Ele cuidava de um grupo de fiéis, mas foi expulso da igreja por ser gay

Alessandro já não era mais um padre da igreja católica, mas, mesmo assim, foi rejeitado pela igreja por ter se casado com um homem

Padre Alessandro e converteu à Humanidade Livre após sofrer uma desilusão com a Igreja Católica
Foto: Arquivo pessoal
Padre Alessandro e converteu à Humanidade Livre após sofrer uma desilusão com a Igreja Católica

Alessandro de Lucca cresceu muito ligado à Igreja Católica no interior do Mato Grosso do Sul. Ele se tornou frade franciscano ainda na juventude, mais deixou a ordem após uma desilusão com a religião. Com o tempo, ele voltou a se aproximar do catolicismo, mas foi alvo de discriminação por um padre pelo fato de ser casado com um homem. Após isso, ele conheceu  a Humanidade Livre, religião fundada por Padre Beto, e que prega que o importante é amar.

Padre Alessandro entrou no seminário aos 19 anos com o desejo de integrar a Ordem Franciscana. Depois de sete anos, teve um problema de saúde e precisou passar por uma séria cirurgia. Ele conta que não encontrou o apoio que precisava de seus colegas do catolicismo e decidiu se afastar da igreja.

Após anos longe da Igreja, começou a sofrer com os problemas de saúde novamente. Em 2007, ele morava em São José dos Campos, interior de São Paulo. Padre Alessandro, então, se reaproximou do catolicismo, depois de um período ligado ao Candomblé, mas, dessa vez, com uma nova fé. Ele começou a frequentar os grupos de fiéis em Frei Glavão e prometeu que faria uma novena para o santo todos os anos. Quando retornou ao Mato Grosso do Sul, levou junto essas práticas religiosas.

De volta à cidade de Vicentina, Padre Alessandro já era casado com seu marido, Elias de Lucca, no civil -- e obteve a permissão do padre local para comandar um grupo de fé a Frei Galvão na igreja da cidade. Porém, esse religioso teve que deixar o município e outro padre assumiu a função de comandar a Igreja no local. “O maior inferno da minha vida foi a vinda desse padre para Vicentina. Ele simplesmente, em cima do altar, falou sobre a minha sexualidade e sobre a minha proibição de ser responsável pelo grupo de Frei Galvão. Foi um momento que era melhor ele ter me dado um murro, quebrado todos os meus ossos. Ele disse em alto e bom som: ‘A partir de hoje, está destituído o cargo do Alessandro, por ser homossexual casado com outro homossexual em civil”, conta.

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Após isso, Padre Alessandro ainda continuou tendo contato com a igreja católica por um tempo, até o dia que foi expulso de uma missa. “Quando eu cheguei lá, os conservadores disseram que eu não era bem-vindo e que o padre havia pedido a minha excomunhão, que não foi levada para frente porque não havia motivo para isso”, relembra. Em paralelo, ele continuou tocando o grupo de Frei Galvão em sua casa e decidiu que queria também um casamento religioso.

Foto: Arquivo pessoal
Padre Alessandro no casamento com o marido Elias de Lucca

“No início, eu queria mesmo desaforar a Igreja Romana, mas, depois, não. Com o tempo, foi passando”, lembra. Padre Alessandro conheceu o trabalho de Padre Beto, outro padre que deixou a igreja católica e fundou a Humanidade Livre, pela internet e o contatou. Alessandro percebeu que não queria apenas um casamento. O religioso resolveu fazer parte da Humanidade Livre. Um dia depois de seu casamento, em janeiro de 2018, ele foi ordenado padre e, desde então, lidera a religião na cidade onde mora.

Humanidade Livre

A Humanidade Livre foi fundada por Padre Beto após o religioso ser excomungado da Igreja Católica por dar uma entrevista criticando a moral sexual da Igreja e defendendo os LGBTQIA+. Foi quando ele fundou uma nova seita, na qual prega que o importante é amar, independentemente da forma como a pessoa toca a própria vida ou no que ela crê.

Atualmente, a Humanidade Livre conta com cinco padres. Padre Beto e outro religioso lideram a igreja de Bauru, no Interior de São Paulo, Padre Alessandro em Vicentina e tem mais um líder na capital paulista e outro em Braga, em Portugal. No interior do Mato Grosso do Sul, Padre Alessandro realiza missas semanais e diz que recebia de 50 a 70 fiéis todas as semanas, até o início da pandemia do novo coronavírus. Assim como os outros padres da Humanidade Livre, ele não recebe salário e também não pode cobrar dízimo nas missas. Para se sustentar, ele trabalha em um hospital público da cidade onde mora.