80 pessoas transexuais foram mortas no primeiro semestre de 2021, diz associação

Entre as vítimas, a adolescente Keron Ravach, de 13 anos, é a mais jovem morta desde o começo do levantamento

Foto: Reprodução/ANTRA
Levantamento da Antra mostra diminuição da expectativa da população trans


O Brasil teve 80 pessoas  transexuais mortas no primeiro semestre deste ano, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Uma delas foi a adolescente Keron Ravach, de 13 anos, assassinada a pauladas em janeiro, no Ceará. Keron é a vítima mais jovem na história do monitoramento, feito pela Antra há quatro anos. Segundo a polícia, ela foi morta por um rapaz de 17 anos. 


Outro menor de idade é suspeito de atear fogo a Roberta da Silva, de 33 anos, no último dia 24, em Recife. Ela está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde então e já teve um braço e parte de outro, amputados. 

"Nunca houve um momento tão vulnerável e violento para pessoas trans como o que estamos vendo agora", diz Bruna Benevides, coautora do levantamento para o G1. 

O relatório da Antra é feito a partir de reportagens e relatos de organizações LGBTQIA+. A associação denuncia que não existem dados oficiais e por isso, entende que o número de assassinatos no período pode ter sido ainda maior. 

O Brasil se manteve em 2020 como o país que mais mata trans e travestis. Ao longo do ano foram 175 assassinatos. Desses, 100 foram contabilizados no primeiro semestre, número inferior ao do mesmo período de 2021, mas Bruna entende que a comparação não é precisa, uma vez que a pandemia não estava estabelecida no Brasil no início de 2020. 

Segundo ela, os desdobramentos da crise com a Covid pioraram condições de vida da população trans, sobretudo para quem vive da prostituição, caso da maioria das vítimas de assassinatos. Neste primeiro semestre de 2021, a maioria das mortes violentas foi de mulheres trans/travestis negras, perfil que se repete ano a ano. Dois homens trans também foram vítimas. 

Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo seguem sendo os estados com o maior número de casos. "É um peso que está dentro de mim, que eu não consigo dormir direito, trabalhar direito, e eu quero que a Justiça aja mais rápido", disse o pai de Milena Massafera, morta na casa dela, em Ribeirão Preto (SP), em abril.

Expectativa de vida pode ter baixado

Entre as vítimas de assassinatos no primeiro semestre que se sabe a idade, a maioria tinha menos 35 anos, considerada a expectativa de vida da população trans no Brasil. 

"(Após o caso Keron, de 13 anos), já há algumas ativistas que têm falado na queda dessa expectativa", diz Bruna Benevides. "Isso dá um recado muito violento para a nova geração", adverte a ativista, que também é uma mulher trans. "Essas pessoas passam a não mais enxergar um futuro promissor", diz. 

O monitoramento da associação, assinado por Bruna e por Sayonara Nogueira, presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), contabiliza ainda 33 tentativas de assassinato de pessoas trans no 1º semestre, incluindo o caso de Roberta.