A chuca ainda pode ser chamada de lavagem do reto ou enema (foto), este último também é o nome de um equipamento descartável para fazer a limpeza.
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A chuca ainda pode ser chamada de lavagem do reto ou enema (foto), este último também é o nome de um equipamento descartável para fazer a limpeza.

O sexo anal carrega tabus ligados à religiosidade , à dor e à preparação para a prática. Esse momento que precede o ato muitas vezes é associado apenas à limpeza do ânus e do reto, o que é conhecido popularmente como “chuca” e que, por falta de informação, costuma gerar polêmicas sobre a necessidade de ser feita ou não e se faz mal à saúde ou não.

A chuca é a utilização de água ou algum outro produto para limpar o ânus, esvaziar o canal anal e o reto em especial antes de fazer sexo, com o objetivo de evitar que as fezes saiam, sujem e gerem odor durante a relação. A prática também pode ser chamada de lavagem do reto ou enema, este último também é o nome de um equipamento descartável para fazer a limpeza.



Segundo a sexóloga Magali Marino, não é necessário ou obrigatório fazer chuca antes da prática sexual, mas é importante que cada pessoa conheça o seu corpo e seus limites. “Você pode fazer uma chuca por uma questão pessoal, da sua relação com as fezes. Se você tem nojo, não lida bem com a possibilidade de se sujar, você pode fazer ou solicitar que o outro faça para se sentir mais confortável, mas não é necessário fazer a chuca para ter uma boa relação sexual. Se você estiver com o intestino esvaziado na hora do sexo anal provavelmente não vai sujar nada, não vai ‘passar cheque’ [sujar o companheiro com fezes]”, afirma Magali.

Para ela, o mais importante é que a pessoa que vai fazer o sexo anal receptivo [passivo] consiga relaxar e estar confortável durante a prática. Se, para isso, ela precisa fazer a lavagem interna, sua vontade deve ser respeitada. “Quando se relaxa os esfíncteres, o sexo anal é muito prazeroso, tanto quanto o sexo vaginal, clitoriano e peniano porque temos muitas terminações nervosas naquela região. Pode ser uma prática de muito orgasmo se você estiver relaxado e confortável”, explica a sexóloga.

O autônomo Anderson Araújo, 23, namora há nove meses e nunca fez sexo com seu parceiro sem que antes tivesse feito a chuca. “Sempre que eu tenho algo marcado ou uma situação em que possa acontecer o sexo, eu faço. Me sinto desconfortável quando não. Já fiz sexo sem ter feito a chuca, mas só me sinto bem quando faço”, comenta.

Anderson conta que utiliza a ducha higiênica, comumente vendida em farmácias, para fazer o procedimento antes do ato sexual. “Eu uso a ducha ginecológica, mas eu sempre pesquisei sobre coisas desse tipo e, há alguns anos, vi que as pessoas faziam com algodão molhado. Cheguei a fazer algumas vezes, mas era horrível”, lembra.

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Sexóloga Magali Marino:
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Sexóloga Magali Marino: "o sexo anal pode ser uma prática de muito orgasmo se você estiver relaxado e confortável".

De acordo com a médica coloproctologista Marleny Figueiredo, é muito comum que as pessoas façam a chuca utilizando a mangueira do chuveiro do banho ou a ‘duchinha’ da privada. Nesses casos, ela aponta para cuidados necessários para não machucar a região.

“Há que se ter cuidado com a quantidade de água que entra e ao introduzir o que se for usar para jogar a água. O mais apropriado seria substituir pelo ‘kit enema’, também chamado de ducha higiênica, pois é mais macio para introduzir, com menos chance de machucar o ânus, e mais fácil de controlar a quantidade de líquido que entra”, explica a médica.

A profissional afirma que é necessário ter cuidado com a frequência com que a chuca é feita. “Difícil falar de uma frequência ideal, mas não é recomendado que se faça todos os dias. Cada um conhece o funcionamento do seu intestino e sabe quando tem mais ‘risco’ de ter acidentes. É interessante fazer apenas nesses momentos. Se for fazer mais vezes, que haja algum intervalo, de 1 dia ou mais, para deixar o intestino funcionar espontaneamente também”, afirma. O intervalo entre a realização de uma chuca e outra pode evitar problemas como prisão de ventre.

“É importante lembrar que nada impede que, dali a algumas horas, mais fezes cheguem no reto e, se ainda tiver muita água misturada, que não foi eliminada de cara, mais chance de as fezes estarem mais líquidas e talvez mais chances de ter um acidente. Então a dica é fazer o mais perto da hora H, com não mais que 200mL de água”, completa coloproctologista.

Entre as principais recomendações da médica estão: não utilizar água quente ao invés de água fria, não adicionar produtos químicos na água, ter cuidado com o objeto utilizado para jogar a água para dentro do reto e ter cuidado para não utilizar água demais – o que pode causar ressecamento das fezes e prisão de ventre. A falta de cuidados pode, criar feridas na região, funcionando como porta de entrada para  infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Desconfortável com a prática, para o estudante Michael Benevides, 26, fazer ou não a chuca sempre foi uma questão delicada, mas, depois de algumas experiências negativas, decidiu que não faria mais a limpeza interna antes de suas relações sexuais.

“Quando era mais novo fazia, mas hoje em dia é bem mais difícil. Nunca tive problemas de saúde por conta da chuca, mas era desconfortável fazer. Já cheguei a chorar em um namoro de cinco anos porque fiz a chuca, mas, mesmo assim, acabou acontecendo ‘aquela coisa chata’.", lembra Michael.

Ele conta que, mesmo quando fazia a chuca ficava muito preocupado se iria se sujar ou não. "Isso afetava muito o sexo, tirava o tesão, por diversas vezes não conseguia sentir prazer de tanto nervosismo. Hoje em dia eu lido um pouco melhor com isso. Chateia? Sim e muito, mas é uma coisa que acontece fazendo a chuca ou não. Conhecemos nosso corpo e sabemos o que acontece por lá”, afirma. 

“É um grande tabu na comunidade LGBTQIA+ . Não tem nada de errado em fazer a chuca ou não, mas acho que como lidamos com isso é o diferencial, tanto para o ativo quanto para o passivo. Aprender a lidar com essas situações melhora muito a vida sexual”, diz o estudante.

De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Vinícius Lacerda não há motivos para deixar de fazer a chuca, caso a pessoa sinta-se mais confortável com isso.

Mas, para ele, é preciso ter atenção para fazer corretamente e evitar problemas no organismo: “Usar pouca água, em torno de 200 e 300 ml, o suficiente para lavar o reto, que é onde ocorre a maior parte da penetração. Se você jogar água demais ela pode subir e trazer as fezes que estariam paradas para a relação sexual. Não use duchas compartilhadas, higienize a ducha de casa e, quando estiver na rua, use reservatórios descartáveis ou enemas – alguns são vendidos em farmácias. Modificações na dieta podem ajudar nesse processo também”, explica.

Uma busca rápida na internet é suficiente para encontrar diversos vídeos com promessas de receitas milagrosas e infalíveis para fazer a chuca perfeita. Suplementos "mágicos" também são vendidos com a oferta de expelir todos os resíduos de fezes, evitando a necessidade de uma lavagem interna antes da prática sexual. É o caso de produtos como “Xô Xuca” e “Pure For Man”.

De acordo com Vinícius Lacerda, esses produtos são cápsulas com fibras e probióticos como o Psyllium, semente de chia, semente de linho e aloe vera, que ajudam na formação do bolo fecal e diminuem a quantidade de resíduos no intestino, o que pode contribuir de alguma forma. “Porém, deve-se atentar que tais produtos não são milagrosos e que, eventualmente, a presença de fezes na penetração anal pode ocorrer mesmo com o uso desses produtos”, diz o médico em uma publicação em uma rede social que utiliza para dar orientações de saúde.

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