Antonella, bebê nascido com o DNA de dois pais, completa 1 ano

Pequena foi gerada por meio de fertilização in vitro onde foi utilizado o sêmen de um dos pais e o óvulo da irmã do outro pai. "Presente divino mesmo"

Antonella é a primeira criança a nascer no sul do país com o DNA de dois pais
Foto: Divulgação
Antonella é a primeira criança a nascer no sul do país com o DNA de dois pais

Jarbas Bitencourt e Mikael Mielke  se consideram realizados! O casal é pai do primeiro bebê do Sul do país a ter o DNA dos dois pais, Antonella . Eles, inclusive, estão á frente do perfil @2paisdaantonella, onde compartilham detalhes do dia-a-dia da pequena para seus quase 140 mil seguidores.

A menina completou 1 ano esse mês, quando se comemora a luta mundial contra a LGBTfobia. Apesar da coincidência, eles contaram ao iG Queer que, a princípio, não havia feito a conexão entre o momento histórico e o nascimento da menina. Mika, a médica que realizou o trabalho, marcou o grande dia para quando a gestação estivesse por volta de 39 semanas, que coincidiu com o dia 17 de maio.

"Estávamos no hospital, fizemos a indução do parto da Antonella, aí ela nasceu por volta de umas 8 horas da noite. Fomos para quarto, postamos nossa fotinho juntos e, quando a Antonella estava no nosso colo, começamos a pesquisar na internet  e [descobrimos] que era o Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia" , celebrou. 

"Fomos bem acolhidos por diversos casais"

Juntos desde 2008, após 15 anos, eles se casaram e decidiram dar um próximo passo na relação. Nas redes sociais, o casal mostra a rotina de cuidados com a filha, bem como o auxílio a outros casais homoafetivos que desejam ter um bebê.

"Esse é o  meu trabalho e do Mikael, da nossa família, nas redes sociais.
Mostrar a naturalidade da construção familiar. Esse é o nosso objetivo. Nós fomos bem acolhidos por diversos casais" , explicou Jarbas, que também comentou a respeito da idade na qual se tornou pai: perto dos 50.

"Antonella é um presente divino mesmo"

Jarbas lembra que a paternidade não era uma ideia que estava em sua mente. Ele admite que precisou de um empurrão de seu companheiro para considerar a ideia.

"Eu não me via pai com 50 anos de idade. O Michael tem uma parcela muito grande nesse meu despertar da paternidade,  porque quando a gente completou 10 anos, essa pauta começou a ficar muito alta dentro da nossa relação. E eu comecei realmente a entender que a paternidade seria uma coisa bem legal", revelou.

Mika compartilhou como se sentiu com o papel de patriarca: "Antonella é um presente divino mesmo, um presente de Deus [...] Ela não incomoda, ela é muito participativa" , iniciou.

" Ela não reclama dos dentinhos dela nascendo e não teve uma febre durante esse período, não teve nenhum problema de dor, então a gente só tem a agradecer mesmo por esse um ano do ladinho dela. Muito especial, muito especial mesmo", complementou o rapaz de 36 anos.

Nascimento histórico

Engana-se quem pensa que a história de Antonella foi planejada para se tornar o primeiro bebê a ter o DNA compartilhado. O casal conta que,  a ideia de ter uma barriga solidária surgiu durante a conversa com a médica.

A bebê foi gerada a partir da barriga solidária de uma amiga e uma doadora de óvulos da família de Mika unido ao sêmen de Jarbas.

"Eu conversei com a minha irmã mais nova. Ela decidiu doar os óvulos. Então a partir daí a  gente entendeu que a nossa filha ia ter o DNA dos dois papais, porque o Jarbas ia usar o  sêmen dele e eu ia usar os óvulos que a minha irmã doou para mim", detalhou Mikael.

Resistência

Por serem um casal LGBT que fala de temas considerados "heterossexuais", como a criação de um filho, o casal entende o significado da luta que carrega.

"Hoje o nosso Instagram, por mais que nós demonstramos o nosso dia a dia, a nossa  paternidade, o nosso amor familiar, o objetivo dele é mostrar a naturalidade de uma família  homoafetiva", afirmou Jarbas. 


Fertilização in vitro (FIV) e outros métodos facilitam o desejo da paternidade e maternidade de casais da comunidade

Para o especialista em reprodução humana,  Alfonso Massaguer , a FIV é uma oportunidade da medicina que amplia as chances de pais LGBTQIAPN+ que desejam gerar uma crinaça. "Ela possibilita que que hoje em dia qualquer pessoa e qualquer casal tenham filhos", analisa.

"A reprodução humana hoje em dia possibilita com que qualquer pessoa, independente da escolha sexual, possa ter filhos e de uma maneira muito segura" , assegurou.