'Quero me comunicar com todos', diz Grag Queen sobre 'Party Everyday'
A vencedora do “Queen Of The Universe”, lançou single e comentou sobre o processo, falou também sobre o papel da arte Drag em sua vida e seus desejos na música
Grag Queen, a artista brasileira vencedora do reality show internacional “Queen Of The Universe” , gravado no Reino Unido, lançou seu single “Party Everyday” na última quinta-feira (17) em todas as plataformas digitais. No domingo anterior, a artista cantou no programa “Domingão com Huck” e vem conquistando seu espaço no competitivo mercado de drags cantoras brasileiras.
O seu novo single, composto por ela e produzida por Ruxell e Pablo Bispo, apresenta também sua nova era, pois Grégory Mohd, que dá vida a Grag, já foi vocalista do duo de drag queens Armário de Saia.
Ela explica que compôs a canção após sair campeã do reality para comemorar as suas conquistas recentes: “Aconteceu uma reviravolta na minha vida e eu quero realmente festejar com todas as pessoas, ser a prova viva que ainda vale a pena sonhar e acreditar em seus sonhos”, declara.
No processo de composição, ela se inspirou musicalmente no que viveu e no que está escutando recentemente. A cantora diz que tem ouvido muito Nathy Peluso e Rosalía, mas o que mais a inspira é saber que a cena drag é imensa e, lá em Londres, onde foi gravado o reality com produção de RuPaul Charles, pôde conhecer profissionais de vários países.
Já sobre o visual de seu mais recente clipe, que teve inspiração no título de Rainha do Universo que recebeu ao fim do reality, ela é categórica ao dizer que queria tornar "esse universo físico, todo esse poder, essa coisa galática, os espaços e a Deusa. Por isso vai ter poderes, energias cósmicas e tudo que representa uma rainha do Universo”, detalha Grag.
O clipe lançado na última sexta conta a história de quatro pessoas sorteadas para uma experiência chamada “GRAG TOUR”, que permite aos ganhadores conheceram a Deusa, dona de todas as galáxias. Eles estão animados, até que descobrem serem vítimas de uma armação para serem possuídos pela magia da Deusa e o ritmo do lugar. Vitin Allencar (Dois Pontos Filmes) que dirigiu o clipe.
Além disso, ela já dá um pequeno spoiler sobre o próximo clipe “Fim de Tarde”, gravado em Los Angeles, que lançará em breve. “Eu escrevi [essa música] no dia que li as notícias e estava tudo tão caótico e eu fiz uma música para mim. Assim como 'Bota Fé', a Fim de Tarde, eu escrevi também para me animar e me levantar”.
Em sua arte, deseja “levar nossa brasilidade para fora”, porque foi assim que ganhou o reality, mostrando essa “astúcia brasileira”
, diz a cantora ao comentar sobre ser a única Drag Queen brasileira que participará da RuPaul's DragCon.
Bastidores
A artista contou que, no processo de gravação, o maior desafio para ela foi a coreografia, pois ela não é acostumada a dançar: “Não só dançar, mas dançar com todo o arsenal que uma Drag carrega”, enfatiza.
Em outro momento, afirma que o maior desejo ao lançar o single é se comunicar com todos, por ser uma música que será cantada em inglês e português: “Eu quero muito usar meu trabalho para mostrar para as pessoas que a arte Drag é uma arte de qualidade, de nível altíssimo e que com ela dá para competir e estar no mesmo nível que pessoas de fora do Brasil”.
E embora a música fale sobre comemoração, ela ficou preocupada de não estar no clima festivo um dia antes da gravação, pois seu rosto ficou com uma alergia, mas conta que “a maquiagem feita no dia da gravação ajudou e consegui gravar sem problemas”.
Furar a bolha
A artista falou também sobre uma possível colaboração com Gloria Groove, personalidade que ajudou ela no processo de virar drag queen. Atualmente, as duas conversam e pensam em lançar algo juntas.
“Eu amo a Gloria, é uma das minhas inspirações, ela já fazia Drag e já cantava antes de mim, e se não fosse ela, eu também não estaria aqui hoje”, revela. "Trocamos muitas ideias sobre isso. A gente também é da mesma gravadora [SB Music], e estamos em casa, e é só a gente dizer 'vamos', mas estamos só esperando o momento certo”.
Além disso, comentou sobre o desejo de fazer um fazer um feat com a cantora Liniker: “É uma artista que eu amo demais, que me mostrou a partir da arte dela o quanto eu posso ser livre. Eu conheci ela em uma fase que eu fazia musical e eu não podia fazer tatuagem, pintar a unha ou cortar a sobrancelha no meio. E eu cheguei a ser demitida de um musical por raspar a sobrancelha no meio para poder fazer a arte drag. E, nessa demissão, eu fui ao festival Psicodália e foi lá que eu me apaixonei por ela”.
E como artista, não descarta também a possibilidade de inovar dentro do cenário musical: “Devido à minha versatilidade, eu gostaria de colaborar com artistas inusitados. Como eu sou drag, as pessoas falam: ‘Gostaria que você cantasse com outra drag’, isso é incrível, mas imagina a Grag cantando um sertanejo, um trap, furando bolhas, entrando em lugares que drag queens frequentemente não estão inseridas. Eu quero ouvir ‘que feat vai ser esse? O que esperar disso?’ Eu gosto disso”.
O poder do reality
A participação no “Queen of the Universe”, mudou sua vida completamente e por isso ela acha importante lançar o single. Grag destaca que cada vez mais tem crianças e adolescentes que curtem seu trabalho e resgata na memória uma época em que ver uma drag ganhando destaque era raro de se ver.
"Eu fico pensando lá atrás, quando era adolescente, não tinha essa cabeça aberta para ser fã de uma drag queen. Às vezes eles fazem trabalho sobre mim e a arte drag queen e eu acho isso muito poderoso. A nossa arte, nossa voz está chegando em vários lugares e enxergo isso como uma evolução”, reflete ela.
A musa relembra ainda do dia que venceu a competição do reality: “Foi surreal, ainda não acredito, saí de Canela, Rio Grande do Sul, e fui lá e cantei, dancei, falei inglês em frente das pessoas, algo que eu tinha pânico. Ainda não caiu a ficha completamente. Ver a Michelle Visage levantando para me aplaudir, ainda penso ‘meu deus sou eu? O que tá acontecendo, é a mesma vida?”, cita.
Outro ponto é que, para além do prêmio em dinheiro, o reality ajudou a melhorar muito a autoestima da artista: “Nós [pessoas LGBTQIA+] já sofremos tanta opressão, somos rejeitados e, quando a gente tenta entrar em uma carreira artística sendo brasileiro, há muita gente para te dizer que não vai dar certo, que não vai rolar, às vezes até dentro da sua própria casa. Por isso a gente tende a ser mais desacreditado, mas depois que a RuPaul coloca 200 mil dólares na sua mão e o título de Rainha do Universo, tudo muda”, celebra.
** Julio Cesar Ferreira é estudante de Jornalismo na PUC-SP. Venceu o 13º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão com a pauta “Brasil sob a fumaça da desinformação”. Em seus interesses estão Diretos Humanos, Cultura, Moda, Política, Cultura Pop e Entreterimento. No iG, é estagiário de Último Segundo.