada por um homem que eu nem conhecia só por estar beijando uma mulher em um bloco ", lembra.
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Viver em sociedade
Mariana nunca falou abertamente no ambiente de trabalho sobre sua sexualidade e os colegas que a seguem nas redes sociais sabem de tudo porque prefere não esconder nada ali. Ela acha importante que uma pessoa se reconheça em um grupo, não só pela luta por direitos, mas também por se permitir ajudar outras de uma forma mais sensível.
“Na minha época da faculdade de medicina, eu não tive matérias que ensinassem sobre saúde para LGBTs, saúde da população negra. Acho que as coisas estão começando a caminhar, mas a gente ainda tem muito a melhorar”, opina.
A médica acredita que a luta dentro da comunidade LGBT é muito diferente para cada uma das letras da sigla porque o preconceito se modifica dependendo do gênero, cor de pele ou mesmo qual é o padrão que cada um segue.
“Essa sigla carrega muitas lutas que são distintas entre si. Dentro da própria comunidade, temos vários tipos de relação. Por exemplo, um homem gay, dependendo de sua classe social, ou se ele é branco ou negro, cis ou trans, ele vai sofrer opressões diferentes. Acho que, cada vez mais, temos que nos enxergar como esse grupo heterogêneo e lutar coletivamente por respeito”, afirma.
O projeto 'Falas de Orgulho' mostrará a jornada de oito personagens de diferentes idades, regiões, trajetórias de vida e religiões e, por trás delas, histórias de superação, preconceito e auto aceitação, passando por temas transversais às letras que formam a sigla LGBTQIA+. O especial tem direção artística de Antonia Prado, direção de Washington Calegari e roteiro assinado por Carlyle Junior, com produção de Beatriz Besser. Rafael Dragaud é o diretor executivo e Mariano Boni, diretor de gênero. O especial vai ao ar no dia 28 de junho, logo após 'Império'.