PrEP e PEP: como funcionam os medicamentos que previnem o HIV

Medicamentos fazem parte de mecanismo de prevenção combinada ao HIV, um deles para evitar a contaminação e o outro para fazer um tratamento antes do vírus se multiplicar no organismo

Foto: Divulgação/Secretaria de Saúde de Brasília/Geovana Albuquerque
PrEP é oferecida na rede de saúde pública de todo o Brasil

Existem diversas formas de prevenção para infecções sexualmente transmissíveis (IST), como o uso de preservativos e a testagem regular. Especificamente para prevenir o HIV – que pode provocar a Aids, quando diagnosticado tardiamente e na falta de cuidados –, novas tecnologias medicamentosas conhecidas como PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) se tornaram fortes aliadas da saúde pública.

A Profilaxia Pós-exposição (PEP) consiste no uso de medicações antirretrovirais pelo período de 28 após uma situação de exposição de risco ao vírus. O medicamento impede que o vírus se estabeleça no organismo, diminuindo o risco da infecção pelo HIV e funciona em quaisquer motivos: relações sexuais desprotegidas ou quando o preservativo sai ou se rompe, situações de violência sexual, acidentes com material biológico. A PEP deve ser iniciada até, no máximo, 72 horas depois da situação de risco, mas, de preferência, nas duas primeiras horas. No site  do Governo Federal, é possível consultar onde encontrar a PEP em todo o país.

Já a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma das tecnologias mais recentes na estratégia da prevenção combinada, com a qual, tomando uma pílula diária antes de haver exposições a situações de risco, o indivíduo se protege do HIV. Tomado regularmente, o medicamento impede que o vírus causador da Aids infecte o organismo. Geralmente, é indicada para pessoas que tem maior chance de entrar em contato com o HIV. Também é possível fazer a busca pela PrEP  no site do Governo Federal.

Foto: Divulgação/Secretaria de Saúde de Brasília/Geovana Albuquerque
PEP é fornecida em diversas unidades de saúde de todo o país

Os dois medicamentos são oferecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em todo o Brasil. De acordo com o coordenador de Assistência da Coordenadoria de IST/Aids da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, Robinson Fernandes de Camargo, se a PEP for iniciada até 72 horas e tomada regularmente pelos 28 dias, ela tem alta taxa de eficácia e não oferece riscos à saúde.

"Não há efeitos colaterais significativos ao utilizar a PEP. Ela é uma tecnologia de prevenção de urgência. É preciso iniciar o mais rápido possível, de preferências nas primeiras duas horas. Já para iniciar a PrEP é importante conversar com o profissional de saúde sobre os riscos que você está exposto. É preciso tentar entender quais são as melhores maneiras se prevenir, como cada um se sente mais confortável. A eficácia dessas duas profilaxias está ligada diretamente à adesão ao tratamento", explica Camargo.

Especificamente sobre a PrEP, o médico afirma o maior risco de saúde relacionado ao medicamente está em não tomá-lo corretamente, todos os dias. Segundo ele, estudos feitos em outros países não apontam um aumento de outras ISTs, em pessoas que utilizam a medicação.

Sobre efeitos colaterais, o médico comenta que são raros e que o acompanhamento feito pelo serviço de saúde é suficiente para detectar e resolver. "Há raros casos em que o uso da PrEP provoca problemas renais e diminuição da densidade óssea. Quem usa PrEP pelo SUS realiza exames para monitorar a situação. Os usuários que apresentam algum efeito colateral da PrEP, após interromper o uso o corpo se recupera e não deixa sequelas nos rins ou nos ossos. Apesar disso, também é muito raro as pessoas deixarem de utilizar a PrEP por conta de efeitos colaterais, como apontam os dados do Ministério da Saúde", diz o médico.

Além da PrEP e da PEP, existem outras formas de prevenção ao HIV e outras IST, como a camisinha externa [para usar no pênis] e a interna [para a vagina], a testagem frequente, pelo menos a cada seis meses para as infecções, possibilitando o início precoce dos tratamentos, quando necessário.

Foto: Divulgação/Secretaria de Saúde de Brasília/Geovana Albuquerque
Preservativos interno e externo

São Paulo 

Em São Paulo, a PEP pode ser encontrada em 60 unidades municipais de saúde da capital paulista, incluindo os 26 serviços da Rede Municipal Especializada em IST/Aids (RME IST/Aids), que funcionam de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, além das unidades de urgência e emergência, como prontos-socorros e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), que estão abertas 24 horas. Os endereços de todas as unidades estão disponíveis neste link .

A PrEP pode ser encontrada em 43 serviços de saúde, incluindo a RME IST/Aids e as unidades que oferecem hormonização para pessoas transexuais e travestis. Os endereços podem ser conferidos neste link .

A prioridade para a PrEP na cidade de São Paulo é de gays e homens que fazem sexo com outros homens (HSH), homens e mulheres transexuais, travestis e casais sorodiferentes (quando um vive com HIV e o outro não), além de profissionais do sexo. Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, esses grupos são “pessoas que vivem em situação de maior vulnerabilidade ao HIV”.

Não há fila de espera para iniciar o uso de qualquer um dos dois medicamentos na cidade. Para iniciar o uso da profilaxia, a pessoa interessada deve comparecer a uma das unidades de saúde listadas, onde fará testes rápidos para HIV e outras IST. Se o teste de HIV der negativo, a pessoa já sai com os medicamentos para a PrEP na mesma hora. No mesmo dia, a pessoa também fará a coleta para uma série de exames específicos para o acompanhamento da profilaxia e, depois de 30 dias, deverá retornar à unidade de saúde para dar continuidade à prevenção.

Rio de Janeiro (RJ)
De acordo com informações do Governo Federal, a PrEP pode ser encontrada em 3 unidades de saúde da cidade, o Hospital Universitário Gaffree e Guinle, no Hospital Municipal Rocha Maia e no Instituto Nacional de Infectologia Evrando Chagas (Manguinhos).

Já a PEP é disponibilizada em 170 unidades de saúde o muncípio, de acordo com busca no site o Governo Federal.

Brasília (DF)
A PEP está disponível em 8 unidades públicas de saúde do Distrito Federal: o Hospital Dia da Asa Sul, os ambulatórios dos hospitais regionais de Sobradinho, Ceilândia e Universitário de Brasília, além das policlínicas de Taguatinga, Lago Sul, Planaltina e Gama.

Já a PrEP só é disponibilizada em 2 dessas unidades: o Hospital Dia da Asa Sul e o Hospital Universitário de Brasília. De acordo com a Secretaria de Saúde de Brasília, o paciente que procurar o a profilaxia pré-exposição receberá as orientações médicas e será acompanhado no cuidado com outras IST, além de ser incentivado a usar o preservativo nas relações sexuais.

Recife (PE)
A PEP é oferecida em 4 unidades de saúde da cidade. Em 3 delas para casos que não sejam associados a violência sexual: policlínicas Barros Lima e Arnaldo Marques e na Maternidade Bandeira Filho. Já para situações de violência sexual, a profilaxia é disponibilizada no Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony Santos, que fica dentro do Hospital da Mulher do Recife.

Após o final dos 28 dias de PEP, o paciente é encaminhado para uma avaliação do tratamento em uma policlínica que faz parte de um Serviço de Atenção Especializada (Sae). A avaliação pode ser feita nas Policlínicas Gouveia de Barros ou Lessa de Andrade. Os pacientes que não forem moradores do Recife, após a finalização da profilaxia pós-exposição, são encaminhados para os serviços de seus municípios de origem ou para a as unidades estaduais de saúde.

Já a PrEP é disponibilizada no Hospitais Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e no Hospital das Clínicas (HC/UFPE), sendo o primeiro de gestão estadual e o segundo de gestão federal. De acordo com a Secretaria de Saúde do Recife, está previsto para o primeiro semestre de 2021 a implantação da PrEP no Ambulatório LGBT Patrícia Gomes, que fica dentro da Policlínica Lessa de Andrade. O acompanhamento da PrEP é feito de 3 a 4 meses. No HC existe uma fila de espera, provocada pela demanda reprimida na pandemia. A marcação de consultas está fechada para o público, mas é possível colocar o nome numa lista de espera pelo telefone (81) 2126-3797, de segunda a quinta-feira, das 7h às 17h.

Fortaleza (CE)
É possível ter acesso a PrEP em 5 unidades de saúde na capital. Na Policlínica Dr. Lusmar Veras Rodrigues, Policlínica Dr. Luiz Carlos Fontenele e Policlínica Dr. José Eloy da Costa Filho. O paciente é atendido por um médico infectologista que prescreve exames, dentre eles de HIV e a função hepática, para poder iniciar o tratamento. Acompanhamento periódico será feito.

A PrEP também é oferecida no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), mas somente para parceiros soronegativos de pacientes com HIV atendidos na unidade. Para recebimento da medicação, o parceiro precisa realizar o teste de HIV a cada três meses no próprio hospital.

Por meio do Projeto Combina, feito em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), o Hospital São José (HSJ) concede a PrEP sob demanda. Durante a pandemia, conforme orientação do Ministério da Saúde, o HSJ passou a acompanhar a cada quatro meses os pacientes que usam a PrEP. Antes, a assistência era prestada trimestralmente.

Já a PEP é fornecida em Fortaleza em 4 unidades de saúde. A principal é o Hospital São José (HSJ), que atende todos os casos. Quando o paciente tiver sido vítima de violência sexual, ele também poderá procurar a PEP no Hospital Gonzaguinha de Messejana, Hospital Gonzaguinha da Barra do Ceará e Hospital Nossa Senhora da Conceição.

Salvador (BA)
A PEP é fornecida em 5 estabelecimentos. São eles: UPA Adroaldo Albergaria, UPA Valéria, PA Dr. Alfredo Bureau, UPA Helio Machado e UPA Barris – os dois últimos com capacidade de atendimento de crianças também. De acordo com a Secretaria de Saúde de Salvador, qualquer pessoa pode ter acesso à PEP na cidade, mas o tratamento, que não se resume a tomar os comprimidos, o paciente só terá acesso caso tenha o cartão do SUS do município. Ou o paciente faz o cartão ou ele pode ser encaminhado para sua cidade de origem.

Já a PrEP só é ofertada na unidade de saúde SAR Marymar Novaes. Para começar a profilaxia pré-exposição na cidade, o paciente passa por um aconselhador, profissional que avalia a necessidade de utilização do medicamento. A avaliação observa se o paciente tem, frequentemente, relações sexuais com parcerias eventuais, histórico de IST, busca repetidamente a PEP, se troca sexo por dinheiro ou objetos de valor e se está em um relacionamento sorodiscordante.

Não há fila de espera para PrEP no município. Assim que o paciente passa por avaliação de equipe multidisciplinar de saúde, o tratamento inicia imediatamente. O acompanhamento do paciente é feito, inicialmente após trinta dias, depois sessenta e noventa.

Belém (PA)
A PEP pode ser encontrada em 10 unidades de saúde. 8 delas oferecem o serviço todos os dias, em qualquer horário: UPA Icoaraci, UPA Jurunas, UPA Marambaia, UPA Terra Firme, UPA Sacramenta, Pronto Socorro Mário Pinotti, Pronto Socorro Guamá e Hospital Geral De Mosqueiro. As outras duas unidades funcionam de 7h às 18h: Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Casa Dia.

A profilaxia Pós-Exposição é oferecida em todas as unidades para pessoas em qualquer situação de risco para o HIV, independente de terem sido vítimas de violência sexual ou não.

Já a PREP, o usuário pode encontrar no CTA-Belém ou na Casa Dia. É preciso marcar atendimento. No dia do atendimento, o paciente passa por avaliação e responde a um questionário do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) e a partir disso é verificado se está legível a fazer a medicação da PREP. Exames regulares e acompanhamento médico serão constantes.

Curitiba (PR)
A PEP é disponibilizada em 6 unidades de saúde: Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), UPA Matriz, Hospital Oswaldo Cruz, Hospital Infantil Pequeno Príncipe (atendimento exclusivo para casos de violência sexual com menores de 12 anos), Maternidade do Hospital de Clínicas (exclusivo para casos de violência sexual para maiores de 12 anos) e no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (exclusivo para mulheres e meninas, com mais de 12 anos de idade, vítimas de violência sexual).

Já a PrEP é ofertada em 2 estabelecimentos: Clínca E-COA e no Centro de Orientação e Aconselhamento (COA).

Belo Horizonte (MG)
A cidade divide o atendimento de PEP por formas de atenção para pacientes específicos, com exposição ao vírus de formas diferentes. No total, 7 estabelecimentos oferecem a PEP

Qualquer pessoa que esteja dentro dos critérios para uso a PEP que estiverem em Belo Horizonte na ocasião da exposição, independente de residir ou não na capital, serão atendidas e recebem o medicamento.

PEP em caso de violência sexual:
2 estabelecimentos atendem pacientes de todos os sexos e idades: o Hospital Odilon Behrens e o Hospital Jília Kubistcheck. Já a Maternidade Odete Valadares atende apenas mulheres com mais de 12 anos. E o Hospital das Clínicas (HC/UFMG) atende o público feminino de todas as idades e masculino até 12 anos.

PEP em casos de não violência sexual, mas risco por acidente, atividade ocupacional, agressões e outros:
A PEP é oferecida para adultos e adolescentes com 12 anos ou mais na UPA 24h. Crianças de até 12 anos devem ser atendidas no Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR-DIP) Orestes Diniz, das 7h às 18h, e no Hospital Odilon Behrens, à noite, feriados e finais de semana.

PEP em casos de sexo consentivo com parcerias de maior risco para HIV e outras IST:
A PEP é oferecida a  adultos e adolescentes a partir de 14 anos no Serviços de Atenção Especializada em Infectologia – SAE, de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, ou na UPA, à noite, feriados e fins de semana.

PrEP:
Já a PrEP é ofertada em 2 no Centro de Testagem Rápida (CTR-DIP) Orestes Diniz e no Hospital Eduardo de Menezes. O paciente precisa telefonar para os serviços para agendar uma consulta. Após agendamento, um infectologista avaliará o paciente diante de exames clínicos e laboratoriais para avaliar se poderá ou não usar a PrEP. Os pacientes são reavaliados após duas semanas, para verificação de exames. O paciente deve retornar ao serviço de saúde a cada 3 meses para acompanhamento médico. Não há fila de espera para o serviço.

De acordo com a Secretaria de Saúde do município, o critério de uso da PrEP no município é ser uma pessoa “com maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV: gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH); pessoas trans e travestis; trabalhadores(as) do sexo e parcerias sorodiferentes (uma das parcerias vive com HIV). O uso da PrEP também é indicado para pessoas que têm relações sexuais frequentes sem o uso de preservativo; uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV); episódios frequentes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs); relações sexuais com parceria HIV positivo que não esteja em tratamento”.