6 autores LGBTQIA+ que se destacam na literatura brasileira

Há muitos registros de enredos e personagens LGBT na literatura, aqui apontamos autores de grande sucesso com seus escritos

Foto: Banco de Imagens/Pexels
6 autores LGBTQIA+

Na história do Brasil, as artes sempre foram importantes para ajudar a compreender a realidade, como acontecia na época dos folhetins publicados nos jornais, quando não havia rádio, TV e nem cinema; no modernismo, quando se pensou uma identidade nacional; e na poesia abolicionista. Nesta sexta-feira, 23, Dia do Livro, listamos autores  LGBTQIA+ que se destacaram por suas obras e trabalho em vida.

Há registros de personagens e histórias de LGBTQIA+ no conto “O Menino do Gouveia” (Capadócio Maluco, 1914), ou nos livros “Um homem gasto” (Ferreira Leal, 1885), “O Bom-Crioulo” (Adolfo Caminha, 1985), “O Ateneu” (Raul Pompeia, 1888), “O Cortiço” (Aluísio Azevedo, 1890) e “Grande Sertão: Veredas” (Guimarães Rosa, 1956).

A literatura brasileira possui relíquias culturais que ajudam a entender o passado e a evolução do nosso povo. Além da ficção, é importante conhecer os responsáveis pela criação de tais enredos e personagens. Por isso, listamos seis escritores brasileiros LGBTQIA+ que se destacam por suas obras.

Mário de Andrade
Um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, Mário de Andrade foi pioneiro da poesia modernista no Brasil. Músico, dramaturgo e crítico literário, sua principal obra foi o romance “Macunaíma”, de 1928, no qual retratou a história dos brasileiros com herói de caráter duvidoso e índio, branco e preto em momentos diferentes da história.

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Mário de Andrade

Apesar de sempre haver boatos sobre a orientação sexual do autor, somente no ano passado houve a confirmação de sua homossexualidade quando, por meio da Lei de Acesso à Informação, foi aberta uma carta-confissão dele para o também escritor Manuel Bandeira. No documento, Mário fala das pressões sofridas e dos boatos sobre ele.

“Si agora toca nesse assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de pressão) e si saio com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só minhas”, escreveu.

Caio Fernando Abreu

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Caio Fernando Abreu


Gaúcho, gay assumido, escritor, jornalista, poeta e opositor da ditadura civil-militar, Caio Fernando Abreu foi perseguido e se exilou na Europa. Foi um dos melhores amigos da também escritora Clarice Lispector. Temas como sexo, morte e solidão são constantes na obra dele.

Escreveu contos, romances, peças de teatro, roteiros de cinema e passou por veículos de imprensa como a revista Veja e o jornal Zero Hora. O livro de contos “Morangos Mofados”, de 1982, é considerada a obra-prima do autor, mas é em “Onde Andará Dulce Veiga”, que a homossexualidade é tratada de forma específica. Faleceu jovem, aos 47 anos, em 1996, vítima da Aids.

Cassandra Rios

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Cassandra Rios


Pseudônimo de Odette Pérez Ríos, Cassandra foi uma escritora brasileira, de ascendência espanhola. Ela escrevia ficção, mistério e principalmente sobre homossexualidade feminina e erotismo. Foi a primeira escritora a tratar do tema, quebrando um tabu em 1940. Entre os seus escritos, descrevia cenas de amor explícitas entre lésbicas e retratava o preconceito sofrido por elas e suas dúvidas.

No livro de estreia da autora, “A Volúpia do Pecado”, as personagens Lyeth e Irez buscam no dicionário um termo que defina o comportamento delas. Cassandra vendeu mais de 300 mil exemplares, mas não caiu nas graças da crítica, que considerava o estilo dela muito cru. Por desenvolver o seu trabalho na Ditadura, sofreu perseguições e censuras. Seus principais livros são “Copacabana Posto 6 – A Madrasta”, de 1972 e “Eu Sou Uma Lésbica”, de 1979.

João Silvério Trevisan

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João Silvério Trevisan


Escritor, jornalista, dramaturgo, tradutor, cineasta e defensor da comunidade LGBTQIA+ brasileira. É ex-seminarista e assumiu ser homossexual quando o Ato Institucional nº 5 (AI5) estava em vigor no país, durante a Ditadura Civil-Militar, o que lhe fez sair do país para ir morar na Califórnia, nos Estados Unidos.

Quando voltou ao Brasil, foi um dos fundadores do primeiro grupo organizado de militância homossexual: o grupo Somos , na década de 1970. Escreveu diversos livros acadêmicos como “Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade”; Foi colunista da revista homoerótica G Magazine e, até 2005, atuou como diretor da oficina literária do SESC. Hoje, Trevisan tem 76 anos.

Álvares de Azevedo

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Álvares de Azevedo


Romântico da segunda geração conhecido como “o mal do século”, Álvares de Azevedo foi autor do clássico livro e contos “Noite na Taverna” e da antologia poética “Lira dos Vinte Anos”. Sarcástico e irônico, ele falava sobre dores, amores impossíveis e sobre a morte (que era praticamente uma fixação dele).

Álvares morreu antes de completar 21 anos de idade, em abril de 1852, vítima de tuberculose. Na época, ele deixou uma carta de despedida para o homem com quem se relacionava: “Luís, há aí não sei quê no meu coração que me diz que talvez tudo esteja findo entre nós […] há em algumas de minhas cartas a ti uma história inteira de dois anos, uma lenda, dolorosa sim mas verdadeira, como uma autópsia de sofrimento. Luís, é uma sina minha que eu amasse muito e que ninguém me amasse. Assim como eu te amo, ama-me”.

Gilberto Freyre

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Gilberto Freyre


O autor recifense é considerado um dos maiores sociólogos do século 20. Autor de “Casa-Grande & Senzala” (1933), no qual faz um retrato da formação sociocultural brasileira, Freyre defendeu que o determinismo racial não influenciava o desenvolvimento de um país e foi contra a ideia de que, no Brasil, havia uma raça inferior, por causa de toda a miscigenação.

A obra do autor foi muito criticada na época de seu lançamento, acusada de pornográfica e chegou até a ser queimada em praça pública. Em entrevista à revista Playboy, em março de 1980, Freyre disse que já havia se relacionado com homens. “Você pode imaginar alguém como eu, interessado em tudo o que é humano e, portanto, tive a curiosidade de ver o que era o amor não heterossexual; tive umas poucas e não satisfatórias aventuras homossexuais”, disse ele, que foi casado com uma mulher anos depois.