Violência e vulnerabilidade impactam na trajetória de pais e mães LGBT

Além das questões inerentes à paternidade e maternidade, muitos desistem dos planos de serem pais ou mães devido à insegurança com relação à própria existência

Foto: Kampus Production/Pexels
Alguns desistem da maternidade ou paternidade devido à incerteza


maternidade e a  paternidade são assuntos muito debatidos no meio LGBTQIAP+, principalmente porque falar sobre esse grupo social envolve muitos processos excludentes e, entre eles, a rejeição das famílias. Por conta disso, quando um casal LGBT decide ter um filho é quase certo de que virão comentários negativos em algum momento, além das questões inerentes que envolvem ser mãe ou pai. Tendo isso em mente, é válido o debate sobre a saúde mental dessas mães e destes pais.

Ligia Dantas é psicóloga clínica especializada em reprodução humana e conta ao iG Queer que notou um aumento na procura de casais LGBT+ que visam constituir família. “Há cada vez mais gente procurando os consultórios de reprodução humana em busca de ter um filho. Isso particularmente me alegra muito porque ainda temos uma luta grande contra o preconceito a ser vencida, mas ainda assim existem mais e mais casais homoafetivos e pessoas trans que lutam por esse sonho. Essa grande quantidade, a meu ver, é uma forma de dizer que o amor está vencendo”. 

Ao ser questionada sobre quais as principais questões emocionais e psicológicas enfrentadas por casais LGBT que tentam constituir uma família , Ligia pontua primeiramente o fato de que alguns não conseguem formar a criança por meios naturais. “Precisar da medicina e da tecnologia para constituir a família é uma questão sensível para estes pais e mães, além do fato de terem que escolher entre variadas técnicas e possibilidades de viabilizar esse desejo. Esses fatores podem gerar angústia; escolher quem vai doar os gametas ou quem vai gestar também é um ponto delicado. Mas tudo pode ser conversado para tornar essa jornada mais tranquila”, explica. 

A especialista aponta ainda que o fato de se tratar de um casal LGBT não necessariamente significa que será necessário o acompanhamento terapêutico, pois envolve fatores muito relativos. “As dificuldades são inerentes, e ter um filho é uma novidade independentemente da orientação sexual. Cada caso é um caso. A função materna e paterna não dependem do gênero, por exemplo: o ato de acolher ligado à figura da mãe, o ‘holding’, como chamamos em psicanálise, às vezes é realizado por um homem. Desafios existem em casas cis-hétero ou não. As dificuldades de ter um filho são inúmeras, e a busca por um acompanhamento psicológico precisa de uma demanda específica ou um desejo das pessoas envolvidas, mas não exclusivamente por se tratar de uma família LGBT”. 

Apesar da variedade de possibilidades que existem atualmente para que pessoas LGBT possam se tornar mães e pais, existem outros fatores que impõem obstáculos na trajetória desses indivíduos, como explica a especialista. De acordo com ela, a violência e a abordagem LGBTfóbica que dominam as estruturas sociais tem grande influência nos planos familiares da comunidade LGBTQIAP+.

“Vivemos em um país muito violento; a pessoa tem medo de não estar ali para proteger esse filho sendo que ela mesma não tem certeza de que irá sobreviver. A ameaça que essa população acaba sofrendo é o impacto principal, tanto que muitos desistem desse projeto por conta da incerteza da própria vida e colocar um filho em um mundo cruel, sujeito a sofrer tanto quanto eles. É uma questão complexa, mas entendo que o amor está vencendo, dada a quantidade de casais que buscam construir uma família”, conclui.

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