10 livros de ficção sobre experiências de mulheres lésbicas

Curadora reúne autoras dos dias de hoje que abordam a diversidade da lesbianidade, seja em HQs ou em forma de poesia

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No Dia da Visibilidade Lésbica, conheça 10 livros que falam sobre experiências de mulheres lésbicas



Neste dia 29 será celebrado o Dia da Visibilidade Lésbica. A data é considerada importante por fomentar discussões sobre como combater a lesbofobia , além de ações para celebrar mulheres lésbicas e as diferentes formas de lesbianidades existentes no mundo.

A literatura pode ser um artifício importante para gerar identificação e convidar pessoas ao exercício da empatia. Por esse motivo, convidamos a jornalista Jéssica Balbino, que também escreve sobre literatura e corpos dissidentes, para fazer a curadoria de uma lista de livros escritos por mulheres lésbicas sobre diversos aspectos das lesbianidades.


Entre os 10 livros escolhidos por Balbino estão poesias, histórias em quadrinhos, distopias, contos, romances e muito mais. “Elencar apenas uma dezena de livros é uma tarefa difícil quando pensamos no quanto tem a ser dito e lido; e em como é urgente que o tema seja debatido a partir de múltiplos olhares, recortes e atravessamentos. Espero que as obras listadas perturbem e desloquem quem as ler, como fizeram comigo”, expressa a curadora.

1- “No útero não existe gravidade”, de Dia Nobre (Editora Penalux)

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'É impossível ler e não se emocionar, sair inteira' diz Jéssica Balbino sobre livro de Dia Nobre


“É um livro que pode ser lido como autoficção, romance, conto ou poesia... Você decide! A estreia da autora Dia Nobre nas narrativas mais longas é marcada por uma protagonista que sofre o abandono materno e lida, a partir daí, com memórias, traumas, alegrias e a própria subjetividade.

Com uma escrita híbrida, que transita entre estilos de forma impecável, o livro é um convite a uma olhada no espelho, com pena do que se pode enxergar ali. Além da belíssima narrativa, o livro traz ilustrações da artista Monique Malcher. É impossível ler e não se emocionar, sair inteira. E são justamente esses cacos que fazem a história, que fazem a vida.”

2- “Antes que eu me esqueça”, com organização Gabriela Soutello (Quintal Edições)

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'Todo processo editorial foi feito por um grupo inteiramente diverso e composto por mulheres lésbicas e bissexuais'


“Com textos exclusivos sobre memória, a antologia tem organização da escritora Gabriela Soutello e reúne 50 escritoras lésbicas e bissexuais. O livro tem diversidade do início ao fim: são múltiplas raças, religiões, formas de escrita e narrativas reunidas numa única obra que passeia por diferentes formatos.

O livro traz textos de autoras estreantes, bem como de autoras consagradas no país, como Natália Borges Polesso, Tatiana Nascimento, Taís Bravo, Dia Nobre, Nina Rizzi, Paloma Franca Amorim, Valeska Torres, entre outras. Todo processo editorial foi feito por um grupo inteiramente diverso e composto por mulheres lésbicas e bissexuais; além de contar com a capa da artista Júlia Bertú, imprimindo em arte o conjunto dos textos presentes na antologia.”

3- “Interiorana”, de Nívea Sabino (Padê Editoral)

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'É um livro que atravessa vidas, muitas Minas Gerais, silêncios, lutas e belezas'


“Na estreia, a escritora mineira Nívea Sabino oferece o melhor do amor, da poesia e do combate em sua escrita, com poemas sobre protesto, lirismo e muita homenagem à terra natal, Nova Lima — sem esquecer de Belo Horizonte, terra que a acolheu.

Recheado da oralidade, tão comum e presente nos saraus, Nívea usa as palavras com maestria e convida quem lê para as ruas, para os espaços comuns e para o combate, sem esquecer da sutileza, da beleza e da simplicidade que habita o cotidiano. ‘Interiorana’ é um livro urgente, corporal e afetivo. É um livro que atravessa vidas, muitas Minas Gerais, silêncios, lutas e belezas.”

4- “A extinção das abelhas”, de Natália Borges Polesso (Companhia das Letras)

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'A obra nos traz olhares sobre a falta de empatia e respeito às pluralidades com pessoas como as LGBTQIAP+'


“Usando a distopia [gênero de títulos como ‘O conto da Aia’ e ‘Jogos vorazes’, por exemplo] como recurso narrativo, a premiada escritora Natália Borges Polesso chega com o novo romance. Como o nome e os tempos já anunciam, o livro aborda como a extinção dos pequenos insetos causaria o fim do sistema como conhecemos.

Ambientado em um futuro logo ali, a obra conta a história de Regina, que foi abandonada pela mãe, e nos traz olhares sobre a falta de empatia e respeito às pluralidades com pessoas como as LGBTQIAP+ . Elas passam a viver na clandestinidade desde então, num universo dominado por pessoas ricas. A experiência de leitura é intensa.”

5- “Elas marchavam sob o sol”, de Cristina Judar (Editora Dublinense)

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'Cristina Judar garante a voz da jovem Ana e da mística Joan, personagens que são presas políticas torturadas durante a ditadura militar.'


“A resistência é a marca do novo romance da premiada escritora Cristina Judar. Ela apresenta aos leitores uma escrita híbrida, com a linguagem que passeia entre cartas, roteiros de propaganda e artigos. Assim, ela garante a voz da jovem Ana e da mística Joan, personagens que são presas políticas torturadas durante a ditadura militar. Na obra, Cristina não desvia das preocupações que tem no mundo real e insiste em temas como os padrões de beleza, a pulsão erótica, o desejo e a violência contra as mulheres; mas desta vez com um novo elemento: a clausura.”

6- “O essencial de Perigosas Sapatas”, de Alison Bechdel (Editora Todavia)

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'Por mais de duas décadas, a autora deu vida a Mo, Lois, Ginger, Sparrow e suas amigas — quase todas lésbicas — em publicações em dezenas de jornais com Perigosas Sapatas.'


“As fãs de HQ piram nessa novela ilustrada de Alison Bechdel, autora da premiada graphic novel ‘Fun home’. Por mais de duas décadas, a autora deu vida a Mo, Lois, Ginger, Sparrow e suas amigas — quase todas lésbicas — em publicações em dezenas de jornais. ‘Perigosas Sapatas’ é considerado um marco na cena dos quadrinhos norte-americanos e chegou recentemente ao Brasil em uma coletânea deliciosa, que é tão divertida quanto crítica, tão irreverente quanto destemida e tão essencial quanto a arte.

Alison conta a vida das personagens em tempo real, com seus dilemas, suas histórias, suas paixões, seus empregos e tudo mais que é ordinário, porém não menos político quando o tema é representatividade.”

7- “O enterro das minhas ex”, de Anne-Charlotte Gautier (Editora Nemo)

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'A narrativa gráfica remonta os relacionamentos da vida dela da adolescência até a vida adulta.'


“Protagonizado por Charlotte, o livro, que tem traços e roteiro de Anne-Charlotte Gautier, conta a história da descoberta da sexualidade de uma mulher que toma consciência de que é lésbica, enquanto amor e amizade se confundem no ambiente escolar. A narrativa gráfica remonta os relacionamentos da vida dela da adolescência até a vida adulta, propondo os elementos que trazem a compreensão do mundo e do que é integrá-lo gostando de outras mulheres — tudo isso enquanto dribla desejo e intolerância, medo e liberdade, rejeição e desejo.

O livro fala de lesbofobia, bullying e machismo de uma forma madura, consciente e necessária. A obra parece um acerto de contas em que a vingança é aquela que já sonhamos um dia. A autora propõe, de alguma forma, um desfecho às histórias que fizeram da protagonista quem ela é.”

8- “Sereia no copo d’água" de Nina Rizzi (Editora Jabuticaba)

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'As poemas de Nina dizem tudo que ficou por dizer, calado na bala que encontra corpos cotidianamente num país de genocídios velados.'


“‘Quantos desertos a atravessar até surgir um livro como um útero sangrando nas mãos?’, é o que questiona Nina Rizzi ao escrever sobre os bastidores de sua sereia no copo d’água, essa imagem sedutora e apaixonante assim como suas poemas — sim, é assim que ela se refere ao que escreve, realizando um exercício de pertencimento, voz e corpo.

Na obra, tudo está acontecendo, se movendo e inundando. E é agora. As poemas de Nina dizem tudo que ficou por dizer, calado na bala que encontra corpos cotidianamente num país de genocídios velados. Neste livro, mulheres, crianças e todos nós somos personagens de uma realidade tão bem escrita que pode até ser confundida com a ficção, mas quem é, sabe: não existe copo capaz de apreender sereias.”

9- “Garota, mulher, outras”, de Bernardine Evaristo (Companhia das Letras)

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'Distante das cartilhas feministas — que ao tentar libertar, aprisionam —, Bernardine Evaristo troca as personagens de posição o tempo todo e consegue ser singular ao escolher a diversidade.'


“Vencedor do Booker Prize de 2019, ‘Garota, mulher, outras’ pode ser resumido como a polifonia da diversidade. Bernardine Evaristo é muito feliz na escolha narrativa da obra, que nem de perto é tradicional: sem letras maiúsculas e composta por versos, ela controla o ritmo do livro, imprimindo originalidade à trama. Em inglês, o estilo é chamado de fusion fiction.

Ao todo, 12 pessoas compõem personagens com idades entre 20 e 90 anos, vivendo na Inglaterra a partir de diferentes descendências africanas e/ou caribenhas. A habilidosa engenharia criada pela autora exprime a pluralidade dos atravessamentos nestas múltiplas vidas de 11 mulheres e uma pessoa identificada como não binária. Distante das cartilhas feministas — que ao tentar libertar, aprisionam —, Bernardine Evaristo troca as personagens de posição o tempo todo e consegue ser singular ao escolher a diversidade.

Temos uma obra sofisticada, longe de ser professoral, panfletária ou cansativa — apesar do número de páginas. Uma leitura saborosa e provocativa.”

10- “Jamais peço desculpas por me derramar”, de Ryane Leão (Editora Planeta)

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'A poesia da Ryane é simples, direta e calorosa. Ela tem o dom de ser intensa e, por isso, de falar com quem se permite abrir seus livros e ler os escritos como uma conversa ancestral.'


“‘Meu sonho é ser o livro de cabeceira de alguém’, disse a escritora Ryane Leão, lá pelos idos de 2014 ou 2015. O que seria de nós se não sonhássemos a grandeza que desejamos ser? E é sobre isso que ela fala no seu segundo volume de poesias, que se tornou um best seller.

A obra gira em torno do que ela mesma diz: ‘ela é tudo aquilo que sobreviveu’, como anuncia em um de seus versos que dialogam e tiram mulheres para dançar diariamente, seja nas páginas da obra, seja nas redes sociais. A poesia da Ryane é simples, direta e calorosa. Ela tem o dom de ser intensa e, por isso, de falar com quem se permite abrir seus livros e ler os escritos como uma conversa ancestral.”