![Reinaldo Bugarelli, secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBT+ Reinaldo Bugarelli, secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBT+](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/0r/w3/zd/0rw3zd322j0uba2yon07r4glm.jpg)
O Fórum de Empresas e Direitos LGBT+ completa 12 anos em março, consolidando-se como uma das principais iniciativas voltadas à inclusão da comunidade LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho. Criado em 2013, a instituição reúne atualmente 161 empresas e busca promover compromissos concretos para garantir um ambiente corporativo mais diverso e inclusivo.
Em entrevista ao iG Queer , Reinaldo Bugarelli , secretário executivo da entidade, destacou que a iniciativa surgiu diante da ausência de dados sobre diversidade sexual e de gênero no Brasil. "Não há quesitos de diversidade sexual e de gênero nos registros do Estado brasileiro. Isso nos impede de entender a realidade da população LGBTQIAPN+ no trabalho, na educação e na saúde", afirmou.
O fórum foi criado com base na necessidade de compromissos empresariais concretos. "Não queremos apenas networking ou trocas pontuais, isso pode acontecer em qualquer lugar. O que buscamos é algo mais permanente e cotidiano, onde todos trabalhem continuamente em torno de compromissos que, claro, tenham a ver com os direitos humanos e LGBT+, mas sempre na interface com as empresas", explicou Bugarelli. Para isso, a iniciativa estruturou dez compromissos que orientam as empresas signatárias.
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A inclusão de pessoas trans é um dos desafios centrais. Bugarelli lembra que, em 2015, uma ampla cobertura midiática ajudou a mudar a percepção sobre a empregabilidade dessa população.
"Publicamos histórias de pessoas trans já incluídas no mercado de trabalho, além do TransEmpregos falando sobre o tema. Isso foi fundamental para quebrar um paradigma muito forte: a ideia de que pessoas trans não podiam trabalhar. O que eu ouvia era que elas estavam 'fingindo ser algo que não são', que trariam 'confusão' para os funcionários, especialmente em banheiros e vestiários. Mas e o contrário? Por que a obrigação de aceitar a discriminação?", disse.
Reinaldo explica que um dos grandes desafios era mostrar às pessoas trans que elas podiam procurar emprego e que não seriam discriminadas por isso. “As empresas começaram a se esforçar para contratar essas pessoas e, nesse processo, aprenderam e adaptaram seus sistemas. As empresas tiveram que descobrir sozinhas como implementar mudanças básicas, como inserir o nome social no crachá, adaptar o vestuário, definir qual uniforme oferecer a um funcionário trans, entre outras questões. Esse processo foi acontecendo de forma artesanal, empresa por empresa, e eu, particularmente, acho que ele é muito lento.”
Ele continua: “Mas, ao mesmo tempo, essas experiências criaram um aprendizado valioso. O Fórum tem sistematizado esses casos de sucesso para servir de referência. O que uma empresa descobriu sobre benefícios para pessoas trans? Como garantir atendimento adequado nos planos de saúde corporativos, incluindo hormonioterapia e cirurgias? Como integrar essas práticas nas políticas internas e depois levá-las para o debate público?”
Impacto
Atualmente, 60% das empresas que participaram de um levantamento interno do fórum afirmaram contratar pessoas trans. O objetivo agora é ampliar essa participação e garantir que mais signatárias implementem ações efetivas. "Queremos que mais empresas respondam e se comprometam com essa mudança", destacou.
Casos de sucesso mostram o impacto positivo da inclusão. Segundo Reinaldo, além da geração de empregos, a iniciativa criou esperança na população trans. "Muitas pessoas trans passaram a acreditar que podiam bater na porta dessas empresas e serem contratadas", comentou.
Ainda assim, desafios persistem. Entre os principais, estão a adequação de processos internos, como o uso do nome social e a adaptação de benefícios. "Temos um avanço no reconhecimento de direitos, mas ainda precisamos consolidar mudanças práticas no dia a dia das empresas", afirmou.
A segurança das pessoas trans no ambiente de trabalho e no trajeto até ele também é uma preocupação. "Empresas começaram a perceber que não basta contratar. É preciso garantir um ambiente seguro, dentro e fora do local de trabalho", destacou Reinaldo.
“O Carrefour, por exemplo, foi pioneiro em ações afirmativas para pessoas trans desde 2014 e 2015. Mas a experiência mostrou que, para além do emprego, havia outro obstáculo grave: a segurança. Houve casos de funcionários trans que, no caminho para o trabalho, eram agredidos – no ponto de ônibus, dentro do transporte público, na rua.”
Ele continua: “Esse tipo de violência não é um caso isolado. Um episódio marcante foi o ataque na Avenida Paulista, onde um jovem gay foi brutalmente agredido com uma lâmpada florescente – um caso que chocou o país. Esses episódios reforçam a necessidade de uma atuação mais ampla das empresas, que vai além da contratação e precisa ajudar a transformar a sociedade.”
Para o futuro, um dos principais objetivos do fórum é pressionar por mudanças nos registros estatais para que a diversidade sexual e de gênero seja reconhecida nos cadastros oficiais. "Assim como ocorreu com o quesito raça em 1999 e com a inclusão de pessoas com deficiência em registros trabalhistas, precisamos garantir essa visibilidade para avançarmos em políticas públicas", concluiu.